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Alemanha mantém reservas em enviar os Leopard-2

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Alemanha mantém reservas em enviar os Leopard-2

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"São capazes de virar o jogo." Entre o incentivo francês e a resistência alemã, Ucrânia prepara-se para receber tanques modernos do Ocidente

França surpreendeu a enviar primeiros tanques feitos no Ocidente para a Ucrânia. Reino Unido deve seguir exemplo, Alemanha tem reservas. Veículos mais modernos podem ser "fundamentais" para a guerra.

Os alemães Leopard-2. Os ingleses Challenger 2. Os franceses AMX-10 RC. Vários países europeus estão a ponderar fornecer tanques cada vez mais modernos à Ucrânia. E estes não são apenas simples veículos de combate de infantaria; são antes equipamentos pesados, resistentes, capazes de destruir alvos a alguns quilómetros de distância. “Estes tanques são muito importantes. Podem mesmo ser determinantes para a nova contraofensiva da Ucrânia, que deverá começar já em fevereiro”, assegura ao Observador a analista política ucraniana, do think tank Chantam House, Orysia Lutsevych.

O início do novo ano parece ter dissipado as dúvidas e os receios dos líderes europeus, que até então se mostravam reticentes em enviar armamento pesado eficaz e moderno — para evitar uma possível escalada da guerra por parte de Moscovo. E isso acontece, porque, nota Orysia Lutsevych, a Rússia tem agora “pouca capacidade para retaliar” e está “concentrada em manter Soledar e Bakhmut”. No entanto, apesar de ser uma ideia relativamente consensual, nem toda a Europa está totalmente de acordo no que diz respeito ao envio de tanques resistentes e modernos.

“Ranger de dentes do Kremlin ficou mais forte”. Mas há países que ainda não estão convencidos

França, Finlândia, Polónia e Reino Unido fazem parte do lote dos que já se manifestaram a favor do envio de tanques poderosos para a Ucrânia. Celebrando esta “cascata de boas notícias” da primeira semana de 2023, após uma “maratona diplomática” de Volodymyr Zelensky, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dymtro Kuleba, já veio declarar que o “tempo das armas tabu terminou”, atirando que “depois de cada notícia, o ranger de dentes do Kremlin fica cada vez mais forte”.

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epa09950932 Ukraine's Foreign Minister Dmytro Kuleba talks to the press ahead of the second part of a meeting of EU foreign ministers at the European Council, in Brussels, Belgium, 16 May 2022. European Union foreign ministers are discussing current affairs and exchanging views on the Russian aggression against Ukraine and the Global Gateway.  EPA/STEPHANIE LECOCQ
"Houve uma cascata de boas notícias. O tempo das armas tabu acabou"
Dymtro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia

No entanto, nem todos os dirigentes políticos têm tido o mesmo entusiasmo, nem estão dispostos a patrocioná-lo. Os principais entraves vêm de Berlim com o chanceler alemão, Olaf Scholz, a rejeitar enviar os modernos Leopard-2 para a Ucrânia. Esta recusa traz ainda outros problemas, bloqueando a iniciativa de outros países, como a Dinamarca, a Finlândia ou a Polónia. Como explica ao Observador a cientista política alemã e membro do think tank Council on Foreign Relations Liana Fix, o “regime de controlo de exportações alemão” leva a que as autoridades daqueles países não possam “fornecer” os tanques da Alemanha para a Ucrânia. “Precisa do aval alemão — e esse aval ainda não chegou”, vinca a especialista.

Entre uma contraofensiva cujo planeamento está em andamento e a resistência alemã, o quão importante são os tanques de França, o país que deu o pontapé de saída para esta vaga de novo armamento, e os do Reino Unido? Segundo Liana Fix, podem “mesmo virar o jogo” a favor da Ucrânia.

A movimentação francesa que quebrou o gelo (e assusta a Rússia)

“Foi a primeira vez que as Forças Armadas da Ucrânia receberam tanques feitos no Ocidente.” O Palácio do Eliseu puxou pelos galões na nota em que anunciava o envio dos AMX-10 RC, mas constatava uma realidade — até dezembro de 2022, Kiev só tinha recebido veículos de combate de infantaria ocidentais, menos eficazes e resistentes, ou tanques antigos de fabrico soviético (oriundos de países como a Polónia ou a República Checa).

O Presidente ucraniano também reconheceu, no seu discurso diário a 4 de janeiro, que França deu “apoio à defesa europeia a um novo nível”. “Vamos receber mais veículos blindados, em particular tanques ligeiros de fabrico francês”, disse Volodymyr Zelensky, deixando também um recado aos “outros parceiros”. “É um sinal claro de que não há nenhuma razão racional para que a Ucrânia não tenha recebido tanques do Ocidente”, prosseguiu, referindo que este armamento será “muito importante para restaurar a segurança de todos os ucranianos e a paz de toda a Europa”.

German-French Brigade Holds Military Exercises

Os AMX-10 RC que serão entregues por França

Getty Images

Esta movimentação francesa, juntamente com o recado de Zelensky, terá marcado o início da tal “cascata de boas notícias” apontada pelo chefe da diplomacia de Kiev. Na passada segunda-feira, a Sky News avançava que o Reino Unido estaria a ponderar enviar cerca de uma dezena de Challengers 2, o modelo de tanques mais moderno do arsenal britânico, notícia que foi confirmada por Downing Street esta quarta-feira.

No mesmo dia, a Finlândia também se manifestou a favor de enviar os seus Leopard-2 para a Ucrânia. A Polónia fez o mesmo, sendo que o Presidente do país, Andrez Duda, informou Volodymyr Zelensky, numa visita oficial a Lviv, de que estaria disponível a enviar os tanques de fabrico alemão — mas apenas se estiver de acordo com a vontade do que diz ser uma “coligação internacional”. Por outras palavras, Varsóvia e Helsínquia esperam agora pela autorização da Alemanha, país que, de acordo com Liana Fix, está a ser criticado pela alegada “falta de liderança” neste campo.

A Rússia tem estado particularmente atenta a estas movimentações do Ocidente, que beneficiarão a Ucrânia e que, ao que tudo indica, complicarão a vida das suas forças no terreno. Na terça-feira, o vice-presidente do Conselho de Segurança russo e ex-Presidente, Dmitry Medvedev, visitou uma fábrica de tanques, enfatizando que a sua produção e reparação é de “extrema importância”. O responsável apelou mesmo a que o complexo militar-industrial do país trabalhe de forma “mais rápida, persistente e eficaz” face aos “avanços” dos “inimigos”.

Rússia deve agir rapidamente na modernização de tanques face aos avanços dos rivais, alerta Medvedev

O peso da História e o papel de mediador: a recusa alemã em fornecer tanques

Podia ser um sinal de que a Alemanha iria finalmente dar uma luz verde. A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, realizou uma visita oficial na terça-feira a Kharkiv, o oblast que ficou totalmente sob alçada de Kiev num contra-ataque inesperado e eficaz em meados de setembro. A chefe da diplomacia salientou tratar-se de um dos símbolos “das bem-sucedidas contraofensivas ucranianas que provam que a Ucrânia vai vencer com o apoio adequado dos parceiros”.

A ministra alemã assegurou, em Kharkiv, que “a Ucrânia deve saber que pode contar com a solidariedade e apoio” de Berlim — e isso inclui o envio de “novos pacotes de armamento” no futuro. Porém, contrariando as expectativas de alguns dirigentes ucranianos, Annalena Baerbock nunca mencionou a hipótese de a Alemanha enviar os tanques Leopard-2.

Ukraine war - Foreign Minister Baerbock visits eastern Ukraine

Annalena Baerbock em Kharkiv

dpa/picture alliance via Getty I

Era, assim, outro ‘não’ da Alemanha às aspirações da Ucrânia. Na base da contínua rejeição das autoridades alemãs, Liana Fix explica estar o facto de o chanceler alemão ter argumentado até hoje “que nenhum outro país ofereceu os tanques do Ocidente à Ucrânia”. A especialista destaca que Olaf Scholz tem insistido na posição de que a “Alemanha anda sempre pari passu com os seus parceiros”. “Mas isso pode ser visto como uma falta de liderança”, repara a cientista política, acrescentando que o chanceler deixará agora de poder escudar-se nesta posição, uma vez que França “já pisou a linha vermelha da entrega de tanques fabricados no Ocidente”.

Há, no entanto, uma nuance na argumentação de Olaf Scholz. É que os tanques ligeiros franceses AMX-10 RC não são os mais modernos no arsenal de Paris e não são comparáveis aos Leopard-2 (não têm a mesma resistência nem capacidade), sendo mesmo considerados “velhos”, ainda que “eficazes”. Mesmo assim, Liana Fix acredita que o statement de França deverá alterar o posicionamento de Berlim, mesmo que ainda persista o medo nas autoridades alemãs de que isso possa levar a uma “escalada da guerra”. “Deverá ser apenas uma questão de tempo até que o governo alemão concorde em entregar os tanques Leopard-2”, defende a especialista, ainda que ressalve que isso só acontecerá “sob pressão internacional”.

"Deverá ser apenas uma questão de tempo até que o governo alemão concorde em entregar os tanques Leopard-2"
Liana Fix, cientista política alemã e membro do think tank Council on Foreign Relations

Em declarações ao Observador, Łukasz Jasiński, analista político no Instituto Polaco de Assuntos Internacionais, diz concordar com essa leitura: “Apenas a pressão da NATO pode mudar a situação”. Mas o que motiva esta resistência alemã? O especialista explica que existem “vários motivos”, relacionados com a História do país no século XX. “Existem objeções histórico-morais, uma espécie de culpa alemã dirigida à Rússia devido aos crimes da Segunda Guerra Mundial”, refere, acrescentando que prevalece uma “tradição forte de pacifismo” na sociedade germânica, principalmente entre o eleitorado do SPD (o partido no poder, de Olaf Scholz) e o dos Verdes (o partido da MNE Annalena Baerbock).

Na senda da memória histórica alemã e da possível escalada do conflito, Orysia Lutsevych assinala que os alemães evitam tudo o que se possa assemelhar-se às “imagens” da Segunda Guerra Mundial, em que os “tanques alemães lutaram contra os russos”: “É-lhes profundamente perturbador”.

O passado da Alemanha no último século leva a que “grande parte da sociedade alemã e dos eleitores temam que guerra possa escalar”, aponta Łukasz Jasiński. Pela parte da “elite alemã”, a perspetiva é diferente, já que os dirigentes políticos ainda esperam que “a Alemanha possa desempenhar o papel de mediador numas futuras conversações de paz”, para além de almejarem “retomar o diálogo com a Rússia no futuro”. 

epa10355499 German Chancellor Olaf Scholz looks on during a press conference following a meeting of regional state premiers at the Chancellery in Berlin, Germany, 08 December 2022. The German government and state premiers of the regional German countries meet on a regular basis to decide on political issues.  EPA/CLEMENS BILAN

Olaf Scholz não quererá fornecer os Leopard-2 à Ucrânia

CLEMENS BILAN/EPA

Łukasz Jasiński assume que a decisão do chanceler alemão tem motivos eleitoralistas, mas os seus cálculos políticos poderão mudar no futuro. “Olaf Scholz toma muitas das suas decisões baseando-se no que dizem as sondagens. E enquanto que a maioria dos alemães são a favor do apoio à Ucrânia, incluindo do envio de mais armamento, também há uma grande parte contra o envio dos tanques Leopard-2″.

Uma sondagem recente elaborada pelos canais de televisão RTL e ntv corrobora o ponta de vista do especialista polaco. Um total de 55% dos alemães posicionam-se contra o envio de Leopard-2 para a Ucrânia, ao passo que 38% apoiam a decisão. Aliás, a maioria dos inquiridos (53%) que se identificam como sendo do partido de Olaf Scholz discorda que os tanques sejam entregues a Kiev.

A analista política ucraniana do thinktank Chantam House levanta ainda outra questão. Na ótica de Orysia Lutsevych, os políticos alemães “ainda duvidam que a Rússia possa ser derrotada militarmente pelo exército ucraniano, apesar de Kiev ter libertado aproximadamente 50% do território que a Rússia ocupou desde fevereiro de 2022”.

epa09817834 Spanish Army serviceman with their battle tank Leopard (R) during the international military exercise Crystal Arrow 22, organized by Mechanized Infantry Brigade of the Latvian Land Forces in Adazi training ground, Latvia, 11 March 2022. The purpose of the force demonstration is to demonstrate the interoperability of multinational units in various operations and to demonstrate NATO's combat capabilities for the protection of any member of the Alliance. With the conclusion of the Crystal Arrow 2022 exercise, the certification process of the NATO Extended Presence Battlegroup in Latvia is being successfully completed.  EPA/TOMS KALNINS

Tanque alemão Leopard-2

TOMS KALNINS/EPA

França dá tanques leves e o incentivo — mas afasta o mais caro do mundo

Contrariamente às acusações que são feitas à Alemanha, de falta de assertividade, o mesmo não pode ser dito de França. O país respondeu a uma das principais demandas de Kiev — mas apenas parcialmente. É que a Ucrânia já tinha requisitado tanques do Ocidente a Paris, mas não os AMX-10 RC. Em dezembro, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyga, já tinha pedido a Emmanuel Macron que enviasse os tanques Leclerc, o modelo de última geração do arsenal francês e considerado o mais caro no mundo — cada equipamento destes pode chegar aos 9 milhões de euros. 

A ambição maior da Ucrânia foi negada, pelo menos por agora, pelas autoridades francesas. Na origem está, ao que apurou o jornal Político junto a uma fonte oficial do exército, o facto de as Forças Armadas francesas alegarem que aqueles tanques já não estão em fase de produção, o que poderia complicar a sua manutenção e reparo em caso de acidente. Contudo, Paris não afasta a possibilidade de enviar os tão desejados Leclerc — mas apenas para preencher possíveis falhas no terreno, num cenário em que os Leopard já estariam em solo ucraniano.

Mas esta explicação de França não deixa de ser surpreendente, dado que o país está a proceder à modernização dos próprios Leclerc e apenas os planeia substituir em 2040. No fundo, a intenção de França será, na opinião de Orysia Lutsevych, dar um “incentivo” para que outros “países se sucedam na ajuda que oferecem à Ucrânia”.

Draghi, Macron, Scholz and Iohannis Visit Kyiv

Decisão francesa pressiona Scholz para dar os Leopard-2 à Ucrânia

Getty Images

A atitude francesa de assumir o leme no que diz respeito à gestão da guerra na Ucrânia não é inédita, havendo ainda assim uma diferença face ao início do conflito. Nessa altura, França tentava sentar à mesa das negociações a Rússia e a Ucrânia, defendendo que o Ocidente deveria encetar conversações com a Rússia. Aliás, foram várias as declarações que causaram polémica no seio da opinião pública ucraniana e dos países aliados de Kiev — desde o Presidente francês afirmar que o Ocidente “não deve humilhar a Rússia” até ao facto de considerar que Moscovo deve obter “garantias de segurança” num possível tratado de paz.

Parece agora haver uma nova abordagem: os dirigentes franceses veem como cada vez menos provável uma possível negociação e preferem apostar na vitória de Kiev. No discurso de Ano Novo, Emmanuel Macron garantiu ao povo ucraniano que ficará “do seu lado” e não o “desapontará” quer no que concerne à “luta pela independência”, quer no que diz respeito “a uma futura reconstrução do país”. “Vamos ajudar a Ucrânia até à vitória.”

Seguindo os avisos da NATO, os dirigentes franceses acreditam que poderá haver uma “ofensiva russa na primavera”. Para a Ucrânia continuar a resistir e a manter os territórios sob o seu domínio, a opinião de Paris é, segundo Orysia Lutsevych, “que continua a ser imperiosa a ajuda do Ocidente”. Para além disso, como reforça Liana Fix, “França sempre quis ser vista como um país que desempenha um papel de liderança” na gestão da guerra.

"França quer sempre quis ser vista como desempenhando um papel de liderança" na gestão da guerra
Liana Fix, cientista política alemã e membro do think tank Council on Foreign Relations

A pressão polaca e francesa à Alemanha

O empenho de Paris na ajuda ucraniana não se fica pelo campo do armamento, estendendo-se também ao âmbito diplomático. Juntamente com a Polónia, França estará a tentar pressionar Berlim para fornecer os Leopard-2 ou a, pelo menos, dar o aval para que outros países os possam enviar para território ucraniano.

Ao Politico, uma fonte oficial da presidência francesa disse acreditar que a Alemanha acabe por ceder na cimeira franco-alemã marcada para o próximo dia 22 de janeiro. Por sua vez, após uma conversa com Olaf Scholz, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, prometeu, no passado sábado, que haveria novidades para “os próximos dias”, sublinhando, no entanto, que Varsóvia apenas poderá enviar os tanques “se uma coligação de países” estiver de acordo.

“A pressão de França, da Polónia e a de outros países tem como objetivo forçar a Alemanha a agir”, aclara Łukasz Jasiński. Se se vai concretizar, só o futuro dirá, mas os ucranianos não deverão desistir tão cedo do objetivo. “Os Leopard teriam um grande valor para a Ucrânia”, analisa Liana Fix, já que os tanques estão disponíveis “em toda a Europa”. “Muitos países europeus compraram-nos no passado.”

Assim sendo, haveria “munições” suficientes e seria fácil reparar os tanques, visto que ainda estão em fase de produção. “Não há nenhum outro tanque de batalha que esteja tão facilmente disponível e seja tão facilmente entregue”, reforça a cientista política alemã, reiterando que tudo está dependente da autorização de Berlim.

O analista político no Instituto Polaco de Assuntos Internacionais sinaliza ainda que, por detrás desta insistência de Varsóvia e de outros países do Norte, Centro e do Leste Europeu (como a República Checa, a Finlândia ou os países bálticos), estão motivos geopolíticos. “Para alguns Estados, a política neo-imperialista de Putin é a maior ameaça para a União Europeia e para a NATO. Por conseguinte, tudo deve ser feito para que os ucranianos consigam voltar a controlar todo o seu território e também para enfraquecer a Rússia. Isso apenas será possível com mais armas e veículos blindados, incluindo os tanques Leopard-2″, explica Łukasz Jasiński.

O Reino Unido: o aliado de sempre da Ucrânia

França e Alemanha sempre manifestaram uma atitude de condenação, mas que abria sempre uma hipótese de diálogo com a Rússia. Desde que a guerra começou, Emmanuel Macron e Olaf Scholz falaram várias vezes ao telefone com Vladimir Putin e sempre o incentivaram a encetar negociações com Volodymyr Zelensky. Em sentido inverso, o Reino Unido sempre usou uma retórica mais dura com o Kremlin e raras foram as comunicações entre Londres e Moscovo.

A par com os Estados Unidos, o Reino Unido é apontado com um dos países do Ocidente que mais ajudou a Ucrânia, principalmente durante o mandato de Boris Johnson (o que continuou com Rishi Sunak). Após o anúncio francês e a pressão feita à Alemanha, o primeiro-ministro britânico reagiu e pondera agora enviar para solo ucraniano os Challenger-2, um tanque que representa “a última geração da tecnologia militar” e que, diz, ajudará a Ucrânia “a ganhar a guerra”.

The Royal Tank Regiment Regimental Parade

Tanque britânico Challenger-2

Getty Images

Em termos de eficácia e resistência, os Challenger-2 são equivalentes aos franceses Leclerc, ou aos alemães Leopard-2. Fonte do gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido considera mesmo que estes tanques podem virar definitivamente o jogo para o lado ucraniano.

Caso o Reino Unido cumpra com o envio dos Challenger-2 para a Ucrânia, isso poderá ainda ser o “sinal” definitivo para a Alemanha agir. “Se o Reino Unido avançar — e se tornar o primeiro país do Ocidente a enviar tanques modernos –, deixa de haver desculpa para que a Alemanha não siga os mesmos passos com os Leopard-2”, sublinha Liana Fix.

O papel dos tanques que podem “virar o jogo” no terreno

Até esta fase da guerra, a Ucrânia tem usado tanques da era soviética, sejam seus, sejam dos seus aliados, sejam mesmo da Rússia (tendo em conta que, após a saída à pressa de várias localidades ucranianas, as forças russas deixaram para trás parte do seu equipamento). E contam com a ajuda dos aliados, uma vez que estes financiam e fornecem o know-how para que Kiev consiga recuperar e modernizar estes equipamentos.

Por agora, os tanques soviéticos têm servido para recuperar algum território. Mas, com a nova contraofensiva que está a ser planeada e com as aspirações ucranianas de voltar a controlar todo o território (incluindo a Crimeia), é necessário mais. “A Ucrânia vai precisar de tanques como os Leopard-2 se quiser avançar com uma contraofensiva na primavera”, realça Liana Fix.

Bastante idênticos entre si, os Leopard-2 e os Challenger-2 podem mesmo mudar a configuração das forças no terreno e ajudar a “virar o jogo”. “Dão à Ucrânia mais força e competitividade e permitem que as forças ucranianas possuam capacidade de resposta para combater os tanques russos mais modernos”, completa a cientista política alemã.

[Na caixa em baixo pode ver as diferenças entre os Leopard-2 e os Challenger-2]

Challenger-2 vs. Leopard-2

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Challenger-2

Tamanho: 11,55 metros
Peso: 62,5 toneladas
Velocidade: 59,55 quilómetros por hora
Ocupação: 4 pessoas
Munição que pode ser armazenada: 50
Preço: cerca de 3,3 milhões de euros

Leopard-2

Tamanho: 9,97 metros
Peso: 62 toneladas
Velocidade: 72,42 quilómetros por hora
Ocupação: 4 pessoas
Munição que pode ser armazenada: 42
Preço: cerca de 3,5 milhões de euros

No terreno, tanques como os alemães e os britânicos revestem-se, por isso, de uma “elevada importância”. “Podem apoiar as forças ucranianas a manter as suas posições estáticas”, acrescenta Orysia Lutsevych, que também destaca que os veículos serão fundamentais para uma contraofensiva no sul (em cidades com Melitopol ou Mariupol). A parte mais meridional do território ucraniano é constituída essencialmente por planícies, o que faz com que “este tipo de equipamentos sejam fundamentais para garantir velocidade e causar danos às posições defensivas russas”.

As vantagens em termos militares são inequívocas, mas a manutenção e as munições destes tanques representam um custo elevado. Os Challenger-2 e os Leopard-2 usam ambos munições de 120mm — cada uma pode chegar a custar cinco mil euros.

The Royal Tank Regiment Regimental Parade Leopard 2

Os Challenger-2 (à esquerda) e os Leopard-2 (à direita)

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Menos dispendiosos, ainda que também muito úteis, são os tanques leves, como aqueles que França já anunciou que vai enviar (os AMX-10 RC). Apesar de serem “um pouco velhos”, são “móveis” e atingem uma velocidade que pode chegar aos 85 quilómetros por hora. Na ótica de Liana Fix, estes equipamentos “concedem proteção à infantaria” e são “eficazes contra os antigos tanques de combate soviéticos”.

O envio de tanques modernos feitos no Ocidente deverá ajudar a Ucrânia no campo de batalha, preparando as suas forças para uma possível ofensiva russa. Mas só o futuro dirá com quantos é que Kiev vai contar no campo de batalha — e de que partes da Europa é que serão enviados.

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