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Netanyahu Holds Post-Election Event
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Netanyahu tinha na campanha de vacinação o seu principal trunfo, mas não foi suficiente para convencer a maioria dos israelitas

Getty Images

Netanyahu tinha na campanha de vacinação o seu principal trunfo, mas não foi suficiente para convencer a maioria dos israelitas

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Sucesso na vacinação não chegou para coroar Netanyahu. Impasse político pode continuar em Israel

Netanyahu esperava que imagens de um país a regressar ao normal fossem suficientes para chegar à maioria, mas eleitores não ficaram convencidos. Impasse político pode continuar em Israel.

Os israelitas estão em suspenso à espera da divulgação dos resultados finais das eleições legislativas da passada terça-feira, estando em jogo não só o futuro do país, mas também do homem que governou Israel nos últimos 12 anos e que enfrenta acusações de corrupção na justiça, motivo pelo qual, dizem os críticos, quer continuar no governo a todo o custo.

Quando saíram as primeiras projeções na noite eleitoral, Benjamin Netanyahu, 71 anos, viu motivos para sorrir perante a possibilidade de, ao fim de quatro eleições em apenas dois anos, finalmente conseguir a tão ambicionada maioria absoluta, contando com o apoio de partidos ultra-religiosos (Shas e Judaísmo Unido da Torá) e também de extremistas como o Sionismo Religioso (que entra pela primeira vez no parlamento) e do Yamani, do seu antigo ministro da Defesa, Naftali Bennett.

No entanto, à medida que as horas foram passando e os votos contados (na manhã desta quarta-feira, estavam contabilizados 87% dos boletins), o cenário complicou-se e a maioria de 61 deputados no Knesset (parlamento israelita) está em risco, apesar de dificilmente o bloco anti-Netanyahu, que junta partidos de todas as áreas políticas, ter possibilidade de formar um governo estável.

Com 88% dos votos contados, impasse político ganha força em Israel

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“Ao contrário das eleições anteriores, que foram basicamente esquerda contra direita, agora tivemos uma divisão entre os partidos que querem que Netanyahu continue e os que não querem”, sublinha ao Observador Gadi Wolfsfeld, professor de Comunicação e de Ciência Política no Centro Interdisciplinar de Herzliya.

Até que todos os votos sejam contados — o que só deve acontecer na sexta-feira — todos os cenários estão em cima da mesa, e adivinham-se intensas negociações entre as várias fações políticas, além de jogadas nos bastidores que permitam desbloquear a crise política.

Mas, apesar da imprevisibilidade quanto ao resultado final, já é possível concluir que uma vitória esmagadora de Netanyahu não se consumou, algo que, visto de fora, pode até parecer estranho, tendo em conta que Israel é elogiado internacionalmente pelo sucesso na sua campanha de vacinação, numa altura em que a economia do país começou a reabrir e nas ruas celebra-se o que parece um regresso à vida normal.

Sucesso na vacinação travou críticas, mas chegou para perdoar

Desde que a campanha de vacinação começou no país, em dezembro do ano passado, cerca de metade dos nove milhões de israelitas já receberam as duas doses da vacina, e, em três meses, 80% da população adulta do país foi vacinada, um feito que levou Netanyahu, durante a campanha eleitoral, a dizer que Israel é a “nação da vacina” e os israelitas os “campeões mundiais a lidar com o coronavírus”.

"As pessoas estavam zangadas com Netanyahu, mas o sucesso na vacinação veio equilibrar as coisas e até pode pender a seu favor”
Gideon Rahat, professor de Ciência Política da Universidade Hebraica de Jerusalém

O chefe do governo israelita reivindica para si os louros do sucesso na vacinação, possível sobretudo graças a um acordo estabelecido entre Netanyahu e o CEO da Pfizer, Albert Bourla, filho de sobreviventes do Holocausto, que permitiu que Israel recebesse milhões de doses de vacinas.

Bares abertos, lojas cheias e abraços. Os testemunhos da nova vida dos vacinados em Israel

Em troca desse acesso contínuo e rápido às doses da Pfizer, o governo israelita forneceu os dados demográficos dos seus doentes à farmacêutica, que os tem utilizado para realizar estudos sobre a eficácia da vacina — um deles, publicado no final de fevereiro no New England Journal of Medicine, concluiu que a vacina tem uma eficácia de 94%.

O sucesso na vacinação, tal como a normalização das relações diplomáticas com o Bahrain e os Emirados Árabes Unidos, era um dos trunfos que Netanyahu tinha na manga para estas eleições, esperando que, com metade da população vacinada e com a consequente reabertura de bares e lojas, a imagem de um país a regressar à normalidade fosse suficiente para conseguir o a confiança dos israelitas.

No entanto, apesar de a campanha de vacinação poder ter beneficiado o primeiro-ministro israelita, tal não parece ter sido suficiente para, por si só, garantir uma vitória confortável ao Likud.

ISRAEL-VOTE

Benjamin Netanyahu disse que Israel é a "nação da vacina" e congratula-se com o sucesso na campanha de vacinação

POOL/AFP via Getty Images

“Netanyahu pode ter beneficiado com a campanha de vacinação, mas as pessoas também se lembram que, antes das vacinas, houve confinamentos gerais quando podia ter havido apenas confinamentos a nível local nas áreas com elevadas taxas de infeção, como é o caso das comunidades ultra-ortodoxas”, sublinha ao Observador Jonathan Rynhold, professor de Ciência Política da Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv.

Como consequência, continua o analista, “muitos pequenos comerciantes tiveram de fechar os seus negócios”, e esse ressentimento em relação a Netanyahu pode ter levado a que muitos destes eleitores tenham optado por votar noutros partidos, como o Nova Esperança, de Gideon Saar, ou no Yesh Atid, de Yair Lapid, que durante a campanha eleitoral teceram fortes críticas à gestão da pandemia de Netanyahu durante o último ano.

O primeiro-ministro israelita foi acusado pelos seus opositores de tomar decisões erradas, como reaberturas demasiado rápidas, que levaram a três confinamentos gerais, com grande impacto na economia do país, e de agir em função dos seus interesses pessoais, nomeadamente ao fechar os olhos à violação do confinamento nas comunidades ultra-ortodoxas, de forma a garantir a lealdade dos partidos religiosos da sua coligação.

Além disso, Netanyahu tem sido criticado por excluir os palestinianos da campanha de vacinação, com a organizações de defesa dos direitos humanos e a comunidade internacional a apelarem à responsabilidade do Estado hebraico enquanto potência ocupante nos territórios palestinianos.

Em Israel, faz-se a festa (como se fosse 2019) e brinda-se “à vida e à Pfizer”

Contudo, a questão palestiniana assumiu pouca importância internamente durante a campanha eleitoral, e com o sucesso na vacinação entre os israelitas, o país começou a reabrir e o clima de festa que se vive em muitas cidades israelitas poderá ter beneficiado Netanyahu, ou, pelo menos, ajudado a mitigar as duras críticas feitas ao seu governo nos últimos meses.

“O sucesso na vacinação neutralizou algumas alegações de que a sua política não foi muito boa. As pessoas estavam zangadas com Netanyahu, mas o sucesso na vacinação veio equilibrar as coisas”, afirma Gideon Rahat, professor de Ciência Política da Universidade Hebraica de Jerusalém e analista do Israel Democracy Institute.

Democracia em risco se Netanyahu continuar no poder?

As manifestações do último fim de semana contra o primeiro-ministro israelita, em que, segundo os media israelitas, participaram mais de 20 mil pessoas — um recorde de participação este ano —, são um dos exemplos que mostram que a rápida vacinação em Israel não foi suficiente para unir o país em torno de Netanyahu.

Os protestos, aliás, têm sido recorrentes desde junho do ano passado e os manifestantes exigem que Netanyahu, o primeiro chefe de governo em funções na história israelita a ser julgado por corrupção, abandone o poder. No entanto, o primeiro-ministro israelita, que volta ao a tribunal no próximo mês de abril no âmbito das três acusações (suborno, corrupção e abuso de confiança) de que é alvo, faz questão de não sair de cena e os críticos, tal como alguns analistas, não têm dúvidas do porquê: é a partir do cargo de primeiro-ministro que Netanyahu tem mais condições para se defender dos processos em que está envolvido.

Israel. Milhares manifestam-se contra Netanyahu a três dias das legislativas

“Enquanto primeiro-ministro, Netanyahu pode fazer alterações na lei, pode ganhar tempo, talvez até pressionar os procuradores e os tribunais. Ele é uma pessoa que luta pelo seu futuro e que pode usar todos os meios ao seu dispor para garantir que não é julgado e condenado”, afirma o politólogo Gideon Rahat.

“Estamos à beira de uma democracia iliberal. É uma possibilidade bastante assustadora, mas não é irrealista, tendo em conta o que está a passar"
Gadi Wolfsfeld, professor de Comunicação e de Ciência Política no Centro Interdisciplinar de Herzliya

Convocar eleições até que o resultado lhe permita ter uma maioria estável para continuar no poder tem sido a estratégia de Netanyahu, e os críticos temem que, caso consiga essa maioria, a separação de poderes e a própria democracia fiquem em risco — um estudo apresentado pelo Israel Democracy Institute em janeiro concluiu que 57% dos israelitas consideram que a democracia está em perigo no país.

Israelis Head To The Polls For Fourth Election In Two Years

Com a queda de Benny Gantz, Yair Lapid, líder do partido de centro Yesh Atid, tornou-se no principal adversário de Netanyahu

Getty Images

“Caso consiga os 61 lugares [no Knesset], existe o cenário em que Netanyahy despede o procurador-geral [Avichai Mandelblit] de forma a parar o seu julgamento. Não é certo que todos os seus parceiros o aceitem, mas é uma possibilidade”, adianta ao Observador Gadi Wolfsfeld, professor de Comunicação e de Ciência Política no Centro Interdisciplinar de Herzliya.

Netanyahu reclama inocência na retoma do seu julgamento por corrupção

“O maior receio é sobre o que vai acontecer ao sistema judicial e à sua independência”, alerta o analista. “Estamos à beira de uma democracia iliberal. É uma possibilidade bastante assustadora, mas não é irrealista, tendo em conta o que está a passar.”

Ou seja, como escreveu na véspera das eleições o veterano jornalista e editor fundador do Times of Israel David Horowitz, caso Netanyahu consiga a tão ambicionada maioria, existe o risco de que a “separação de poderes, o equilíbrio da responsabilidade entre o sistema judiciário, legislativo e o governo, seja recalibrada”, e que o sistema de “freios e contrapesos seja enfraquecido por um primeiro-ministro com o maior interesse pessoal em enfraquecer os tribunais”.

Impasse político iminente

Ciente de que, para lidar com as acusações de corrupção, o melhor lugar para estar neste momento é a liderar o executivo, Netanyahu poderá não descartar a hipótese de, em caso de impasse político, forçar os israelitas a irem novamente às urnas nos próximos meses.

“Novas eleições não são a pior opção para Netanyahu, porque isso permite-lhe ganhar tempo. A pior opção é ir para a oposição”, sublinha o analista Gideon Rahat. “Netanyahu não quer ir para a prisão, por isso vai tentar salvar-se”, reitera o politólogo.

“Netanyahu não quer saber quem está no governo, desde que continue como primeiro-ministro”
Jonathan Rynhold, professor de Ciência Política da Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv

Enquanto os votos são contados e se aguarda com expectativa o resultado final das eleições, os partidos políticos começam a fazer contas, e nos próximos dias (ou semanas) adivinham-se intensas negociações para a formação de um novo executivo.

Parlamento israelita volta a ser dissolvido. Quartas eleições em dois anos marcadas para março

Antes das eleições, Netanyahu definiu como objetivo conseguir formar um governo de direita, e pelas suas contas, além dos partidos ultra-ortodoxos Shas e Judaísmo da Torá Unido, conta agora com o partido Sionismo Religioso, de extrema-direita, com ligações ao movimento extremista judaico, que defende a expulsão de árabes do Estado hebraico e anexação total da Cisjordânia, além das suas posições contra a comunidade LGBT ou contra o papel das mulheres na política.

“Netanyahu não quer saber quem está no governo, desde que continue como primeiro-ministro”, realça o politólogo Jonathan Rynhold, da Universidade Bar-Ilan.

Netanyahu só voltará a tribunal após eleições de 23 de março

No outro bloco, que junta desde partidos de esquerda a partidos de direita nacionalista, passando por partidos árabes, a formação de um executivo revela-se ainda mais difícil, tendo em conta as divergências entre as várias formações políticas que, em comum, têm pouco mais do que o desejo de afastar Netanyahu do poder.

ISRAEL-VOTE

Futuro do próximo governo pode estar nas mãos de Naftali Bennett, líder do Yamina

AFP via Getty Images

A chave para desbloquear o impasse político poderá estar nas mãos do ex-ministro da Defesa de Netanyahu, Naftali Bennett, que lidera o Yamina, um partido de extrema-direita. Durante a campanha eleitoral, Bennett deixou claro que o seu objetivo é chegar a primeiro-ministro, apesar de não descartar a possibilidade de vir a aceitar um acordo para integrar um executivo chefiado pelo Likud, ao mesmo tempo que tem afastado acordos com Yair Lapid, apesar de esta não ser uma hipótese totalmente impossível.

Tudo dependerá, dizem os analistas, das concessões e promessas que Netanyahu esteja disposto a fazer, e também das ambições de Bennett, que no passado criticou vincadamente o primeiro-ministo israelita, acusando-o, por exemplo, de não ser suficientemente ambicioso na anexação da Cisjordânia ocupada.

Nestas contas entra também o partido árabe Ra’am, de Mansour Abbas, que, ao contrário das projeções iniciais, parece ter garantido a entrada no Knesset, elegendo cinco deputados. Nestas eleições, o Ra’am não integrou a Lista Conjunta (uma coligação de partidos árabes) e o seu líder admite fazer acordos com Netanyahu em troca de medidas que beneficiem a comunidade árabe israelita.

Para conseguir a maioria, Netanyahu está num autêntico labirinto, onde terá de fazer concessões a formações políticas muito distintas. Ao mesmo tempo, está em contagem decrescente até novembro quando, se não houver governo nem forem convocadas novas eleições, Benny Gantz assume a pasta de primeiro-ministro no âmbito do acordo entre os antigos parceiros de coligação.

“Netanyahu já esteve em situações difíceis antes e conseguiu ultrapassá-las”, realça o analista Gadi Wolfsfeld, antevendo dias de intensas e imprevisíveis jogadas políticas de um primeiro-ministro que, ao longo dos anos, ficou conhecido como “mágico” pelas soluções que encontrou para situações vistas como impossíveis.

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