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Tiago Couto/Observador

Tiago Couto/Observador

Testámos dois smartwatches para saber se já podemos largar os relógios tradicionais

O velho contra o novo. O analógico contra o digital. Experimentámos dois smartwaches, o Samsung Galaxy Watch e o Huawei WatchGT, para perceber se esta tecnologia já substitui os relógios tradicionais.

Já podemos deixar os relógios tradicionais e começar a utilizar smarwatches? Durante o início do ano experimentámos dois relógios inteligentes para responder a esta questão. Percebendo à partida que todos estes wearables de pulso — tecnologia que se veste — são principalmente um complemento para smartphones, olhámos para as marcas líderes de telemóveis no mercado: Samsung, Huawei e a Apple (por esta ordem). Vimos outros equipamentos, Fossil ou Garmin, por exemplo, mas optámos pelos que têm mais visibilidade neste segmento em Portugal. Desta vez, não saltámos de uma ponte para ver se funcionavam. Apesar das surpresas, ainda andamos com um relógio tradicional no pulso. Já explicamos porquê.

Quando abordámos as marcas, perguntámos: qual é o relógio inteligente topo de gama que têm para mostrar o que um smartwatch pode fazer? A Samsung emprestou-nos um Galaxy Watch de 46mm (na altura, o Galaxy Sport ainda não estava disponível, mas, mesmo assim, o Watch de 46 mm continua a ser o topo de gama). A Huawei emprestou-nos um Watch Gt (entretanto já saiu um modelo superior, mas não está à venda em Portugal). Já a Apple, mesmo através de empréstimo por retalhistas, não autorizou qualquer cedência de um Apple Watch Series 4 para testarmos. O teste ficou então reduzido às outras duas marcas.

Huawei Watch GT vs Samsung Galaxy Watch. Quem ganha?

Ganha o Galaxy Watch, e por uma grande margem. O smartwatch da Samsung não venceu em todos os pontos. Na duração da bateria e no preço, o Huawei é cativante. Contudo, a diferença no valor e energia do Galaxy Watch vem acompanhada de inúmeras funcionalidades extra aliadas a um design que faz deste relógio o mais cativante do mercado. O teste com os dois relógios durou quase dois meses, nos quais fomos alternando a utilização dos smartwatches e o dispositivo com que os experimentávamos (um Huawei Mate 20 Pro e o novíssimo Galaxy S10+).

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[Veja na fotogaleria mais informações e funcionalidades sobre os smartwatches que experimentámos] 

15 fotos

Tanto o Watch GT como o Galaxy Watch são smartwatches que substituem os relógios tradicionais, oferecendo mais funcionalidades ao utilizador. Quais? Ver no pequeno visor notificações (as push notifications), ler resumos de mensagens, e-mails e outras informações que aparecem no topo do smartphone. No caso do Galaxy Watch, há mais opções, como utilizar o relógio para atender chamadas, tal como James Bond (o dispositivo tem microfone e uma pequena coluna). Além disso, estes equipamentos são um grande auxiliar para vários desportos (de corrida a ciclismo), medindo os batimentos cardíacos, contando o número de passos e o esforço físico feito diariamente. Em suma, trazem para a vida real os contadores de informação que alguns videojogos têm para sabermos o progresso das feito personagens.

Na missão que consiste em dar mais informação ao utilizador, o Watch GT perde. Mesmo tendo um ecrã tátil de 1,39 polegadas (o do Galaxy Watch é mais pequeno, com 1,3) e de, na caixa, ter uma bracelete em pele mais apelativa (a de origem do Watch é de borracha, com um look mais desportivo), no fim, não é tão bom. Em comparação com o aparelho da Samsung, parece apenas um simples relógio digital apetrechado com mais funcionalidades que pouco têm de smart.

O WatchGT, mesmo sendo menos inteligente, conta os passos do utilizador, mostra a maioria das notificações que surgem no smartphone e tem uma bateria para duas semanas. Contudo, e por estar aliado a um sistema operativo próprio da Huawei para este tipo de relógios, perde muitas funcionalidades. Não dá para instalar aplicações extra como no Galaxy, a conectividade com o iPhone não permitiu ler todas as mensagens e a Huawei tem um longo caminho a percorrer para melhorar este software. Um dos exemplos disso foi, durante o teste, nem termos conseguimos desativar a vibração do relógio consoante as notificações. Já como medidor de batimentos cardíacos e resposta geral do sistema, não podemos fazer críticas. Mas fica a chamada de atenção: estes relógios fazem o que outras pulseiras inteligentes — as smartbands — fazem de forma mais barata (sim, mas sem o look de um relógio).

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Quanto ao Galaxy Watch, apesar de ser o claro vencedor e, atualmente, o smartwatch mais interessante no mercado, tem defeitos. Para quem procura um relógio inteligente, vai preencher quase todas as medidas, mas também é exemplo do que é preciso melhorar nestes dispositivos. O dispositivo da Samsung tem bateria para cerca três dias, ecrã tátil e utiliza a roda giratória de alguns relógios tradicionais como controlador do menu. Até em comparação com o mais popular Apple Watch que tem mais funcionalidades do que o Watch GT, a Samsung consegue ter o aparelho com melhor visual e que dá mais opções ao utilizador.

[Veja no GIF os principais controlos do Galaxy Watch com o visor nativo com números digitais e informação meteorológica]

Apesar de o relógio da Samsung ser uma opção clara para quem quer um smartwatch para auxiliar a prática de exercício físico, para quem é mais sedentário o sistema tem de melhorar. Este equipamento deixa instalar várias aplicações e permite até ler e-mails. Contudo, mesmo para chamadas ou responder a mensagens no WhatsApp, o dispositivo tem limitações, como têm outros smartwatches. Não são um espelho do que está no smartphone, mas sim um complemento para não se ter de pegar tanto neste. Guardar músicas ou outros ficheiros neste relógio é um pouco demorado, porque só funciona sem fios (não há cabos) e, quando se quer levar o dispositivo apenas para uma corrida, a sincronização com auriculares bluetooth não é fluida.

Tanto o Galaxy Watch como o Watch Gt têm mostradores com ponteiros digitais que têm uma aparência semelhantes à dos relógios tradicionais, evitando ter mais mostradores com números. Nos dois equipamentos, só encontrámos num dos inúmeros visores coisas simples como querer que, no mostrador principal das horas, apareça também a informação do tempo com horas numéricas.

[Veja no GIF os principais controlos do Huawei Watch GT]

As vantagens de um smartwatch

Um smartwatch tem várias vantagens. Já referimos a contabilização do exercício físico para os mais desportistas, mas há mais. Não ter de tirar o smartphone do bolso para ler as notificações em tempo real é outra. Tratando-se de equipamentos feitos por empresas tecnológicas, há melhorias físicas em relação aos relógios tradicionais: as braceletes disponíveis, por norma, têm uma peça própria para as mudar facilmente, sem precisar de ir a um relojoeiro, e a maioria das pulseiras de relógios tradicionais funcionam também com smartwatches.

O Galaxy Watch, por exemplo, utiliza o sistema operativo para smartwatches Tyzen, que neste momento é dos mais avançados — há também o Watch OS, da Apple, ou o menos utilizado WearOS, da Google, entre outros. Devido a este software, pode ter várias aplicações no pulso, da calculadora a pequenos jogos. Poder olhar para o relógio em vez de olhar para um smartphone para responder rapidamente a uma mensagem ou ler as últimas notícias no pulso é uma grande mais valia.

Como são equipamentos digitais, mesmo sem mudar a pulseira, é possível mudar a face do relógio todos os dias. Existem visores dos mais formais aos mais desportivos. Contudo, estes dispositivos podiam ter mais opções nativas que não nos obrigassem a fazer download de outras. Além disso, e quando comparados a smartbands, o visual destes relógios é discreto e formal o suficiente para poder substituir um relógio tradicional na maioria das situações (seja no trabalho ou num casamento).

Os smartwatches apostam maioritariamente em visores digitais com ponteiros a imitar os relógios tradicionais (TIAGO COUTO/OBSERVADOR)

Tiago Couto/Observador

As desvantagens de um smartwatch

Mesmo o Watch GT, que tem uma bateria com capacidade para 15 dias, tem de ser carregado mais vezes do que outros relógios. Um modelo tradicional ou é de corda ou utiliza pilhas, sendo que esta última opção dura até dois a três anos, dando o exemplo de um Swatch. Quem tiver smartwatches tem também a preocupação de andar com mais um carregador.

Outra das desvantagens destes equipamentos são os sistemas operativos. Até o WearOS, da Google, responsável pelo Android, ainda não tem muitas aplicações nativas, principalmente pensadas para o mercado português. No caso do Tyzen, da Samsung, já há apps, como o MBWay, que mostram o que estes smartwatches podem conseguir (pagar a comida no supermercado com um relógio fez-nos sentir que vivemos no futuro).

Estes equipamentos são um complemento aos smartphones, sendo sempre preciso andar com eles atrás (ainda não há à venda em Portugal versões com cartões SIM próprios). Como precisam de estar ligados por Bluetooth para terem acesso à maioria das vantagens, o consumo de energia no smartphone vai ser maior. Mesmo com o topo de gama da Samsung S10+, gastou-se cerca de mais de 17% de bateria com o relógio ligado durante um dia, em comparação com o que consumimos sem estarmos a utilizá-lo.

Quanto às aplicações, os equipamentos mostraram as notificações e, no caso da Samsung, até permitiu responder a emails e ver respostas do WhatsApp. No entanto, os equipamentos só guardam a informação das mensagens de notificações que recebem ou da qual há app própria para o relógio. Por exemplo, no caso de uma notificação do Observador, como não há app para Tyzen, ao carregar, este pergunta ao utilizador se quer abrir a aplicação no telemóvel. Como estes smartwatches ainda não são tão utilizados como os telemóveis — e há opções mais baratas como as smartbands, que oferecem muitas funções que estes têm –, os sistemas operativos não têm todas as apps. Quando têm, há bugs que não são resolvidos tão rapidamente como nas aplicações nos smartphones.

Como ainda não há sistema operativos como nos smartphones, há marcam que criam sistemas próprios fechados (TIAGO COUTO/OBSERVADOR)

Tiago Couto/Observador

Mas então, já vale a pena comprar um smartwatch?

Depende. Se for para ser um auxiliar de desporto e uma smartband não preencher as medidas, a resposta fica bastante fácil: havendo capital, vale a pena comprar. Agora, para quem não é fã de desporto ou de contabilizar cada passo que dá, as smartbands podem ser uma solução mais económica e igualmente válida, se o objetivo é o de apenas ver as notificações de mensagens. De todos os smartwatches, atualmente, em qualidade e preço, a Samsung é a empresa com as melhores propostas, mas ainda com um preço de cerca de 200 euros para os modelos com a maioria das opções e com bastante a melhorar a nível de software.

Samsung Galaxy Watch (46mm)

Mostrar Esconder

Resistente à água até 50 metros

Ecrã Super AMOLED de 1,3 polegadas

4Gb de memória interna e 768Mb de memória RAM

Bateria até 72 horas (carregamento sem fios)

Preço: 320 euros

 

Por fim, deixamos aquela que pode ser a maior desvantagem nestes equipamentos e um ponto importante a ter em conta quando pensar em comprar um smartwatch: a obsolescência, ou seja, naturalmente estes relógios ficam desatualizados com o tempo. Mesmo o mais barato dos smartwatches que analisámos custa cerca de 230 euros. Por este valor, há relógios tradicionais bastante cativantes que, daqui a 10 ou 20 anos, vão continuar a ser um relógio prático e eficaz — e sem necessidade de atualizações de software ou troca de baterias. Ao ritmo a que a tecnologia evolui, cada equipamento fica rapidamente ultrapassado. Apesar de poder continuar a funcionar, a tendência é que não continue a ter a mesma fiabilidade que tinha no momento da compra. Exemplo disto é o caso deste comparativo: por dois meses até à publicação deste artigo, as marcas que analisámos lançaram novas versões destes equipamentos, que foram lançados no ano passado.

Huawei Watch GT

Mostrar Esconder

Resistente à água até 50 metros

Ecrã SOLED de 1,39 polegadas

128Mb de memória interna e 16Mb de memória RAM

Bateria até duas semanas (carregamento por carregador próprio)

Preço: 220 euros

Veredicto final. Já vivemos num mundo de smartwatches, mas não de telefones de pulso

Segundo a Gartner, as vendas de smartwatches vão continuar a subir até 2022. Com este crescimento, as queixas quanto ao software devem decrescer e a concorrência pode trazer produtos até mais inovadores para o mercado. Para já, os smartwatches que existem são complementos de informação aos smartphones com que andamos no bolso ou na carteira e bons auxiliares desportivos. Têm vários looks, há várias marcas a fazê-lo e a Samsung e a Apple estão na vanguarda dos sistemas operativos, mas com melhorias a fazer. No futuro, podemos ver mais empresas de relógios tradicionais, como o grupo suíço Swatch (que detém a marca com o mesmo nome e outras como a Omega e a Tissot), a entrar neste mercado de relógios inteligentes. Até lá, o que temos é uma tecnologia que está quase lá, mas que nos faz manter ainda no pulso o relógio tradicional que já tínhamos há 10 anos.

*Os equipamentos foram disponibilizados ao Observador pela Samsung e Huawei para efeitos de análise

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