A propagação do novo coronavírus continua galopante, os números preocupantes continuam a crescer, mas, ao mesmo tempo, a corrida em busca de uma cura vai-se fazendo a um ritmo tão ou mais acelerado. Neste momento, são vários os testes a eventuais vacinas que estão a decorrer.
A partir do momento em que investigadores chineses conseguiram sequenciar o código genético deste SARS-CoV-2, em fevereiro, essa informação foi distribuída pelo mundo inteiro e é com base nisso que os esforços internacionais para descobrir vacinas têm surgido. Na última semana, por exemplo, investigadores australianos também conseguiram um avanço importante, ao descobrirem, passo por passo, como é que o sistema imunológico dos humanos combate a Covid-19, informação essencial para o processo de desenvolvimento de uma eventual cura.
Mesmo assim, apesar da velocidade com que se têm alcançado vitórias importantes no caminho rumo a uma vacina, é quase unânime entre a comunidade científica que ainda vai demorar algum tempo até se alcançar uma cura generalizada e disponível à grande maioria da população mundial. Anthony Fauci, médico do National Institutes of Health dos EUA, disse à AFP ser quase impossível ter uma vacina disponível “em 12 ou 18 meses”. Annelies Wilder-Smith, professora na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, é da mesma opinião: “À semelhança da grande maioria dos virologistas, não acredito que esta vacina fique pronta em menos de 18 meses”, contou ao The Guardian. Mesmo esse cenário já seria muito positivo.
Ao Observador, também o virologista Ricardo Parreira, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, confirmou que podem passar-se anos até que uma vacina contra a Covid-19 possa estar disponível para tratar os doentes ou prevenir a doença: “Antes de estar no mercado, é preciso estudar a segurança daquela vacina e a sua capacidade de provocar uma resposta imune num ser vivo”.
Isso traz um problema adicional. Para testar uma vacina em humanos, numa fase mais avançada dos ensaios, é preciso injetá-la numa pessoa infetada, colocá-la num sítio onde o vírus esteja em circulação e esperar para ver se aquele medicamento provoca uma resposta imune. Mas é possível que o surto seja contido e desapareça quase completamente, deixando de estar em circulação. Sem uma população em que a vacina possa ser testada, a investigação estagna.
Isto não significa que não se deva continuar a estudar estas soluções. Apesar de tudo, já existem avanços consideráveis na batalha contra esta pandemia que não parece querer parar de progredir. E os cientistas estão empenhados em prossegui-los, até porque não se sabe de onde veio este novo coronavírus. E, portanto, não se sabe se regressará, mesmo que seja contido por enquanto.
Neste momento, as grandes esperanças depositam-se em dois sentidos; num protocolo de tratamento com mais de 70 anos; e numa tecnologia de ponta que, seguramente, estará na base de uma futura vacina.
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Para tratar a malária… e o Covid-19
Um dos avanços mais recentes no tratamento da Covid-19 é um anti-malárico que existe há mais de 70 anos. A cloroquina. O Le Monde conta que, neste momento, na China, ainda estão a decorrer cerca de vinte ensaios clínicos que exploram a eficácia deste medicamento ou de um seu semelhante, a hidroxicloroquina, em pacientes infetados com o SARS-CoV-2. Mesmo assim, os resultados já parecem animadores, de tal forma que, tanto na China como no Irão, Coreia do Sul e Arábia Saudita, estas duas soluções já fazem parte dos protocolos terapêuticos. Na Europa, França já começa a ter quem peça que estas substâncias sejam aplicadas da mesma forma e no Reino Unido o governo adicionou recentemente a cloroquina e a hidroxicloroquina (bem como vários outros antivirais) à lista de medicamentos de exportação proibida. Mas de que é que se está a falar, realmente?
Os primeiros passos na criação desta cloroquina remontam à Alemanha dos anos 30. Foi nessa altura que este anti-malárico sintético começou a ser produzido, mas só em 1949 se deu a sua comercialização. Tido como arma essencial no tratamento da malária durante vários anos, o seu uso começou a diminuir à medida que se foi desenvolvendo uma resistência natural ao plasmodium (nome do parasita que causa a malária) e que outros medicamentos foram entrando no mercado. Hoje, dada a conjuntura e os aparentes efeitos benéficos destes fármacos, as farmacêuticas retomaram a sua produção.
Até agora, as ainda poucas publicações científicas que existem sobre o assunto vêm do primeiro país afetado pelo vírus: a China. Um primeiro artigo publicado a 25 de janeiro na revista Cell Research relata uma grande eficácia in vitro da utilização de cloroquina como forma de combater a Covid-19. Desde então, vários ensaios clínicos foram lançados também na China e a verdade é que se registaram resultados positivos (preliminares) em relação a um deles, que tem em consideração um grupo de cem pacientes que foram tratados cloroquina — segundo o que se pode ler sobre este assunto num documento partilhado pela revista especializada BioScience Trends. No final de fevereiro, o conceituado cientista e principal consultor médico do governo chinês Zhong Nanshan afirmou numa entrevista coletiva que nos pacientes desse estudo, o SARS-CoV-2 desapareceu em quatro dias (o tempo médio até ao desaparecimento do vírus em pacientes com outros tratamentos variou entre 12 e 20 dias). Mesmo assim, esses dados preliminares ainda não são suficientes para tranquilizar os responsáveis médicos de todo o mundo — ainda faltam mais estudos, revisões e confirmações.
O caso francês e os resultados animadores
Apesar de todas as incertezas, o professor francês Didier Raoult — diretor do Instituto IHU Méditerranée Infection de Marselha, especialista em doenças infecciosas e membro do conselho científico para o novo coronavírus que acaba de ser criado pelo Ministro da Saúde francês — lançou um ensaio clínico com base nesta hipótese de tratamento. Aplicado a 24 pacientes, o estudo pretende avaliar os efeitos de 600 mg/dia de hidroxicloroquina aplicados durante 10 dias, prestando especial atenção ao impacto na evolução e gravidade da infeção.
Na passada segunda-feira, 16 de março, o mesmo professor Raoult comunicou via vídeo os resultados preliminares deste estudo e a realidade é, no mínimo, animadora: após seis dias de tratamento com hidroxicloroquina, apenas 25% dos pacientes ainda continuavam com o vírus, enquanto 90% dos doentes que não tiveram esse tratamento ainda tinham a Covid-19. Raoult defende, porém, que, mesmo tendo em conta que ainda faltam mais dados científicos para comprovar a eficiência deste tratamento, já existem argumentos suficientes para o usar, ainda para mais porque os seus custos são relativamente baixos. Equipas hospitalares de outras partes de França, aliás, já manifestaram interesse neste estudo de Marselha.
https://www.youtube.com/watch?v=n4J8kydOvbc
Há sempre um “mas…”
Como em tudo, há sempre um lado menos positivo. Neste caso, isso verifica-se graças a um artigo dos investigadores e virologistas Frank Touret e Xavier de Lamballerie, ambos da Universidade de Marselha. Num artigo chamado “Of chloroquine and COVID-19″, a dupla pede à comunidade científica que tenha em consideração nas suas investigações sobre cloroquina e o novo coronavírus estudos anteriores em que esta molécula é usada como antiviral.
Os dois investigadores explicam que a capacidade antiviral in vitro da cloroquina que foi identificada no final dos anos 60 (também se aplica à hidroxicloroquina) diz respeito a vários tipos de vírus — entre eles o SARS, também ele da família coronavírus. A eficácia contra esta grande variedade de infeções (como o zika ou o vírus influenza A H5N1, por exemplo) foi demonstrada em vários animais. Contudo, até agora, nenhum ensaio clínico relativo a infeções virais agudas (como a dengue) ou crónicas (como o HIV) foi bem-sucedido.
“In vitro, a cloroquina possui atividade antiviral direta. Impede que o ciclo viral ocorra normalmente modificando o pH” , explica Xavier de Lamballerie. Já in vivo, o seu impacto é menos claro e a sua ação antiviral pode ser bastante indireta, funcionando mais como imunomodulador anti-inflamatório, efeito semelhante ao causado pela ribavirina, que é utilizada normalmente para tratar, de entre várias coisas, a hepatite C. “Não acho que a atividade antiviral da cloroquina seja muito poderosa em humanos, mas a imunomodulação que induz pode ser interessante durante certas fases de uma infeção”, afirma o mesmo cientista.
Outro motivo de preocupação é o facto de a cloroquina ser considerada uma droga que inspira um grande cuidado de aplicação, já que é “altamente tóxica em caso de overdose, principalmente em crianças” , escreveu a Rede Francesa de Centros Regionais de Farmacovigilância (CRPV) num texto de 5 de março. “Em adultos, uma dose perigosa será de cerca de 2g de cloroquina tomadas de uma só vez” (dado muito importante, já que o protocolo de tratamento chinês para a Covid-19 implica duas doses diárias de 500 mg). “Perante o que se sabe hoje, (…) a cloroquina não apresenta uma relação benefício-risco favorável no tratamento de infeções pelo coronavírus Covid-19″, estima a rede CRPV.
O medicamento para a gripe que pode ser a resposta
Favipiravir, T-705 ou Avigan — o nome não importa, mas esta solução é a que está a ser aperfeiçoada na Toyama Chemical (subsidiária da Fujifilm), no Japão, para poder ser aplicada em doentes infetados com o vírus SARS-CoV-2. Desenvolvido a partir da fórmula que um fármaco para a tuberculose, o Favipiravir tem sido sobretudo utilizado para tratar a gripe sazonal no Japão. Alguns ensaios clínicos já sugeriram que era eficaz contra a febre amarela ou o vírus do Nilo Ocidental, por exemplo. Mas os resultados anunciados esta terça-feira trazem uma nova esperança nos tempos que se vivem atualmente: também parece ser eficaz contra o novo coronavírus.
China diz que medicamento japonês para a gripe é “eficaz” no tratamento do coronavírus
A forma como o medicamento funciona não é totalmente conhecida pelo público e a Toyama Chemical continua sem explicar inteiramente a receita para o fármaco. No entanto, de acordo com os relatórios científicos publicados pela empresa, o medicamento tem a capacidade de inibir aquilo a que os cientistas chamam replicase de ARN, isto é, uma enzima que ajuda os vírus a replicaram a sua informação quando infetam uma célula. Essa estratégia também pode ser útil com o novo coronavírus, que faz das células reféns e utiliza-as como máquinas para se multiplicarem num organismo vivo.
Eis o que se descobriu: após testar o medicamento em Wuhan (onde a pandemia eclodiu) e em Shenzhen, numa amostra com 340 pacientes, os investigadores descobriram que 91% dos doentes tratados com o fármaco tinham melhorado, enquanto essas melhoras só se verificaram em 62% daqueles que não o receberam. Os exames pulmonares feitos às cobaias também demonstraram uma melhoria no estado das vias respiratórias em grande parte deles. Ainda assim, Favipiravir tem um problema: é muito menos eficaz em pessoas com sintomas mais severos.
Isso mesmo foi explicado ao The Guardian por uma fonte do ministério da Saúde britânico, que está a analisar esta solução: “Já administrámos em 70 ou 80 pessoas, mas não parece ser tão eficaz quando o vírus já se multiplicou”. Mesmo contando com os resultados promissores verificados nas outras situações, a administração do favipiravir em pacientes com coronavírus em larga escala só poderá acontecer com autorização governamental,tanto na China como no Japão, já que a aprovação original do medicamento só envolvia o tratamento da gripe normal.
“mRNA”, a tecnologia que dará uma vacina
Investigadores norte-americanos, por exemplo, iniciaram na passada segunda-feira o primeiro teste de uma vacina experimental contra coronavírus em humanos, conta a AFP. Os cientistas do Kaiser Permanente Washington Research Institute, em Seattle, injetaram vários voluntários com aquilo que pode vir a ser uma cura, a “mRNA-1273”, nome de código deste protótipo, que foi desenvolvido em tempo recorde.
O primeiro participante deste estudo, conta a mesma agência, é gerente de operações numa pequena empresa de tecnologia: “Todos nos sentimos muito impotentes. Esta é uma oportunidade incrível para fazer algo”, disse Jennifer Haller, 43 anos, natural de Seattle, antes de receber a vacina. Os seus dois filhos adolescentes “acham muito fixe” que esteja a participar no estudo. Ela é apenas uma dos 45 voluntários que vão receber duas doses desta vacina de teste com um mês de intervalo. E é o primeiro ensaio de uma série de estudos em humanos que vão tentar perceber a eficiência e segurança desta vacina.
A “mRNA-1273” foi desenvolvida pelo National Institutes of Health (NIH) e pela empresa de biotecnologia Moderna Inc., que tem sede em Massachusetts. Lisa Jackson é a responsável por este esforço sem precedentes, que viu, no espaço de dois meses, passar-se de “não saber bem o que está a acontecer” para “ter uma vacina em testes com humanos”. Apesar do prognóstico inspirador, Jackson é cautelosa e diz que o entusiasmo da sua equipa perante este estudo é apenas “moderado”. Continuam, mesmo assim, a trabalhar 24 horas por dia para chegar ao ambicionado resultado — uma cura.
O que está a acontecer ao certo neste estudo?
Os voluntários deste estudo foram escolhidos a dedo. Os que têm entre 18 e 55 anos, por exemplo, vão receber doses mais altas do que os restantes, para testar a força das inoculações. Os cientistas vão procurar quaisquer efeitos colaterais e recolher amostras de sangue para testar se a vacina está a acelerar o sistema imunológico, procurando pelo meio eventuais pistas encorajadoras.
A maior parte das pesquisas de vacinas em andamento tem como alvo global uma proteína chamada “espigão” (“spike”, em inglês) que atinge a superfície do novo coronavírus e permite que ele invada células humanas — se se conseguir bloquear essa proteína, as pessoas não podem ficar infetadas. Investigadores do NIH copiaram a secção do código genético do vírus que contém as instruções para as células criarem estes tais “espigões” para colocar na vacina que foi aplicada aos voluntários. O objetivo disto? Transformar o corpo numa espécie de mini-fábrica de anticorpos que reajam a esta proteína “espigão” de forma a que o sistema imunológico consiga reagir rapidamente quando a pessoa, eventualmente, se confrontar com vírus completo.
A inovadora vacina “Cavalo de Tróia” em desenvolvimento contra o coronavírus
De forma resumida, a Sars-CoV-2 partilha entre 80% e 90% de seu material genético com o já conhecido Sars: ambas consistem num aglomerado de ácido ribonucleico (o tal RNA) que mora dentro de uma cápsula esférica forrada pela tal proteína “espigão”. São esses “picos” que se prendem a recetores na superfície das células que revestem o pulmão humano e permitem que o vírus entre na célula. Uma vez dentro, sequestra o mecanismo reprodutivo da célula para produzir mais cópias de si mesma, antes de sair da célula novamente e matá-la no processo.
A Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (Cepi) é uma das autoridades principais no campo da criação de vacinas e reação a epidemias e, segundo um artigo do The Guardian, está dar mais financiamento a farmacêuticas como a Moderna, empresa que tem direcionado a sua procura por uma vacina através do combate aos “mensageiros RNA”, os tais “espigões” que permitem que o vírus se prenda às células. Este tipo de trabalho, dizem, não só é o método mais rápido de chegar a uma solução como é aquele que consideram ser mais vanguardista. É aqui que aparenta estar o futuro.
Esta estratégia é muito mais rápida do que a abordagem mais tradicional de cultivar vírus no laboratório e de preparar injeções com versões mortas ou enfraquecidas, de forma a que ainda tenha presença suficiente para o nosso sistema imune as reconhecer e criar anticorpos — mas não em demasia, para que não nos infetar. Uma das grandes preocupações neste momento é que, mesmo que os testes iniciais corram bem, vai demorar muito tempo até que se consiga testá-la num número suficientemente grande para detetar um efeito colateral incomum, por exemplo.
A vacina chinesa
Nesta passada terça-feira, o ministério da Defesa da China deu notícias inspiradoras ao anunciar que foi desenvolvida “com êxito” uma vacina contra o novo coronavírus e que a mesma recebeu luz verde para entrar em fase de testes em humanos. Ao que parece, a suposta vacina terá sido desenvolvida pela empresa CanSino Biologics Inc. em parceria com a Academia Militar de Ciências.
Segundo a Bloomberg, a CanSino Biologics explicou num comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, na passada quarta-feira, que ia começar a fase de testes em Wuhan, o epicentro de toda esta contaminação onde se registaram mais de 190 mil infetados e 7800 mortos. A epidemiologista Chen Wei foi a escolhida para liderar a equipa multidisciplinar que criou um produto que pode muito bem só vir a ser “utilizável” daqui a um ano — de novo, comprova-se a impossibilidade de se chegar a uma cura ainda em 2020.
O ministério da Educação chinês explicou ainda que a vacina em desenvolvimento baseia-se nos vetores da gripe e que, lá está, a mesma é feita com base na tecnologia virada para o “mRNA”. Mais ao pormenor: este estudo da CanSino envolve 108 adultos saudáveis, com idades entre 18 e 60 anos, que serão injetados com a vacina experimental. A todos eles serão aplicadas três doses diferentes, de acordo com dados do Registro de Ensaios Clínicos da China, e os testes começarão ainda este mês, continuando até o final do ano. A vacina já foi testada em animais e, segundo a empresa, consegue “comprovadamente obter imunidade contra o vírus”.
A China, enquanto principal e primeiro afetado por esta pandemia, é quem mais estudos e testes científicos tem feito. Estima-se que, no total, foram lançados 100 ensaios clínicos para estudar um pouco de tudo, desde remédios contra gripe, passando por plasma contendo anticorpos de pacientes recuperados até à fitoterapia tradicional chinesa.
A farmacêutica GlaxoSmithKline Plc, por exemplo, disse no mês passado que estava a trabalhar com a chinesa Clover Biofarmaceuticals numa outra vacina experimental. Poderá a solução da pandemia vir do sítio de onde nasceu? É muito provável que sim.
Dois exemplos de outras opções anti-mRNA
A CNBC relata que, só nas últimas 48 horas, a par da já mencionada Moderna Inc., duas outras empresas de biotecnologia ganharam particular destaque nesta batalha — a BioNTech e a CureVac. Ambas são especializadas na dita terapêutica com enfoque no “mensageiro RNA” (mRNA). A BioNTech é uma empresa alemã de biotecnologia que anunciou recentemente duas parcerias estratégicas para avançar no desenvolvimento de uma vacina: com a Fosun Pharma, para promover esforços na China, e com a Pfizer, para fazer o mesmo fora da China.
Analistas do banco Berenberg consultados pela mesma CNBC dizem que a rapidez com que estas coligações da BioNTech foram feitas prova que há uma validação importante da plataforma de tecnologia “mRNA”. “A BioNTech parece melhor posicionada na corrida contra a Covid-19 devido à sua plataforma mRNA e capacidade de fabricação”, afirmaram representantes do tal Berenberg.
Ao Finantial Times, por exemplo, a BioNTech disse que, se recebesse todas as autorizações das entidades reguladoras, poderia iniciar o teste clínico de sua vacina BNT162 em voluntários saudáveis já em abril, na Alemanha. Se os testes iniciais desta BioNTech confirmarem que a vacina é segura e provoca uma boa resposta, serão realizados ensaios clínicos mais extensos na China, em colaboração com a Fosun, bem como na Europa e nos EUA. Sean Marett, o diretor de negócios desta empresa, enfatizou que o objetivo é disponibilizar a sua vacina globalmente, em vez de dar prioridade a países específicos, seja Alemanha, China ou EUA.
“Toda a nossa empresa está em pé de guerra para combater a Covid-19”, afirmou. A BioNTech espera anunciar em breve pesquisas sobre tratamentos para a doença, em paralelo com as vacinas.
Nesta arena há ainda o caso da CureVac, empresa que pretende começar a testar uma vacina experimental em seres humanos já durante o verão. Depois de ter sido apanhada no fogo cruzado político entre a Alemanha e os EUA — Donald Trump, alegadamente, terá tentado comprar à empresa os direitos de exclusividade de uma eventual vacina e Angela Merkel impôs-se –, a Comissão Europeia prometeu 80 milhões de euros em apoio financeiro para ajudar a lançar um produto na Europa.
Desde 2006 que esta empresa fabrica vacinas e terapêuticas baseadas em mRNA. Mariola Fotin-Mleczek, diretora de tecnologia do CureVac, explicou à plataforma de divulgação científica Pharmaceutical Technology a lógica do trabalho que está a ser desenvolvido: “A natureza inventou mecanismos para ativar o nosso sistema imunológico contra doenças infecciosas. Com a nossa tecnologia dedicada aos mensageiros RNA, imitamos a natureza e damos ao nosso corpo as informações sobre como combater o vírus.”