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Trump-China. Vem aí a guerra impossível de ganhar?

Donald Trump quer penalizar Pequim, mas isso pode ter consequências para a sua base eleitoral. A China, mais frágil, ameaça as empresas americanas. Quem tem mais a perder?

Nem amigos, nem inimigos há quase quarenta anos, a relação entre China e Estados Unidos, as duas maiores potências económicas do mundo parece cada vez mais tremida — e a chegada ao poder de Donald Trump só vem colocar mais dúvidas sobre o futuro da relação entre as duas superpotências. Tudo por causa da ameaça de uma guerra comercial onde ninguém pode sair vencedor, em especial quem deu a vitória a Donald Trump.

Desde que a China é República Popular da China, em 1949, que a relação com os Estados Unidos é feita de aproximações e distanciamentos, mal-entendidos e quases, muitos quases: entre 1950 e 1953, os dois países enfrentaram-se na guerra da Coreia (a China do lado dos invasores, a Coreia do Norte; e os EUA do lado dos invadidos, a Coreia do Sul); em 1955, em resposta ao bombardeamento pela China das ilhas ocupadas pelos nacionalistas de Chiang Kai-Shek no Estreito de Taiwan, Eisenhower ameaçou a China com um ataque nuclear; em 1959, a China ocupou o Tibete e os EUA responderam, através da CIA, armando os rebeldes tibetanos.

Foi na década de 70 que China e Estados Unidos se começaram a entender, com Henry Kissinger a dirigir o processo que culminou com uma visita oficial de Nixon à China de Mao Zedong e a um entendimento assinado entre os dois países, o que só foi possível devido ao distanciamento que se vinha a verificar entre a China e a União Soviética.

Nos anos que se seguiram, apesar de longe de serem pacíficos, China e Estados Unidos criaram uma relação. Ou melhor, um entendimento. Não são amigos, nem inimigos. Longe de serem parceiros, tentam entender-se, enquanto se avaliam, se controlam em permanência, e enquanto competem por influência no mundo.

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Semelhantes nos objetivos, os valores de Washington e Pequim não podiam ser mais diferentes. Henry Kissinger, o histórico ex-secretário de Estado dos EUA de Nixon, numa recente entrevista à Economist, defendeu que o problema fundamental desta relação reside no facto de ambos considerarem que representam valores únicos e que esses valores únicos são relevantes para o resto do mundo. Mas esses valores não podiam ser mais diferentes.

Segundo o diplomata, os EUA acreditam que o seu excecionalismo tem um aspeto missionário e tende a expandir-se pelo mundo, às vezes por via militar, enquanto os chineses acreditam que têm valores únicos e que a relação do resto do mundo com a China até pode medir-se pela aproximação ao respeito por esses valores, mas nunca através da sua identidade. Os chineses são únicos.

“Os chineses levam a cabo a sua política externa através da magnificência e de uma mostra de superioridade e nós [norte-americanos] desconstruindo os problemas até os reduzirmos a ideias programáticas individuais”, diz Henry Kissinger.

O presidente da China Mao Zedong e Henry Kissinger encontraram-se em Pequim em novembro de 1973

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Em 2012, a propósito do duelo eleitoral entre Barack Obama e Mitt Romney, o mesmo Kissinger dizia ser “inevitável que uma China em crescendo acabe por afetar os Estados Unidos” e, mais importante, que um conflito seria “um desastre para ambos os países” onde “seria impossível descrever o que seria uma vitória”.

Um grande faux pas diplomático

A retórica entre os dois países é cada vez mais inflamada. Ou melhor, a retórica entre a China e Donald Trump, que ainda não assumiu o cargo e já conseguiu enfurecer os pacientes chineses por várias vezes. Depois de uma campanha em que atacou Pequim, Trump cometeu o maior faux pas diplomático quando aceitou uma chamada da presidente de Taiwan, quebrando quase 40 anos de protocolo.

Inexperiência? Foi assim que a China quis caracterizar a situação, de forma a evitar um conflito. Pequim preferiu acusar Tsai Ing-wen de fazer uma jogada política à custa do presidente eleito. Desde os acordos de 1979, em que Jimmy Carter reconheceu pela primeira vez a China e estabeleceu plenas relações diplomáticas com o regime de Deng Xiaoping (na altura vice-primeiro-ministro), que um presidente não falava diretamente com o líder de Taiwan. Tudo isto porque, ao reconhecer a China, os Estados Unidos passaram também a respeitar a política de “Uma China”.

O princípio da integridade do território chinês é uma das bases do regime e foi isso mesmo que Donald Trump questionou logo de seguida a esta chamada. “Eu entendo completamente a política de Uma China. Mas não percebo porque temos de estar vinculados à política de Uma China, a menos que façamos um acordo com a China sobre outras coisas, incluindo o comércio”, disse em entrevista à CNBC.

O telefonema entre os dois, apesar de a iniciativa ter partido da presidente de Taiwan, terá sido preparado durante semanas pelo agora lobista Bob Dole, de acordo com o New York Times. O ex-senador republicano, que foi candidato à presidência em 1996 contra Bill Clinton (a segunda campanha de Clinton), terá preparado durante semanas a conversa e conseguiu acesso dos responsáveis de Taiwan a Donald Trump, evidenciando que o contacto terá sido premeditado.

A retórica inflamada de Donald Trump contra a China não passou ao lado dos chineses, que avisaram através dos jornais do regime que irão retaliar contra medidas que penalizem o comércio chinês

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Promessa eleitoral ou estratégia comercial?

A relação mais recente entre China e EUA está longe de ser a mais pacífica, mas tem sobrevivido graças à interdependência entre as duas maiores economias do mundo e a um difícil equilíbrio de interesses geoestratégicos.

Mas a campanha de Donald Trump fez-se muito em torno da recuperação de emprego menos qualificado no interior do país, em especial na indústria, os mais afetados diretamente pela globalização. Para isso, foi preciso encontrar, como o fez noutras áreas, um inimigo comum: a China.

China é quem mais exporta para os EUA

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O comércio entre os Estados Unidos e a China valeu 659,4 mil milhões de dólares no ano passado, mais do triplo de toda a riqueza que o Governo espera que a economia portuguesa gere em 2017.

Destes 659,4 mil milhões de dólares, 497,8 mil milhões foram vendas da China aos Estados Unidos – tanto bens como serviços. No mesmo período, Pequim só comprou 161,6 mil milhões de dólares em bens e serviços americanos.

Resultado: os Estados Unidos têm um défice comercial com a China de 336,2 mil milhões de dólares.

A China é quem mais exporta para os Estados Unidos (e para o resto do mundo).

Para criar esse inimigo comum na mente do seu eleitorado, Trump criou uma narrativa fácil: a China está a roubar os empregos dos americanos desvalorizando a moeda, roubando segredos comerciais e propriedade intelectual, e impondo restrições às empresas norte-americanas para vender na China, que (com outros benefícios) as levam a deslocalizar a produção para regiões chinesas.

Promessa de Trump para o primeiro dia na sala oval: pegar no telefone, ligar ao secretário do Tesouro e dar ordem para considerar a China um país manipulador da sua moeda e investigar potenciais abusos comerciais de Pequim.

Trump promete ainda dar ordens ao representante dos Estados Unidos para o Comércio para apresentar um processo contra a China, tanto nos tribunais norte-americanos como na Organização Mundial do Comércio, por considerar que os subsídios que o regime chinês dá a vários setores da sua economia são incompatíveis com os termos de adesão à OMC, e ainda “usar todos os poderes presidenciais para resolver as disputas comerciais se a China não parar com as atividades ilegais, incluindo o roubo de segredos comerciais norte-americanos”. Aqui, a ameaça é a de aplicar um imposto de 45% sobre as importações chinesas.

Na lista estão ainda taxas alfandegárias de 35% sobre as empresas que decidam deslocalizar a sua produção para o estrangeiro. Mas onde tem Trump razão e quais as consequências das suas decisões?

Também na China, Donald Trump ocupa as primeiras páginas

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O que está em jogo

Uma moeda mais fraca torna os produtos mais baratos, e, consequentemente, mais apetecíveis para quem os compra. Para além de criar incentivos à instalação das suas fábricas em território chinês. Todos os anos é tema de discussão e acaba sempre da mesma forma, com os Estados Unidos a não declararem a China como um manipulador da sua moeda.

A última vez que a China foi considerada como um país que manipula a sua moeda foi em 1994, era Bill Clinton presidente. Para ser considerado manipulador da sua moeda pelos Estados Unidos, um país tem de ter um excedente comercial desproporcional com os Estados Unidos e um grande volume de compra de ativos que sejam resultado dessa intervenção na moeda.

O que vendem os EUA à China...

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Aviões. Como lembrava, e bem, o Global Times, tocar nas encomendas feitas à Boeing pela China pode causar mossa, e há boas razões para isso.

Em 2015, os aviões foram os bens mais exportados pelos EUA para a China, num total de 15 mil milhões de dólares.

A categoria seguinte? Produtos agrícolas como a soja (11 mil milhões de dólares) e o milho (2,1 mil milhões de dólares).

No entanto, Obama já decidiu que não iria dar esse passo, em parte porque, apesar de manter um excedente comercial com os Estados Unidos significativo, o saldo externo desceu significativamente, colocando-o abaixo do valor limite a partir do qual deve ser monitorizado.

“Classificar a China de manipulador de divisa fazia sentido há 10 anos, mas desde então a moeda tem valorizado significativamente e, nos últimos 18 meses, o Banco da China tem feito intervenções no mercado para manter a moeda alta, não baixa”, afirma no Brookings David Dollar, ex-enviado à China para os assuntos económicos e financeiros pelo Departamento do Tesouro dos EUA entre 2009 e 2013, e ex-diretor do Banco Mundial para a China

David Dollar, que falou com o Observador por email, explicou ainda que, caso os EUA avancem por aí, podem entrar num caminho que levará à violação dos compromissos que assumiu quando o país decidiu juntar-se à Organização Mundial do Comércio. Isto porque ao considerar o país um manipulador de moeda, abre-se um processo de discussão entre os dois países sobre os factos e que pode levar a sanções, com a imposição de impostos e outras tarifas que podem colocar em causa os princípios do comércio livre e a relação entre os dois países.

Donald Trump acusou a China de levar a cabo “o maior roubo da história da humanidade” e ameaçou com uma medida de defesa da economia norte-americana, a imposição de uma taxa de 45% sobre as importações chinesas.

Outra das medidas que Donald Trump tem prometido é a de impor um imposto de 35% que afete as empresas que deslocalizem a sua produção para o estrangeiro. Esta não seria uma resposta exclusiva à China, também se aplica a outro dos alvos de Trump — o México –, mas também teria um forte impacto, considerando que algumas das maiores empresas norte-americanas têm a sua produção na China, como é o caso da Apple.

Moeda fraca, baixos salários e materiais baratos (para além da falta de condições de trabalho) tornam a China um dos principais destinos para quem procura baixar custos de produção

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...E o que compram os EUA à China

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Os norte-americanos tendem a queixar-se da invasão de produtos chineses e, se isso é verdade, é verdade especialmente no que diz respeito à maquinaria elétrica. Aqui segue o top:

  • Maquinaria elétrica (como eletrodomésticos): 133 mil milhões de dólares;
  • Maquinaria: 104 mil milhões de dólares;
  • Mobiliário: 28 mil milhões de dólares;
  • Brinquedos e equipamento desportivo: 24 mil milhões de dólares;
  • Calçado: 17 milhões de dólares.

A China é ainda o terceiro maior mercado de importações de produtos agrícolas para os Estados Unidos, com os norte-americanos a importarem especialmente fruta e vegetais processados, sumos de fruta e vegetais processados, snacks, vegetais frescos e especiarias.

Contra-ataque chinês

A resposta da China fez-se chegar, primeiro, através de um editorial de um dos jornais controlados pelo regime, o Global Times, que disse que Donald Trump seria condenado pela sua “imprudência, ignorância e incompetência”, e que a China responderia a essas novas tarifas com medidas muito prejudiciais para a economia norte-americana: “As encomendas de [aviões] Boeing seriam substituídas por Airbus [franceses]. As vendas de carros e iPhone norte-americanos sofreriam um revés, e as importações de soja e milho norte-americanos seriam suspensas. A China pode ainda limitar o número de alunos chineses nos Estados Unidos”.

A resposta oficial foi mais comedida, mas igualmente plena de avisos a Donald Trump. “Acredito que qualquer político norte-americano, se tiver como prioridade o interesse dos seus cidadãos, levará a cabo uma política propícia à cooperação económica e comercial entre a China e os Estados Unidos”, afirmou Lu Kang, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês.

Ataque. Contra-ataque. China e Estados Unidos parecem cada vez mais a caminho de uma guerra comercial. E nesta guerra quem venceria? Segundo Henry Kissinger, ninguém.

“Se os EUA impuserem tarifas sobre as importações da China, a China irá certamente retaliar e a guerra comercial resultante será má para a produção e para o emprego nos Estados Unidos”, explicou David Dollar ao Observador.

Isto não só complicaria a relação política entre EUA e China, como violaria os compromissos assumidos com a OMC, e “arriscar-se-ia a prejudicar mais o americano comum e a oferecer poucos ganhos”, defende Derek Scissors, do American Enterprise Institute.

Um trabalhador chinês na fábrica da Apple de Shenzen, na província de Guangdong, monta um Apple Watch

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O eleitorado de Donald Trump sairia a perder com uma guerra comercial porque os preços de praticamente todos os produtos habituais comprados num supermercado — desde micro-ondas a roupa — ficariam mais caros por encarecimento dos produtos de fabrico chinês e escassez da oferta, criando um efeito semelhante ao que aconteceu na Rússia com as contra-sanções do regime russo contra os produtos europeus. Além disso, não há indicações que estas medidas criariam emprego nos Estados Unidos.

Já as exportações dos Estados Unidos para a China, embora não significativas em termos globais, são importantes em alguns setores e comunidades e teriam de ser compensadas. Caso as limitações fossem aplicadas a todos os países, para evitar penalizações na OMC e repercussões a nível mundial, afetaria substancialmente as exportações para outras regiões.

Não quer isto dizer que a China não sofreria com a medida. Os Estados Unidos são o principal mercado das exportações chinesas, sendo que a China é a economia que mais exporta no mundo. Aliás, pode estar a caminho de se tornar a maior economia do mundo, mas também enfrenta algumas dores de crescimento que estão a levar a mudanças no modelo económico, mais centrado na economia doméstica.

Aliás, é precisamente a situação menos boa da economia chinesa que tem levado a que o seu banco central esteja a queimar reservas para tentar valorizar a sua moeda, o contrário do que Trump acusa a China (e que durante muitos anos foi verdade), de desvalorizar a sua moeda para exportar mais.

Outro fator importante nesta discussão é que a China é o país estrangeiro que mais dívida norte-americana detém, desde que a crise financeira rebentou nos Estados Unidos, em 2008. Para David Dollar, esta não é uma questão muito importante já que existe uma grande procura pela dívida norte-americana a nível mundial. A China até tem vindo a desinvestir desde julho, mas ainda é responsável por 30% do financiamento do setor público norte-americano, que não o proveniente de americanos e do próprio governo.

Vários países queixam-se que a China invade os seus mercados com produtos como estes a preços muito baixos devido aos subsídios do Estado

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Guerra já começou na OMC

Não é exclusivamente com os Estados Unidos, mas também. Quando a China entrou na Organização Mundial do Comércio, em 2001, foi incluída uma cláusula no contrato de adesão que permitia aos restantes membros tratarem a China como uma economia não de mercado.

Este estatuto permitia aos restantes países membros aplicarem taxas anti-dumping pesadas contra a economia chinesa porque os preços não refletem a realidade do mercado. São queixas de longa data. As economias desenvolvidas afirmam que os brinquedos, jogos, roupa e bicicletas chineses são muito mais baratos porque estes setores beneficiam de subsídios elevados.

Enquanto não é tratada como economia de mercado, a China é um alvo fácil para estas taxas anti-dumping. Basta comparar os preços dos produtos chineses com os de uma economia onde as forças de mercado têm liberdade para funcionar e assim fixar os preços destes artigos.

O problema: a cláusula caducava ao fim de 15 anos (página 9 do acordo). Ou seja, no passado dia 11 de dezembro. Como tal, a China tem todo o direito de ser considerada uma economia de mercado, o que torna muito mais difícil aos restantes países penalizar a China por fazer dumping.

Mas os principais blocos comerciais do mundo não colaboraram. EUA, União Europeia e Japão continuam a considerar que a economia chinesa não cumpre os requisitos para ser considerada uma economia de mercado. Ou seja, apesar de ao abrigo dos estatutos da OMC não o poderem fazer, estes países decidiram manter as medidas que alegadamente protegem as suas economias do comércio chinês.

Em 2015, no que tem vindo a ser uma tendência crescente, os EUA aplicavam uma taxa de 7% sobre as importações chinesas como compensação pelo dumping, e a União Europeia uma taxa de 5%. Trata-se de taxas médias sobre a totalidade das importações chinesas para estes dois mercados, mas que são diferentes a cada produto. Por exemplo, as bicicletas importadas pela União Europeia são alvo de uma taxa anti-dumping de 48,5%. Nos produtos de ferro e aço foi decidido ainda no mês passado aplicar taxas entre 43,5% e 81,1%.

A China já mostrou a sua insatisfação e diz que, ao abrigo do estatuto que a OMC agora lhe confere, vai usar a Organização para ir atrás dos restantes membros da OMC: “A China irá tomar medidas para defender os seus direitos se os membros (da OMC) continuarem estas práticas antigas da regulação anti-dumping contra os produtos chineses depois de passar a data” em que a cláusula expirava, disse um porta-voz do Ministério do Comércio da China, citado pela Deutsche Welle.

Oposição de Trump abre a porta à China

Preparava-se para ver a luz do dia, mas mesmo antes de nascer acabou por morrer. A curta história do tratado de comércio que não o foi entre doze nações do Pacífico, entre elas os Estados Unidos, o México, a Austrália, o Japão e mais um grupo de nações asiáticas foi dado como morto pelo Presidente eleito Donald Trump. Justiça lhe seja feita, também Hillary Clinton mudou de ideias quanto ao tratado, dizendo que não podia avançar, depois de ter dito que este acordo era o “padrão ouro”, do mais alto nível, no que a acordos de comércio dizia respeito.

Barack Obama deu a cara pelo acordo e defendeu-o até ao fim. Num artigo de opinião publicado no Washington Post, o Presidente defendeu que a assinatura do TPP permitiria aos Estados Unidos definir regras relativamente à proteção da propriedade privada, às condições de trabalho e ao ambiente, para além de passar a mensagem aos países da região que os EUA estão empenhados na cooperação com uma região que consideram estratégica.

“A América devia ditar as regras. A América devia ser quem decide. Os restantes países deviam agir de acordo com as regras que a América e os nossos parceiros estabelecem, e não o contrário. É esse o poder que o TPP nos dá…”, dizia Barack Obama.

Não o fazer seria dar espaço à China para preencher o vazio. E é isso mesmo que está a acontecer. O tratado não vai avançar, fruto de uma campanha em muito marcada por uma agenda anti-globalização e pela aversão aos tratados de comércio, em parte devido ao impacto do NAFTA nas comunidades onde o emprego era maioritariamente à base de mão-de-obra intensiva.

A ausência deste tratado cria um vazio que pode afetar os Estados Unidos não apenas em termos económicos, mas também em termos de segurança. Numa altura de contínua expansão de Pequim pelos mares do sul da China, onde tem vindo a criar ilhas artificiais onde estabelece bases militares (à revelia da lei, de acordo com o Japão e os EUA), a parceria que seria estabelecida com países como a Austrália, Brunei, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Singapura e Vietname poderia reforçar o peso dos EUA na região. Agora, espera-se o contrário. Donald Trump disse durante a campanha que os aliados dos EUA devem começar a pagar pela proteção americana ou então devem reforçar os seus exércitos, instando países como o Japão a estabelecerem as suas próprias capacidades nucleares (algo proibido atualmente pela Constituição do país, que foi escrita depois da Segunda Guerra Mundial).

Numa zona onde já existe uma potência nuclear prolífica nas suas ameaças contra os EUA e os seus aliados — a Coreia do Norte –, a diminuição da presença dos EUA na região pode não só fazer crescer o domínio chinês, mas também a instabilidade numa região do mundo que vive há muito à base de um equilíbrio difícil.

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