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Um comício de Donald J. Trump, em agosto de 2018, na Pennsylvania

Getty Images

Um comício de Donald J. Trump, em agosto de 2018, na Pennsylvania

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“Trump é o herói dos QAnoners não por ser Republicano, mas porque é um outsider”

Joseph Uscinski é professor na Universidade de Miami, estuda há anos teorias da conspiração, e este domingo surge nos últimos episódios do documentário “Q: Into the Storm”, sobre o QAnon.

“O que começou num fórum online rastejou para fora do ecrã do computador em direção ao lugar do poder. Tudo com a ajuda de uma única letra.” Esta curta afirmação, disponível no trailer do documentário “Q: Into the Storm”, resume o trabalho de anos do seu criador e realizador, Cullen Hoback. QAnon era um termo quase desconhecido para a maioria dos norte-americanos e do mundo até há pouco tempo: mas nos últimos anos da presidência Trump e, em particular, com o foco colocado nos grupos que tentaram invadir o Capitólio norte-americano em janeiro de 2021, Q deixou de ser apenas a 17ª letra do alfabeto para passar a representar um movimento político.

Joseph Uscinski, especialista em Ciência Política da Universidade de Miami e autor do livro “American Conspiracy Theories”, não tem dúvidas de que é isso que o QAnon se trata: de um movimento, composto por teóricos da conspiração, que se distingue por ter criado uma identidade própria. Autor de vários estudos sobre o tema, Uscinski tem-se debruçado mais recentemente sobre o QAnon para concluir que a prevalência do grupo é menos dominante nos EUA do que pode parecer, como demonstra no paper “Who Supports QAnon? A Case Study in Political Extremism”.

Em vésperas do lançamento dos dois últimos episódios de “Q: Into the Storm”, que serão lançados na HBO este domingo a nível mundial, o Observador decidiu telefonar a Uscinski para discutir um pouco o documentário, as características do QAnon comparativamente a outras teorias da conspiração e o impacto que o grupo está a ter na política norte-americana. Do outro lado, encontrou um académico mais empenhado em discutir as características psicológicas dos que acreditam na existência de Q do que nos pormenores da própria teoria da conspiração: “Uma das coisas que devemos fazer é afastarmo-nos das teorias em si. Temos de pensar nas pessoas. Repare, o QAnon atrai as pessoas que atrai por elas serem quem são”, afirma. “Por isso até podíamos livrar-nos do QAnon ou das conspirações dos Reptilianos, mas os crentes continuam a existir e a ver o mundo da mesma forma.”

Destacando conceitos como a identidade partilhada do grupo, Uscinski não tem dúvidas de que o QAnon é diferente das teorias da conspiração “tradicionais”. Mas considera que o seu alcance é muito mais limitado do que se poderia supor pela cobertura dos media: “Quando fazemos sondagens rigorosas sobre isto percebemos que é uma das teorias da conspiração que tem menos aderentes. Em geral, apenas 5% do país acredita no QAnon e isto talvez seja uma estimativa por cima. De qualquer forma, isso é tanto como os que acreditam nos Reptilianos…”, diz, referindo-se a uma das teorias da conspiração mais bizarras que circulam há anos, acusando os líderes mundiais de serem uma espécie de lagartos hiper-desenvolvidos que bebem sangue, mudam de forma e controlam o mundo. Também a crença em ideias fora da caixa, sem provas a sustentá-las, não é nova dentro da política, sublinha Uscinski: da Ameaça Vermelha dos anos 50 às teorias sobre a morte de JFK ou sobre o 11 de Setembro, são vários os congressistas que já apoiaram teorias de conspiração, acrescenta.

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O que não significa, é claro, que o QAnon não seja perigoso. Mas o académico recusa dar-lhe todo o crédito pela invasão do Capitólio: “A invasão ao Capitólio foi provocada por Trump e pelos media conservadores”, afirma categoricamente. Sem cobertura política, o misterioso Q não conseguiria mobilizar ninguém, defende.

Estes e outros pontos foram abordados por Uscinski do outro lado do oceano, pelo telefone, em conversa com o Observador. Pode ler toda a conversa na entrevista que se segue, mas, caso tenham curiosidade em saber mais sobre o que pensa este especialista, os fãs do documentário “Q: Into the Storm” não precisam de esperar muito: Joseph Uscinski será um dos entrevistados a aparecer nos últimos episódios exibidos este domingo.

Já viu o documentário todo?
Ainda só foram exibidos os primeiros quatro episódios…

O que acha até agora? É como esperava?
Têm surgido imensos documentários sobre o QAnon este ano. Este parece-me ser o que vai mais a fundo, sobretudo em termos do acesso que tem aos atores principais, principalmente no que diz respeito à questão da internet.

Na sua opinião, o que torna o QAnon diferente de outras teorias da conspiração?
Bem, o Q quase que não é uma teoria da conspiração, no sentido tradicional do termo. O que é preocupante no QAnon é que temos um grupo de pessoas que acreditam na ideia de que estão a receber pistas especiais em fóruns anónimos na internet sobre uma batalha entre Donald Trump e o “Deep State”. E por isso essas pessoas desenvolveram um sentido de comunidade, de pertença e de identidade partilhada, o que o torna diferente de outras teorias da conspiração. Uma pessoa acreditar numa teoria da conspiração não significa que ela sinta alguma simpatia por outros que acreditam no mesmo. Não significa que gostem uns dos outros ou que sintam que têm um destino comum. Mas aqui é isso que se passa.

O que é raro…
Sim. E para além disso,o QAnon basicamente adota todas as teorias da conspiração que andam por aí. E a maioria delas não é nova. É como juntar tudo num único balde e olhar para tudo através de uma lente conspiratória.

Aqui temos as ideias dos rituais satânicos e de uma elite obscura que controla o mundo… É muito semelhante a outras coisas que já circulam há décadas. Lembro-me da teoria dos Reptilianos, por exemplo [que defende que o mundo é controlado por uma elite de pessoas com características semelhantes a lagartos mutantes que bebem sangue]. Isto não é assim tão novo, é reciclagem?
Quando lemos os escritos dos Reptilianos, é muito semelhante. Todo o tipo de coisas são misturadas. Está desenhado para pessoas que já veem o mundo por uma perspetiva conspiratória.

Isso significa que as teorias da conspiração têm a capacidade de se alimentar umas às outras para se perpetuarem?
Não. Uma das coisas que devemos fazer é afastarmo-nos das teorias em si. Temos de pensar nas pessoas. O QAnon atrai as pessoas que atrai por elas serem quem são. O mesmo acontece com os Reptilianos: atrai um certo tipo de pessoa, alguém que já está predisposto a ver o mundo dessa forma. E não atrai mais ninguém para além desse tipo de pessoas. Por isso até podíamos livrar-nos do QAnon ou das conspirações dos Reptilianos, mas os crentes continuam a existir e a ver o mundo da mesma forma. Portanto não tem a ver com as especificidades [de cada teoria], tem a ver com a forma como estas pessoas olham para a realidade.

"Até podíamos livrar-nos do QAnon ou das conspirações dos Reptilianos, mas os crentes continuam a existir e a ver o mundo da mesma forma", acredita Joseph Uscinski

DR

Acha que, até agora, o documentário tem demonstrado isso?
Não de forma explícita, mas creio que prova isso. Muito do que exibiram até agora é focado nas pessoas que gerem o 8chan [fórum onde o QAnon publica] e que estão por detrás destes fóruns de mensagem online. Mas conseguimos ter uma perceção sobre a personalidade destas pessoas e eles são outsiders. Portanto é natural que tenham visões de outsiders.

De forma breve — e sei que é difícil, porque tem sido o objeto de estudo da sua carreira inteira —, consegue descrever que características psicológicas têm as pessoas com tendência para acreditar em teorias da conspiração?
Bom, eles têm uma visão do mundo onde as conspirações explicam todos os eventos e circunstâncias. Portanto quando olham seja para o que for, dizem para si “Isto pode ser uma conspiração”. Enquanto que as outras pessoas não saltam automaticamente para essa conclusão.

A predisposição importa mais do que qualquer outro fator?
Exatamente. Não é muito diferente das predisposições que algumas pessoas têm para ser de esquerda ou de direita ou em relação à religião. Se se acredita que é assim que o mundo funciona, quando uma pessoa destas se cruza com uma teoria da conspiração específica, facilmente adere a ela.

Como é que explica o caso daquele casal que aparece no primeiro episódio do documentário? Votaram no Partido Democrata a vida toda, diziam não prestar grande atenção à política e de repente descobre o Q e passam a acreditar em tudo o que diz.
Esse é um caso muito interessante. Muita gente pensa no QAnon como sendo uma conspiração da extrema-direita. Mas não há nada de direita ali. Não é algo republicano ou conservador. Não é sequer uma versão extrema dessas ideias. Aquilo que faz é precisamente ativar as visões conspiratórias que algumas pessoas já têm do mundo e levá-las a um extremo. O QAnon apela a essas pessoas, não a pessoas profundamente conservadoras ou que acreditam em todos os dogmas republicanos. Isto é sobre pessoas que têm uma visão muito obscura do mundo, porque acham que ele é controlado pelas conspirações. Por isso não me choca que pessoas que tenham votado no Obama agora sejam seguidores do QAnon. Aliás, muitos dos estudos que fiz não encontram grandes disparidades entre o número de republicanos e de democratas que acreditam no QAnon.

Portanto não é uma questão de ideologia política?
Exato. Não é isso que os motiva.

Então como explica a ideia de que o grupo está ligado à extrema-direita? É por a presidência Trump o ter de certa forma legitimado?
Esse é o único ponto que faz com que se olhe para o grupo como sendo de direita. Ninguém pode argumentar que Trump é de extrema-direita, porque na verdade ele é um populista, tanto faz coisas de esquerda e liberais como adota medidas conservadoras. Ele não é um político que leve o republicanismo ao extremo. Vejamos, na campanha ele jogou tanto a favor do seu partido como contra ele [risos]. Essa é a parte interessante: Trump é o herói dos QAnoners não por ser republicano, mas porque é um outsider. O QAnon não conseguiria coordenar-se com Jeb Bush [risos]. O grupo é para pessoas que não gostam do sistema político, incluindo dos partidos em geral. Não é como se um republicano automaticamente se tornasse um crente no QAnon. Não funciona assim. É mais com pessoas que não gostam particularmente de nenhum dos partidos.

Uma pessoa acreditar numa teoria da conspiração não significa que ela sinta alguma simpatia por outros que acreditam no mesmo. Não significa que gostem uns dos outros ou que sintam que têm um destino comum. Mas aqui é isso que se passa.

Olhando para a forma de funcionamento do QAnon. O documentário fala nesta estratégia psicológica da repetição de ideias e de frases, como o “Where we go one, we go all” [“Onde vai um, vão todos”] ou o “Red October” [“Outubro Vermelho”]. Isto é típico nas teorias da conspiração?
Não, a maior parte delas não tem os seus slogans ou lemas especiais. E isso é parte do que torna o QAnon diferente. Não é só uma teoria, é um grupo que desenvolveu uma identidade própria. Repare na frase “Where we go one, we go all”. É explicitamente sobre um movimento.

Ou seja, acha que eles são mais um movimento do que uma teoria da conspiração?
Em parte sim. De qualquer forma, acha que recebeu mais cobertura mediática do que talvez merecesse.

Li alguns dos seus artigos, em que diz que os dados demonstram que o grupo não está a crescer tanto como a cobertura mediática faz parecer. Por que acha que isso acontece? É porque o tema foi politizado?
A maior parte das pessoas que ouviu falar do QAnon soube da existência daquilo através dos media tradicionais. Não porque andem a correr para ir ao 8chan [risos]. Esse é o ponto: a maioria de nós não faria ideia que isto existe se os media não tivessem feito uma cobertura incessante ao grupo no último ano. E a maior parte da cobertura estava errada: insistiam em dizer que o grupo estava maior e a crescer, a tornar-se mais mainstream e a assumir o controlo do país e depois do mundo. E isso não aconteceu. Quando fazemos sondagens rigorosas sobre isto percebemos que é uma das teorias da conspiração que tem menos aderentes. Em geral, apenas 5% do país acredita no QAnon e isto talvez seja uma estimativa por cima. De qualquer forma, isso é tanto como os que acreditam nos Reptilianos… Onde isto se torna confuso é no ponto em que as ideias de que há tráfico sexual entre as elites já existem há muito tempo e essas sim, são bastante populares. Mas isso não é o QAnon, é algo que o QAnon adotou.

Mas adotaram-no. E de facto faz sentido a ideia de serem mais um movimento do que outra coisa: já têm uma representante eleita no Congresso [Marjorie Taylor Greene], apoiada pelo Partido Republicano…
[Interrompe] É claro que são um movimento. Têm identidade de grupo e são um movimento político. Mas estão organizados da forma habitual em que os partidos ou os grupos de interesse estão? Não. Eles tentaram criar um partido e não foram a lado nenhum; tentaram criar um grupo de interesses e não conseguiram angariar dinheiro; fizeram comícios e pouquíssima gente apareceu. Mas isso é o que se espera de um grupo de pessoas assim: pessoas que acreditam em todo o tipo de coisas e que não gostam do “sistema” têm dificuldades em organizar-se bem. E por isso não o conseguiram. Portanto são um movimento, mas online, um que existe muito graças ao Facebook, ao Twitter e ao 8chan, onde as pessoas podem juntar-se e trocar umas piadas, mas não conseguem obter poder político. Acabaram por chegar a dois candidatos ao Congresso, mas ambos distanciaram-se do QAnon antes das eleições. No caso de uma delas, a Lauren Boebert, do Colorado, não é sequer claro quão envolvida ela estava no grupo. No caso da Marjorie Greene, é óbvio que ela é uma crente sincera no QAnon, mas mesmo que tirássemos o QAnon dela, ela continuaria a ser uma teórica da conspiração.

Mas o Partido Republicano tolerou, pelo menos, que estas pessoas se associassem a si.
Bom, os dois partidos sempre o fizeram. Há anos que afastam membros por eles acreditarem nas coisas mais loucas. Ao longo da História da América, o Congresso sempre teve pessoas que acreditavam em todo o tipo de parvoíces. Isto não é novo, é só uma versão extrema disso e à qual agora nós prestamos muita atenção. Mas não é novo. As ideias conspiratórias estão tão espalhadas que, se o Congresso representa a população, é expectável que encontremos teóricos da conspiração dentro do Congresso. O que não significa que isso seja bom.

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Fredrick Brennan, criador do 8chan, o fórum onde o QAnon publica, é um dos nomes em análise no documentário

AFP via Getty Images

Consegue dar outros exemplos no passado? Houve, por exemplo, todas as teorias em torno da morte de JFK…
Sim. Tivemos o Red Scare [A “Ameaça Vermelha”, o processo liderado pelo senador McCarthy de perseguição a comunistas “infiltrados” no sistema norte-americano] nos anos 50. Nos anos 70 tivemos demasiados assassínios (John F. Kennedy, Martin Luther King…) e é claro que surgiram teorias da conspiração sobre essas mortes. Já tivemos membros da Câmara dos Representantes que acreditavam em teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro. Portanto, se fizéssemos um estudo sobre isto e tentássemos catalogar todas as teorias da conspiração que membros do Congresso já defenderam no passado… Íamos encontrar muita coisa.

Como explica a predisposição dos crentes no QAnon para acreditar nalgumas “previsões” (como a do 53-47, que diria respeito aos resultados no Senado durante as eleições intercalares) e depois conciliar isto com as outras “previsões” que parecem não se concretizar? Ou seja, como é que psicologicamente se explica que as pessoas ignorem tudo aquilo que mina a credibilidade do Q?
Bem, as pessoas acreditam no que querem acreditar. Não há razão nenhuma para assumirmos que as provas condicionam as crenças. As pessoas acreditam em todo o tipo de parvoíces que não têm provas.

Isso significa que é um fenómeno incontrolável, que faz parte da natureza humana?
As pessoas não acreditam com base nas provas ou no conhecimento. E é por isso que também é engraçado ver toda esta preocupação com as teorias da conspiração. Por que é que isto nos preocupa? Pelos efeitos que tem ou porque as ideias não têm base de sustentação? É que se é a segunda hipótese, temos de olhar em volta e ver que as pessoas acreditam em toda a merda, mesmo quando não há nenhum tipo de sustentação. Por que razão não há problema em acreditar que uma serpente enganou uma mulher e levou-a a trincar uma maçã mágica, mas já há problema em acreditar que há satânicos a traficarem crianças dentro do governo? Onde é que estão as provas que mostram que a primeira é aceitável e a segunda não? Portanto nós podemos dizer o mesmo sobre crenças religiosas, paranormais, naturais… Não é exatamente claro onde é que traçamos a linha e dizemos “Ó meu Deus, isto é demasiado estúpido, mas as outras ideias são toleráveis”.

Mas não há um problema quando determinadas ideias passam de ideias à ação?
Claro. Mas nós encontramos isso em imensas coisas. Não estou a tentar justificá-los ou dizer que isto não tem problemas, mas quando respondemos à questão “Como podem as pessoas acreditar nisto quando não há provas?” eu digo “Olhe para o mundo!” As pessoas acreditam em muita coisa que não está provada. Isso faz parte da condição humana.

Neste caso, porém, não acha que houve uma influência do QAnon no ambiente político e que acabou por ver-se na invasão ao Capitólio?
A invasão ao Capitólio foi provocada por Trump e pelos media conservadores. Se retirarmos isso, não há motim no Capitólio. Quando o Q tentava fazer isso sozinho, ninguém aparecia. No documentário vemos a grande convenção do Q em Washington D.C., onde eles organizam um comício… Acho que tinha para aí umas 50 pessoas. O que não significa que entre os membros do assalto ao Capitólio não estivessem apoiantes do Q — claro que sim, havia alguns, mas não seriam todos.

Isto é sobre pessoas que têm uma visão muito obscura do mundo, porque acham que ele é controlado pelas conspirações. Por isso não me choca que pessoas que tenham votado no Obama agora sejam seguidores do QAnon. Aliás, muitos dos estudos que fiz não encontram grandes disparidades entre o número de republicanos e de democratas que acreditam no QAnon.

Então depreendo pelo que está a dizer que acha que não são as teorias da conspiração que são perigosas per se, mas sim a forma como os políticos e os media as utilizam.
Nesse caso em particular. Mas não estou a defender a ideia de que elas não são perigosas de todo. Aquilo que estou a dizer é que você falou no Capitólio e esta invasão aconteceu depois de três meses de Trump a dizer a toda a gente que a eleição tinha sido manipulada e que as pessoas deviam juntar-se num determinado sítio, a uma determinada hora, para “salvar a democracia”. Compare isso ao que aconteceu depois: o QAnon disse que o dia 4 de março ia ser O grande dia. Que iam fazer uma marcha monumental em Washington D.C. — e ninguém apareceu [risos]. Porquê? Porque desta vez não tivemos Trump e os seus aliados destacados a dizer às pessoas que deviam ir lá.

Tendo em conta o que está a dizer, imagino que não concorde com os que dizem que a internet e as empresas tecnológicas têm um papel nocivo nisto. Retirar as plataformas as estas teorias não significa que elas desaparecem?
Não. Não é como se varrêssemos isto da internet e de repente já ninguém acredita em nada disto. Estas pessoas vão continuar a ter esta visão do mundo e a acreditar neste tipo de coisa. Podemos retirar tudo [da internet], não vamos mudar a cabeça dos crentes. Nem a forma como eles funcionam.

No documentário, Jim Watkins [dono do 8chan] diz a certo ponto que as teorias da conspiração estão protegidas pela liberdade de expressão. Concorda?
Completamente.

Ao ver o documentário, fiquei com a sensação de que não há dúvidas de que muitos membros do QAnon são verdadeiros “crentes”. Mas outros, como os criadores do 8chan são, como diz, “outsiders”. Acha que eles também acreditam no QAnon ou estão mais interessados em utilizá-lo como um mecanismo para obter dinheiro, fama ou outro tipo de benefício?
Não faço ideia. Teria de perguntar-lhes a eles…

Acha importante descobrir quem é o verdadeiro Q?
Não estou particularmente interessado [Risos]. Outros podem estar, mas eu não quero saber. Não sei o que é que isso nos traz.

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