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Como Trump voltou à Casa Branca em oito gráficos

O que mudou no voto dos americanos e de que forma é que esta eleição mostrou as fragilidades dos democratas? Estes oito gráficos explicam o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

Guess who’s back, back again? Pouco adiantou a Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, ter cantado uma das canções do rapper americano Eminem num dos comícios democratas. O momento tornou-se viral, mas no final da noite eleitoral foi Donald Trump que personificou um dos êxitos mais conhecidos do rapper.

O regresso do republicano à Casa Branca é histórico: é apenas a segunda vez que um ex-presidente é reeleito em mandatos alternados. Depois da desistência de Joe Biden, em meados de julho, foi Kamala Harris — que ainda ocupa o cargo de vice-presidente — a suceder como candidata do Partido Democrata.

As sondagens apresentavam resultados renhidos, mas o sonho azul (a cor do Partido Democrata) acabou por ser estilhaçado. Donald Trump ganhou tração em sectores do eleitorado que tipicamente pertenciam aos democratas, ganhou em todos os swing states e conseguiu até uma forte subida nos votos dos imigrantes latinos.

Na cabeça dos eleitores havia uma grande preocupação: a economia. A inflação fez o preço dos bens e dos combustíveis aumentar e as famílias americanas viraram-se para os republicanos. A insatisfação em relação à atual administração está demonstrada numa sondagem à boca das urnas publicada pela CNN onde 46% dos inquiridos responderam viver numa situação financeira pior do que há quatro anos, quando Donald Trump abandonou a Sala Oval. Desses, 81% afirmaram ter votado na reeleição do ex-presidente.

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Este é apenas um dos motivos apontados para a vitória de Trump. Os Estados Unidos voltaram a ficar pintados de vermelho (a cor dos republicanos), e estes oito gráficos explicam como.

Trump mobilizou mais eleitores

As eleições de 2020, que terminaram com a vitória do Partido Democrata, levaram mais gente às urnas do que nos anos anteriores. Agora, a afluência terá sido semelhante, mas o partido de Kamala Harris perdeu votos. Desta vez, Trump conseguiu mobilizar mais eleitores.

Segundo Ricardo Ferreira Reis, diretor do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, esta mudança deve-se a “pessoas que habitualmente não votavam” e a novos eleitores. Historicamente, o eleitorado jovem vota no Partido Democrata, e a tendência manteve-se. Só que a vantagem azul sobre os republicanos encolheu: muitos jovens que se deslocaram às urnas pela primeira vez votaram no candidato republicano.

Para além de ter conquistado mais eleitores jovens, Trump também convenceu mais eleitores brancos a irem votar. Uma sondagem da Sky News revela que 71% dos eleitores brancos foram votar, mais 4% do que em 2020. A história diz que estes eleitores são tendencialmente mais conservadores, sobretudo fora das áreas urbanas. “Foi o que aconteceu desta vez. Ou seja, a população rural americana sentiu-se abandonada num contexto económico, sofreram bastante com a inflação e, portanto, são esses que se mobilizaram para votar. Também têm uma menor taxa de escolarização e é um eleitorado vulnerável a ser convencido pelo discurso de Trump”, explica Ricardo Ferreira Reis.

Direita convence eleitorado tradicionalmente de esquerda

Ao olharmos para o mapa, vemos que o voto no Partido Democrata se concentra nas áreas costeiras do país, onde estão os maiores centros urbanos. É o caso dos estados da Califórnia, na Costa Oeste, e de Nova Iorque, na Costa Leste. E mesmo nos estados bastiões do Partido Republicano existem condados onde o voto azul predominou. No caso do Texas, o sentido de voto nas grandes cidades de Austin, Dallas e Houston foi para Kamala Harris.

Mas esta votação não foi suficiente para arrecadar qualquer voto para o colégio eleitoral, apesar de fazer sobressair outros dos padrões da política americana: o voto dos eleitores mais escolarizados, que se concentram nas grandes cidades, continua a pertencer ao Partido Democrata.

“É onde vivem as profissões liberais: os advogados, os médicos e os professores. Neste momento há uma divisão de voto em função da  literacia das pessoas”, esclarece Ricardo Ferreira Reis. Cidadãos menos escolarizados tendem a votar em Trump, mas não foi sempre assim. “Costumava ser a esquerda a pescar nessas águas. E é por isso que os Democratas ficaram surpreendidos por ver um tipo de eleitorado que estavam habituados a ser cativo da esquerda a alinhar bastante à direita”, diz o especialista.

E mesmo nos bastiões urbanos e democratas, onde Donald Trump perdeu, o Partido Democrata reduziu a vantagem em relação ao adversário. Aconteceu em New Jersey e em Manhattan, no centro de Nova Iorque. Ricardo Ferreira Reis acredita que se pode tratar de um sintoma de insatisfação, uma vez que a inflação e o custo da habitação pode ter levado os eleitores a recorrer a um “voto de protesto em relação à administração atual”.

Estados decisivos escolheram Trump

Em todas as campanhas eleitorais americanas, há estados que merecem mais atenção. São os chamados swing states. São estados que não têm um sentido de voto consolidado mas que valem uma percentagem considerável dos votos do colégio eleitoral, tornando-se assim determinantes para ganhar uma eleição. Este ano, em contraste com o que aconteceu em 2020, o Partido Democrata perdeu em todos eles.

A queda da muralha azul

Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. São estes os estados da chamada “muralha azul”, uma área grande e compacta, situada no famoso Rust Belt, onde historicamente predomina o voto no Partido Democrata. Trump destruiu essa muralha — outra vez, já o tinha feito em 2016 — e Kamala Harris ficou a apanhar os cacos.

A estrutura começava a acusar alguma fragilidade. Tudo se deve a uma mudança de paradigma. Ana Cavalieri chama-lhe “uma mutação ideológica”. A investigadora em Relações Internacionais explica ao Observador que “houve uma decadência das indústrias no Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, que feriu muito a classe trabalhadora”, aliada a uma mudança de atenção por parte dos democratas, que se viraram para “as elites urbanas sofisticadas, costeiras e académicas”. Uma parte considerável da população destas áreas considera “elitista e condescendente”.

Voto democrata diminui entre as mulheres

Outra crença que foi desfeita nesta noite eleitoral foi a de que o voto das mulheres iria para Kamala Harris de forma consolidada. Houve mais mulheres a votarem nesta eleição, mas mesmo com a forte campanha que os democratas fizeram a favor do aborto e da igualdade de género, isto não foi suficiente para assegurar o voto feminino. Em vez disso, o apoio a Kamala Harris — que podia sagrar-se a primeira mulher eleita Presidente nos EUA — encolheu entre as mulheres.

“É um realinhamento muito interessante, porque as políticas de classe sobrepõem-se às políticas raciais. A classe trabalhadora, branca e hispânica está fortemente alinhada a favor do Partido Republicano e de Trump e rejeita a política das elites”, explica a especialista Ana Cavalieri.

Trump conquista voto latino

O discurso anti-imigração de Donald Trump não foi suficiente para afastar a comunidade hispânica. Os latinos são uma parte demográfica importante no tecido eleitoral americano que parecia estar assegurada para Kamala Harris. Mas algo não correu como era esperado: a vantagem democrata diminuiu consideravelmente.

“São mais conservadores em termos de família e políticas de educação”, começa por explicar Ana Cavalieri. “Muitos deles têm algum receio de tudo o que roça com políticas de extrema-esquerda, nomeadamente comunismo, porque muitos deles saem de países que, no fundo, passaram dificuldades económicas por conta de sistemas autoritários muito ligados à esquerda”, esclarece.

A viragem do discurso democrata para o “progressismo” tem sido rejeitada pela comunidade hispânica. “Esse discurso identitário, em vez de resultar com os hispânicos, teve o efeito oposto”, conta a especialista. As declarações anti-imigração de Donald Trump não foram suficientes para afastar os eleitores, uma vez que muitos destes cidadãos “entraram no país de forma legal e não olham com bons olhos para uma imigração descontrolada”.

Cavalieri refere que os latinos receiam que a imigração descontrolada e ilegal possa “trazer problemas de integração, e também ao nível de benefícios sociais que são concedidos”.

Ricardo Ferreira Reis considera que o voto latino em Donald Trump é uma consequência da boa integração da comunidade. “Estão a reproduzir e a replicar comportamentos das outras etnias”, contextualiza o especialista e acrescenta que algo semelhante já se começa a verificar-se em relação ao voto da população negra.

Discurso democrata acusa desgaste, mesmo entre a comunidade negra

Desde 2016 que a vantagem azul entre o voto dos negros tem vindo a diminuir de forma lenta mas consistente. “Tudo indica que tenham sido os jovens negros homens que se mobilizaram a favor de Trump”, refere Ricardo Ferreira Reis, apontando que estes podem fazer parte dos “novos votantes” que fizeram mossa nos resultados do Partido Democrata.

De acordo com o especialista, a explicação é puramente económica, e repete que “pode tratar-se de uma réplica de comportamento das outras etnias” assim como um sintoma de “boa integração”, não vendo “motivos para [os votos destes jovens] serem diferentes só porque são de uma cor diferente”.

Apesar da “insistência dos democratas no discurso identitário de raça, esse discurso já não colhe e está desgastado”, argumenta Ricardo Ferreira Reis.

“Não querem exacerbar o ódio racial”, acrescenta Ana Cavalieri, que concorda com o desgaste do discurso democrata por questões raciais. Ainda assim relembra: “O voto negro ainda é o bloco mais importante que se mantém fiel ao Partido Democrata, mesmo apesar de Donald Trump ter conseguido uma percentagem histórica”.

Donald Trump venceu depois de quatro anos afastado da Sala Oval durante os quais se viu condenado pela justiça, envolvido em escândalos de cariz sexual e alvo de suspeitas de ter incitado a invasão ao Capitólio em 2021. No primeiro discurso após as eleições, proclamou o seu regresso como o “dia em que os americanos recuperaram o controlo do seu país”.

Os conflitos militares na Ucrânia e no Médio Oriente serão uma das preocupações deste mandato. Trump assegurou: “Não vou começar uma guerra, vou parar as guerras”. E depois de despachar todos os recados, terminou o discurso de vitória com uma mensagem para dentro: “É tempo de pôr as divisões dos últimos quatro anos para trás, é tempo de nos unirmos”.

Depois da pesada derrota, Kamala Harris reagiu à vontade expressa pelos eleitores vestida de preto, mas sem dispensar um sorriso. Harris apelou aos seus apoiantes para “arregaçarem as mangas”. “É OK estar triste ou desapontado. Mas devemos aceitar os resultados destas eleições”, afirmou.

A candidata democrata entrou em palco com a mesma música que a acompanhou durante os comícios. Freedom, da cantora Beyoncé, ecoou no exterior da Universidade de Howard para acompanhar uma mensagem que a democrata não se cansa de repetir: “Este é o momento de nos organizarmos, de nos mobilizarmos e de nos mantermos empenhados em prol da liberdade, da justiça e do futuro que todos sabemos que podemos construir”.

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