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Os Pop it!, que fazem lembras os plásticos de bolhas usados para envolver objetos frágeis, são um dos brinquedos do momento
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Os Pop it!, que fazem lembras os plásticos de bolhas usados para envolver objetos frágeis, são um dos brinquedos do momento

Inna Reznik/iStockphoto

Os Pop it!, que fazem lembras os plásticos de bolhas usados para envolver objetos frágeis, são um dos brinquedos do momento

Inna Reznik/iStockphoto

Um macaco viral, a montra do TikTok e o empurrão da pandemia: como os brinquedos Pop it! invadiram as nossas casas

Tem mais de 40 anos e é original da empresa que criou o "Quem é Quem?". Em todos feitios e cores, os Pop it! encheram quartos e recreios, mas só depois de um macaco os popularizar em plena pandemia.

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As cores do arco-íris chamam à atenção. As formas em unicórnio ou gelado ajudam a contar o resto da história. Os brinquedos “Pop it!” — com ponto de exclamação no final e não “Popets”, como alguns pais terão achado até ao momento — evoluíram além do já tradicional tabuleiro de silicone com bolhas para serem “rebentadas”, muito ao estilo dos plásticos usados para embalar objetos variados que ainda hoje fazem as delícias de adultos. Ganharam fama à boleia da pandemia e invadiram quartos e até recreios. Parecem até ter potencial para contrariar o habitual tempo de validade de um brinquedo popular, tido de “um a dois anos”.

Aos quatro anos, a filha de Vera Cardoso tem mais do que 10 Pop it! em casa. Foi a pequena quem pediu à mãe, e até fez “birrinha”, para comprar o primeiro de todos. Além de brincar com eles, são companhia frequente durante o banho. O rebentar das bolhas coloridas faz com que fique concentrada. “Ela está fixa naquilo, a querer rebentar as bolas cada vez mais rápido”, comenta Vera ao Observador. O mais barato que tem custa à volta de 3 euros, mas o mais caro já ascende aos 16 — é uma espécie de tapete com pelo menos 50 centímetros de comprimento.

Vera, que trabalha numa escola no Alentejo que inclui pré-primária e primeiro ciclo, nota que a popularidade destes brinquedos abrange crianças de diferentes idades e já testemunhou como, em ambiente escolar, há intervalos e horas de almoço mais tranquilas. “Ainda hoje estiveram no intervalo com os Pop it!. Os mais novos não têm trazido tanto, mas os mais velhos continuam a trazê-los!”

As origens caricatas, um macaco e o TikTok

Há uns meses, a psicóloga infantil Inês Afonso Marques começou a notar que os pacientes dos seis anos e até ao início da adolescência traziam consigo estes brinquedos para as consultas. “Mostravam-me, todos contentes, os Pop it! em forma de bolas ou gelados, quase a justificar porque é que achavam piada. No fundo, há a questão dos brinquedos se tornarem moda e a viralidade das redes sociais. Há aqui um lado de aceitação: ‘Se o meu amigo tem, também tenho de ter'”, comenta. Não há dúvidas, a rede social TikTok serviu de montra para os Pop it! cujas origens não deixam de ser curiosas.

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O seu sucesso é uma combinação improvável entre um vídeo viral no TikTok com um macaco-capuchinho como protagonista, um sonho sobre um campo de seios e a própria da pandemia que certamente gerou mais stress e ansiedade do que em anos anteriores, analisa também o The New York Times. Tanto este meio como a BBC desmontaram a história do Pop it! e tudo começa com um casal. Concebido enquanto jogo portátil, é criação da empresa israelita Theora Design, fundada por Theo e Ora Coster, marido e mulher, em 1965 em Tel Aviv (o nome original era “Matat”, que em hebraico significa “presente”) — entre os populares jogos inventados pelo duo está o icónico “Quem é Quem?”.

Theo trocou os Países Baixos por Israel após a Segunda Guerra Mundial — a BBC escreve que foi, inclusive, colega de turma de Anne Frank — e casou com Ora, a professora de arte que seria a mente criativa da empresa. É na década de 70 do século passado que acontece o impensável. A irmã de Ora morre vítima de cancro da mama, uma realidade que, certa noite, dá origem a um sonho peculiar: um campo composto por seios. Quando Ora acorda diz ao marido que quer criar um jogo com base na sua visão. Theo assim o faz, ao desenhar um protótipo em borracha que fica inutilizado durante décadas. “Imagine um campo de seios, que podemos pressionar de um lado e, de seguida, pressionar do outro lado”, esclarece Boaz Coster, filho do casal que atualmente está à frente da empresa com o irmão Gideon.

Mais tarde, o brinquedo sofre um upgrade e o plástico é substituído por silicone, passando para as mãos da empresa FoxMind que o comercializa com o nome Last One Lost em 2013. Só quando o jogo é lançado com o popular nome e vendido na norte-americana Target, em 2019, é que as vendas começam a crescer. Mas o que torna os Pop it! um must-have é o vídeo com uma influencer incomum: Gaitlyn Rae, uma macaca de oito anos que vive no estado norte-americano da Carolina do Norte, que no vídeo do TikTok pressiona bolhas de um lado e do outro do seu Pop it! — atualmente tem quase 8 milhões de seguidores naquela rede social.

@gaitlyn.rae

Pop it! #fidgettoys #asmr #gaitlynrae #WelcomeBack #popit #popits #popitgameasmr #fidgettoy #fidgets

♬ original sound – Gaitlyn Rae

O Pop it! colorido e redondo foi uma prenda de aniversário que alguém enviou a Gaitlyn Rae — foi a primeira vez que a dona, Jessica Lacher, viu tal coisa na vida. Até hoje não sabe precisar se aquele era um Pop it! original, no entanto, reconhece que desde então surgiram várias marcas e que os fãs de Gaitlyn continuam a enviá-los — são caixas e caixas deles. David Capon, presidente da FoxMind, empresa que fabrica o famoso item, já antes disse ao NYT que as vendas aumentaram mais de 10 vezes no ano passado — foram vendidas mais de 7 milhões de unidades na América do Norte entre 2020 e 2021 e apenas 700 mil em 2019, de acordo com o The Wall Street Journal.

E se a variedade de formas, cores e marcas é um ponto assente, também a utilização dos Pop it! é moldável. Já não basta “rebentar” as bolhas ou bolas, como quisermos chamar, até porque os moldes de silicone dão para fazer peças de gelo e até podem ser usados como formas de chocolate, isto a julgar pela criatividade que se encontra no TikTok, onde a hashtag #popit soma milhões de visualizações.

Ora morreu há poucos meses, com mais de 90 anos, mas teve oportunidade de ver a sua criação tornar-se um fenómeno mundial.

Tanto a pediatra Núria Madureira como a psicóloga infantil Inês Afonso Marques apelam a que se olhe para o Pop it! apenas como um brinquedo

Viorel Poparcea/iStockphoto

Fidget toys: concentração garantida?

Durante semanas Núria Madureira viu objetos coloridos nas mãos de crianças sem nunca perceber como funcionavam. A coisa mudou quando, há poucos dias, a filha mais nova de apenas quatro anos pediu pela primeira vez um Pop it! — brincou com ele uns 10 minutos, se tanto.

O brinquedo integra a categoria de “fidget toys”, no sentido em que tenta “combater a inquietação das crianças”, reflete a pediatria no Hospital Pediátrico de Coimbra. Do ponto de vista científico há investigação feita sobre os “fidget spinners”, um brinquedo giratório feito de metal ou plástico que, de acordo com o The Wall Street Journal, foi uma tendência breve em 2017. “Foram estudados no âmbito da Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) em contexto de sala de aulas”, diz, assegurando que há estudos que mostram as duas coisas: mais concentração por parte das crianças e exatamente o contrario.

"Do ponto de vista prático, ele tem o seu interesse: é possível falar sobre as cores, é possível contar as bolinhas, é possível partilhar, implica alguma destreza manual, coordenação mão-olho, isto tendo em conta a idade pré-escolar."
Núria Madureira, pediatra no Hospital Pediátrico de Coimbra

Não havendo ainda investigação sobre os Pop it! — pelo menos que Núria Madureira tenha encontrado —, a pediatra salienta que a capacidade de concentração é muito variável e depende não só da idade, como do temperamento da criança. “A perceção que tenho enquanto mãe e pediatra é que não se compra um Pop it! como estratégia de relaxamento, mas sim como brinquedo. Mas do ponto de vista prático, ele tem o seu interesse: é possível falar sobre as cores, é possível contar as bolinhas, é possível partilhar, implica alguma destreza manual, coordenação mão-olho, isto tendo em conta a idade pré-escolar. Em crianças mais velhas, com o intuito de diminuir o stress, penso que vai depender muito da idade e do temperamento.” Até porque, ao contrário dos Pop it! — cuja popularidade deverá estar perto do tempo de validade de “um a dois anos”, segundo Núria —, há brinquedos desenhados por terapeutas ou psicólogos educacionais para esse efeito.

O “fidget spinner”, um brinquedo giratório feito de metal ou plástico, foi uma tendência breve em 2017

tatyana_tomsickova/iStockphoto

Inês Afonso Marques concorda quando diz que os pais devem olhar para isto como mais um brinquedo, no sentido lúdico, embora alguns pacientes tenham admitido em consultório que ficaram mais calmos e que os Pop it! ajudaram a digerir a raiva. A psicóloga infantil opta por falar em “estratégias de grounding”, que consistem em dirigir a atenção para um estímulo no aqui e no agora de maneira a lidar com a ansiedade. “Dirigir a atenção para este brinquedo pode ser uma forma como outra qualquer de nos focarmos no aqui e no agora. Pode ser diferente de criança para criança, até porque as pessoas têm níveis de conforto diferentes. A sensibilidade aos estímulos é individual.”

A psicóloga encara os “fidget toys” como brinquedos sensoriais e, no caso dos Pop it!, fala em estímulos visuais, por causa das cores, no tato, de tanto “rebentar” as bolhas, e no som (“pop!”).  Destaca ainda a componente social dos brinquedos sobretudo porque estes prestam-se a trocas, o que contribui para o desenvolvimento das competências sociais — embora isso não seja diferente da tradicional troca de cromos, sejam eles alusivos a jogadores de futebol ou a um qualquer desenho animado em voga.

"Dirigir a atenção para este brinquedo pode ser uma forma como outra qualquer de nos focarmos no aqui e no agora. Pode ser diferente de criança para criança, até porque as pessoas têm níveis de conforto diferentes. A sensibilidade aos estímulos é individual."
Inês Afonso Marques, psicóloga infantil

Do ponto de vista terapêutico, considerando crianças até aos 10 anos de idade, não faz sentido falar dos Pop it!, reforça Luís Alberto, presidente da Associação dos Profissionais de Educação de Infância, que lembra que o brincar nunca dependeu de brinquedos sofisticados. É antes uma atividade rica, diz, que depende da criança que vai encontrar oportunidades em diferentes objetos. Cada brincar tem uma dinâmica e todo o brinquedo é, nesse sentido, um objeto multifunções.

Já relacionar a popularidade do Pop it! com a pandemia faz sentido se este tiver sido vendido como um brinquedo calmante. “Se foi feita a associação, faz sentido. Durante a pandemia assistimos a um aumento de sintomatologia ansiosa e depressiva na população em geral”, diz a psicóloga Inês Afonso Marques. E encará-lo como um substituto do ecrã? “Era preciso que o tempo e o interesse do Pop it! fosse igual ao ecrã”, salienta ainda a pediatra Núria Madureira.

A criação do Pop it!, tal qual o conhecemos, está relacionado com um sonho curioso que a criadora teve ainda na década de 70

Andrei Akushevich/iStockphoto

Uma questão de segurança: os cuidados a ter em conta

Todos os brinquedos exigem cuidados, isso é ponto assente, e os Pop it! não são exceção. Apesar disso, Helena Sacadura Botte, da Associação Para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), destaca que não encontrou qualquer notificação no Safety Gate, que basicamente é um sistema de alerta de produtos perigosos não alimentares no mercado europeu.

Não que isso signifique que não haja estratégias que os pais podem adotar quando a comprar um brinquedo. Como adquiri-los sempre em lojas ou sites fidedignos; confirmar que apresentam a marcação CE (apesar de não ser uma garantia de segurança, é uma presunção de conformidade com os requisitos legais); que existe também a indicação do nome do fabricante ou marca e um endereço na eventualidade de ser preciso fazer uma reclamação (via Direção Geral do Consumidor  ou ASAE); e confirmar a existência do tipo, número do lote, série ou modelo que permita a identificação do brinquedo (em caso de dúvidas pode sempre consultar este guia).

Helena Sacadura Botte assegura que é preferível pagar mais e ter a garantia de que determinado brinquedo é seguro e aconselha ainda os pais a guardarem as embalagens durante algum tempo para terem as indicações necessárias em caso de reclamação (e, aqui, a reclamação é tida como fundamental para prevenir futuros incidentes).

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