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Está prestes a arrancar a temporada dos festivais de grande dimensão — a primeira desde 2019, após dois anos de paragem provocadas pela pandemia da Covid-19. Ao longo de três dias, no Parque da Cidade do Porto, os cinco palcos do festival NOS Primavera Sound vão acolher um total de 65 atuações, entre concertos (a maioria), live acts e DJ sets.
Como a oferta de concertos é grande, com atuações a acontecerem em simultâneo pelos diferentes palcos ao longo do festival, decidimos preparar um roteiro para passar os três dias. Partilhamos tudo: os concertos que não vamos mesmo querer perder, as dúvidas que ainda temos e as bancas a que vamos jantar.
Fizemos ainda uma playlist que resume as escolhas do nosso roteiro, com boa parte do melhor que se ouvirá no Parque da Cidade do Porto.
Quinta-feira, 9 de junho: o menu do primeiro dia
De Throes + The Shine a Nick Cave, dos Tame Impala ao pernil: estas são as nossas sugestões para o primeiro dia do festival.
17h, Throes + The Shine, palco Super Bock
Começar um festival a dançar é sempre uma boa ideia. Portanto, vamos a isso: arrancamos às 17h de quinta-feira no palco cervejeiro do festival, com os Throes + The Shine. O grupo lançou o seu primeiro disco há exatamente dez anos, em 2012. Intitulado Rockduro, era uma carta de intenções de uma banda que aliava elementos de rock e kuduro na sua música. Com os anos vieram quatro mais discos (Mambos de Outro Tipo, Wanga, Enza e Aqui, o último dos quais lançado já este ano) e uma aproximação cada vez maior à dança afro-eletrónica. Com muitos concertos dados nos últimos anos fora de portas e com uma identidade sonora marcadamente lusófona, já mostraram que sabem fazer de um concerto uma festa comunitária. Bailemos com eles.
17h45, Pedro Mafama, palco NOS
Terminado o concerto de Throes + The Shine, um bom plano pode passar por seguir para o concerto de Pedro Mafama, que corta as fitas do palco principal do festival às 17h45 de quinta-feira. Na bagagem o músico e cantor traz o disco Por Este Rio Abaixo, mais recente (2021), e os mini-álbuns Má Fama (2017) e Tanto Sal (2018). A sua música é uma procura de fusão entre as técnicas da produção pop mundial mais moderna e ritmos repescados às velhas tradições musicais populares da lusofonia (não apenas portuguesas, não apenas o fado). São canções eletrónicas e R&B mas com cante arrastado, arabescos na voz, fantasmas sebastianistas e bombos, é passado e futuro a servirem de ingredientes para esta mistura pop do presente.
18h25, DIIV, palco Cupra
Com alguma sorte ainda conseguimos ouvir uns bons minutos do concerto dos norte-americanos DIIV, rapaziada valente das guitarras que ainda nos canta versos como “i wanna be your dog” e que deixa as guitarras, a bateria, o baixo e o teclado espraiarem-se eletricamente pelas cantigas. Com um primeiro álbum, Oshin, lançado há dez anos, editaram ainda Is the Is Are (2016) e o mais recente Deceiver (2019). Vão do grunge ao shoegaze e, nas canções mais serenas, ao dream-pop. Em palavras menos técnicas: tanto são capazes de nos agitar como de nos apaziguar, de guitarras elétricas nas mãos e espírito indie-rock nas veias.
19h30 Sandes de pernil da Casa Guedes
Já de ouvidos embalados, sigamos para o conforto do estômago. Se há característica que distingue o NOS Primavera Sound de todos os outros festivais é precisamente a sua peculiar oferta gastronómica: em vez de apenas franchises internacionais e famosas cadeias de fast-food, encontramos no recinto alguns dos restaurantes e snacks mais emblemáticos e antigos do Porto. Para a primeira noite já temos jantar na mira, o coração suspira pela insuperável sandes de pernil com queijo da serra da Casa Guedes. Pode ser que nos alivie a consciência por falharmos o concerto de Stella Donelly (19h30, palco principal).
20h10, Kim Gordon, palco Binance / 20h30, Sky Ferreira, palco Super Bock
Um festival com vários palcos faz-se sempre de escolhas e na primeira noite temos logo a primeira difícil, no pós-jantar: dedicamos mais tempo ao concerto de Kim Gordon, a antiga baixista, guitarrista e cantora dos Sonic Youth que em 2019 editou um álbum a solo intitulado No Home Record (20h10, palco Binance), ou vamos antes ver Sky Ferreira, a queridinha norte-americana da pop indie que boa parte do mundo descobriu em 2013, devido ao álbum Night Time, My Time? Hoje ainda não conseguimos escolher, talvez amanhã seja mais fácil.
21h20, Nick Cave & The Bad Seeds, palco NOS
O que sabemos mesmo que não vamos querer perder é o concerto de Nick Cave. Depois daquela missa abençoada de 2018, a salvação encontrada nem que tenha sido só por uns minutos à chuva no Parque da Cidade do Porto, reencontraremos um velho amigo neste momento tão difícil: há um mês perdeu um filho, Jethro Lazenby, que morreu aos 31 anos de idade, já depois de ter perdido um outro filho de apenas 15 anos, Arthur Cave, em 2015. São demasiadas tragédias para um homem só mas Nick Cave não cancelou a atual digressão e provavelmente anda pelos palcos já não como profeta mas à procura de fé, na música e nas canções. Além dos clássicos (“Into My Arms”, “Red Right Hand”, “Where the Wild Roses Grow”) ouvir-se-ão por certo temas recentes, dos discos Ghosteen (2019) e CARNAGE (2021), o último assinado por Nick Cave e pelo seu companheiro musical de longa data Warren Ellis.
22h30, Black Midi, palco Binance
Temos a experiência de 2018 bem viva e lembramo-nos bem que depois de um concerto de Nick Cave & The Bad Seeds é difícil ter um estado de espírito apropriado para ir ouvir mais música — e música de tom muito diferente — logo a seguir. Mas há que tentar. E à nossa espera estarão os britânicos Black Midi, uma daquelas bandas a quem se aponta criatividade na renovação do rock mais alternativo. Muito simplesmente, é gente que tem prazer em pegar nas fórmulas convencionais do rock e atirá-las para o galheiro. Chama, energia e uma certa neurose rítmica bem apropriada a estes tempos não lhes falta.
23h45, Cigarettes After Sex, palco Cupra / 0h, Nídia, palco Bits
Onde iremos nós a seguir, enlevar-nos na seda dengosa dos Cigarettes After Sex (23h45, palco Cupra) ou exorcitar chatices com o esqueleto, ao som das batidas contagiantes de Nídia (meia-noite, palco Bits)? Novamente, deixemos a questão para amanhã. São duas boas propostas musicais, para estados de espírito muito diferentes: a primeira para quem quiser canções de mel, a segunda para quem estiver à procura de festa endiabrada. Bom, logo vemos como corre o dia.
0h50, Tame Impala, palco NOS
É já quase inevitável assumir que The Slow Rush, o mais recente álbum dos Tame Impala (2020), foi um bocadinho frouxo. Não é que a música seja má (não é), que o álbum não tenha tido ouvintes (teve-os) e que não se retirem dali canções com bom gosto (retiram). Talvez tudo isto se deva apenas a algum cansaço nosso. Depois de InnerSpeaker, magnífica estreia de 2010, e de Lonerism (2012) e Currents (2015), a fasquia pode ter ficado demasiado alta — e agora um bom disco sem canções que queremos ouvir em loop durante semanas e meses pode saber a pouco. Ainda assim, são os Tame Impala, a melhor exportação da Austrália desde a Cate Blanchett, a banda que resgatou e popularizou outra vez o psicadelismo e as canções-LSD (mais açucaradas, as mais recentes) dos 60’s. Que nos perdoe a norte-americana Caroline Polachek, que em 2021 encantou o mundo com “Bunny Is a Rider” e que atua no palco Binance mais ou menos à mesma hora, a partir das 0h45.
Sexta-feira, 10 de junho: o menu do segundo dia
De Rita Vian a Beck, dos Pavement à bifana: estas são as nossas sugestões para o segundo dia do festival.
17h Montanhas Azuis palco Super Bock
Se no primeiro dia arrancamos com festa, no segundo dia o que propomos é um arranque diferente: mais contemplativo, mais especial, menos frenético e dançante. Às 17h veremos em palco Montanhas Azuis, o projeto que uniu os músicos Norberto Lobo, Bruno Pernadas e Marco Franco. Muito ancorado nos sintetizadores e em efeitos de manipulação de voz, com um disco editado em 2019 intitulado Ilha de Plástico, prometem um bom concerto para se ver sentado na relva, com o sol ainda a brilhar.
18h, Rita Vian, palco Binance
Depois de Montanhas Azuis, eis um novo concerto — e daqueles imperdíveis — que fazem com que seja recomendável chegar ao recinto cedo, na sexta-feira. Quando Rita Vian editou o seu primeiro mini-álbum (ou EP), CAOS’A, já depois de revelar uma grande canção chamada “Purga”, escrevíamos aqui que na voz tem um travo fadista e no ritmo traz a batida eletrónica. E que é no futuro, procurando um novo som e uma nova fórmula de canção pop, que Rita Vian canta a melancolia portuguesa. A sua música é uma revelação, a sua escrita é cuidada e o futuro da música portuguesa passará certamente também por si.
19h, Maria José Llergo, palco Super Bock
Pedimos desde já desculpa a Rina Sawayana, que atua à mesmíssima hora no palco Cupra, mas queremos mesmo um fim de tarde ibérico na sexta-feira, no NOS Primavera Sound. Com uma passagem recente pelo Theatro Circo, em Braga (há muito anunciada, adiada devido à pandemia da Covid-19), Maria José Llergo é um dos talentos mais emergentes da canção espanhola. Em 2020 lançou o seu primeiro conjunto de canções, Sanación, um EP com sete temas. Desde aí ouvimos-lhe singles e canções avulsas que só confirmam o potencial. A andaluz de Pozoblanco, pequeno município de Córdoba, traz o flamenco para o presente e, num equilíbrio bem doseado entre o respeito pela tradição e a originalidade, canta-o com personalidade e com condimentos eletrónicos. Dificilmente terá o apelo pop de uma Rosalía mas tem tudo para fazer uma carreira de dimensão mundial.
20h, Bifana da Conga
Os fãs dos Slowdive que nos perdoem — sabemos que estarão tão próximos do palco principal quanto possível, a partir das 20h, para verem os veteranos britânicos do shoegaze e do rock alternativo. Mas as escolhas, o estômago… e sobretudo as bifanas da Conga, bifanas a sério (não são febras). A fome é capaz de levar a melhor e o facto de os Slowdive já terem dado vários concertos em Portugal nos últimos anos (em 2018 em Paredes de Coura, Lisboa e Porto, em 2015 em Paredes de Coura e no ano anterior neste mesmo festival) ajuda à escolha do horário.
21h20, King Krule, palco Cupra
Já jantados, propomos um digestivo ao som de King Krule. Archy Marshall, assim se chama o ruivo, parecia ter tudo para vir a ser uma figura proeminente da música popular depois de 6 Feet Beneath the Moon. Nesse disco, tinha canções como “Baby Blue” e surpreendia por uma mistura entre uma certa doçura rítmica (alimentada a guitarra) e uma voz invulgar, quase cavernosa, que parecia estranha para a figura precoce e jovem do rapaz. King Krule, porém, escolheu caminhos menos óbvios e aprofundou a divergência face à canção pop nos discos seguintes, The OOZ (2017) e Man Alive! (2020), ótimos discos feitos de retalhos de rock desprendido, free-jazz e divagações espaciais estilo ansiolíticos.
22h30, Beck, palco NOS
É um dos cabeças de cartaz do festival, garantidamente um dos artistas que mais terá ajudado a vender bilhetes — ainda que o público do NOS Primavera Sound seja relativamente fiel, confiante à partida de que o cartaz justificará sempre a peregrinação. Os motivos de interesse são óbvios, estão nas grandes canções de Beck, quer na sua faceta mais folkie e serena (Sea Change, Morning Phase) quer na sua faceta mais festiva e disruptiva (Odelay, Mellow Gold, Guero). Há quase 15 anos que o músico e cantor não atua em Portugal, pelo que a expectativa é grande.
23h40, Arnaldo Antunes, palco Cupra
Há três anos, na edição que ninguém imaginava que seria a última antes da pandemia da Covid-19, quem foi ao NOS Primavera Sound teve direito a um dia de luso-tropicalismo com o Brasil em força, graças a concertos da banda O Terno e do inigualável Jorge Ben Jor. Este ano, a presença brasileira sentir-se-á em força no concerto de Arnaldo Antunes, que marcou a música lusófona nos anos 80 com a banda Os Titãs e que passaria mais tarde pelos Tribalistas. Com uma longa discografia também a solo, Arnaldo Antunes não transformará o Parque da Cidade num sambódromo soul-funk festivo — como o fez Jorge Ben Jor — mas promete doçura e intimidade a cantar “devagarinho”, aos “pouquinhos”.
0h45, Pavement, palco NOS
É provável que nesta edição do NOS Primavera Sound a média etária dos espectadores seja um pouco mais elevada do que em 2019 (ano de J Balvin e Rosalía), quer ao longo dos três dias quer em especial no segundo . Beck é um dos motivos, mas outro está nos Pavement, banda norte-americana que ajudou a definir parte do melhor indie-rock dos anos 1990. Há fãs que estão há muitos anos à espera do grupo que acabou em 1999, voltou ao ativo em 2010 para uma série de concertos e só agora regressou aos palcos, em 2022, para celebrar 30 anos de nascimento. Previam-se apenas duas atuações em 2020, no Porto e em Barcelona, mas a pandemia da Covid-19 adiou os espectáculos para 2022 e ampliou a digressão. Cantemos a plenos pulmões “Cut Your Hair”, “Gold Soundz” ou “Range Life”, verdadeiros hinos de desajustados que, em algum ponto da vida, encontraram no rock alternativo um refúgio e uma religião.
2h, Chico da Tina, palco Binance
Mais do que não seja pela curiosidade, estamos expectantes para perceber como pode ser um concerto de Chico da Tina no Porto e num festival indie. Como será a reação do público a este trap do Minho capaz de nos confundir, num momento a parecer gabarolice gratuita, noutro logo a seguir a parecer paródia da ostentação americana? É tão imprevisível que valerá a pena ver.
Sábado, 11 de junho: o menu do terceiro dia
De Helado Negro a Little Simz, dos Gorillaz ao cachorrinho: estas são as nossas sugestões para o terceiro e último dia do festival.
17h Dry Cleaning, palco Cupra
É quase uma heresia ignorar o concerto de David Bruno, o homem do último tango dançado em Mafamude, o agente secreto de Miramar Confidencial, o romântico das viagens pelo interior e das noites de festa da espuma em Salamanca, a atuar “em casa” às 17h (palco Super Bock). Porque David é a prova de que o humor musical pode afinal dar boa música, que a portugalidade existe mesmo e que há, no nosso passado e presente, hábitos só nossos, inexplicáveis de tão impossíveis de inventar. Mas à mesma hora atuam os britânicos Dry Cleaning, outra das bandas nascidas no Reino Unido nos últimos anos que se vai impondo no panorama alternativo, com a sua tensão elétrica e o seu pós-punk. Vão apresentar os temas do primeiro disco New Long Leg, um dos álbuns de rock alternativo mais elogiados pela crítica nos últimos anos.
18h Helado Negro, palco NOS
Prossigamos a tarde à procura do fim do dia com Roberto Carlos Lange, o norte-americano filho de emigrantes equatorianos que na música assina com o nome artístico Helado Negro. Já com alguns álbuns e mini-álbuns editados, afirmou-se em 2019 com o disco This Is How You Smile, espécie de melancolia sorridente, de cantor e compositor a espreguiçar-se com jeitinho mas também com saudades (de muita coisa, não vale a pena agora especificar o quê). No ano passado editou o disco Far In, levando ainda mais para o terreno do sonho e do psicadelismo reconfortante as suas canções. Talvez pudesse ser um concerto mais agradável em horário ligeiramente mais tardio, mais adequado a estas canções-brisa noturna, mas não o vamos querer perder.
19h Khruangbin, palco Cupra
Há três anos, quando os vimos na última edição do Vodafone Paredes de Coura antes da pandemia, escrevíamos que os texanos Khruangbin tinham dado uma lição: provaram que muitas vezes não é preciso voz, basta uma bateria certeira, guitarras ondulantes e algumas interjeições sonoras de quando em quando para hipnotizar com um psicadelismo de outras latitudes, infundido de música dub e blues. A fórmula da banda, maioritariamente instrumental, funciona como relaxante festivaleiro e é particularmente eficaz aos fins de tarde. Não é por acaso que três anos depois, ei-los a tocar no Porto em horário parecido. Não podíamos pedir aperitivo melhor para o jantar.
20h Cachorrinho do Gazela
Não queríamos nada perder o rock clássico dos Dinosaur Jr. (20h, palco NOS) ou o funk-soul eletrónico e cheio de groove de Jamila Woods (20h10, palco Binance). Mas esta pode ser a hora menos má para jantar, até porque convém ver um concerto que acontece logo a seguir com a máxima atenção. E, portanto, talvez acabemos a recordar o quão bom pode ser um cachorro com os do Gazela, mais uma instituição do Porto. Podíamos optar antes pelos lanches da Padaria Ribeiro, pelas sandes de A Badalhoca, pelas francesinhas do Lado B, pela frescura do Dom Peixe, por muito mais. E não prometemos que se nos der a fome fora de horas…
21h20 Little Simz, palco Cupra
É uma das estreias em Portugal que imaginemos poder futuramente lembrar: “esta foi a primeira vez que vi um concerto da Little Simz“. A rapper britânica entrou num mundo muito dominado por homens (o do hip-hop) e tornou-se a dona disto tudo, com dois discos que fizeram de “Simbi” uma das grandes artistas do presente: foram eles Grey Area (2019) e Sometimes I Might Be Introvert (2021). Seja em temas mais aproximados ao formato canção, como “Woman”, “101 FM” ou “Selfish”, ou em temas de rimas alucinantes, como “Introvert”, Little Simz tem bom gosto, uma escrita cuidada e uma grande capacidade de casar (no tom e tempo certo) os ritmos e as batidas com as palavras. Promete ser um dos grandes concertos do festival.
23h, DJ Firmeza, palco Bits
Porque os Interpol são habitués, com passagem recente até por este festival, talvez espreitemos apenas uns minutos do concerto da banda de Turn Out the Bright Lights (o disco mais marcante, precisamente o primeiro, de 2002) e Antics. Até terão um disco novo este ano, previsto para julho, pelo que valerá a pena espreitar. Mas 30 minutos depois do início do concerto dos Interpol no palco principal entra em cena DJ Firmeza no palco Bits. O português, que na verdade chama-se Cílio Pegado e é nascido e criado no bairro da Quinta do Mocho, é um dos principais artistas da editora Príncipe Discos, que fez da afro-dança das periferias de Lisboa (chamam-lhe “música do ghetto”) um fenómeno musical único em Portugal e relevante no mundo. Quem disse que só o rock faz suar?
23h55, Grimes DJ Set, palco Cupra
Quem também promete fazer dançar na noite de sábado (e, já, madrugada de domingo) é a canadiana Claire Elise Boucher, mais conhecida pelo seu nome artístico Grimes. A cantora, compositora e produtora musica de 34 anos, que já editou discos como Visions (2012) e o recente Miss Anthropocene (2020), vai atuar no festival em formato DJ set.
1h Gorillaz, palco NOS
É outra das apostas fortes do festival para este ano e mais uma inteiramente compreensível, até porque os concertos que dão são poucos e em Portugal não são vistos há muito. Os Gorillaz, a “banda virtual/animada” de Damon Albarn (fundada com Jamie Hewlett), atuam a partir da 1h no palco principal e serão em princípio garantia de dança e festa, ao som de temas como “Clint Eastwood”, “Last Living Souls”, “Tomorrow Comes Today”, “On Melancholy Hill”, “Feel Good Inc.”, “Dirty Harry” ou “Demon Days”.
2h Earl Sweatshirt, palco Binance
Depois da festa, o hip-hop mais alternativo: antigo membro do coletivo Odd Future, do seu amigo Tyler, The Creator, Earl Sweatshirt começou por afirmar-se a solo com os discos Doris (2013) e I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside (2015). Nos últimos anos, porém, tem procurado fugir cada vez mais ao hip-hop mais popular, experimentando ritmos mais lo-fi e enevoados em álbuns como Some Rap Songs (2018) e o recente SICK! (2022). Quase como se desconstruísse a fórmula límpida do hip-hop mais sintonizado com a pop, é, na lírica e escrita, um dos rappers mais complexos e profundos do presente. Quem gostar do género pode ter na última madrugada do festival uma boa aula.
3h15, Joy Orbison, palco Bits
Quem ainda tiver energia para dançar madrugada fora tem, a partir das 3h15, o ambiente certo no palco Bits. Peter O’Grady, mais conhecido como Joy Orbison, é um dos nomes importantes da música de dança recente feita no Reino Unido. Depois de mais de dez anos a lançar singles e mini-álbuns (EP), editou no ano passado Still Slipping Vol. 1, o primeiro álbum completo. É uma boa oportunidade para encerrar o festival em beleza — na pista.