896kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1476355137
i

Getty Images

Getty Images

Uma acusação como as da Máfia, um julgamento na TV e uma campanha presidencial inédita. A nova acusação a Trump é a mais grave até agora

Cerco judicial ao ex-Presidente aperta com nova acusação na Geórgia, que pode valer uma pena pesada. Trump é acusado de conspiração para alterar resultados eleitorais, mas continua em campanha.

    Índice

    Índice

“Oiça, só quero fazer isto: só quero encontrar 11,780 votos, que é mais do que os que temos. Porque nós ganhámos neste estado.”

Era o dia 2 de janeiro de 2021. A eleição presidencial dos Estados Unidos tinha ocorrido há dois meses e Donald Trump continuava a não reconhecer a vitória do adversário Joe Biden. Naquele dia, o ainda Presidente decidiu telefonar a Brad Raffensperger, secretário de estado da Geórgia, o homem que tinha como responsabilidade garantir que as eleições naquele estado decorrem dentro das regras.

Em causa estava o conjunto de mais de dez mil votos que Trump e a sua equipa continuavam a dizer terem “desaparecido” na Geórgia, embora não houvesse nenhuma prova concreta nesse sentido.

GettyImages-1086449736

Um telefonema de Trump para o secretário de estado da Geórgia é uma das provas da acusação

Getty Images

“As pessoas da Geórgia estão zangadas, as pessoas deste país estão zangadas. E não há nada de errado com dizeres que fizeste novamente as contas”, acrescentou Trump. Raffensperger, que fora eleito pelo Partido Republicano e era insuspeito de ser próximo de Biden, respondeu: “Senhor Presidente, o desafio aqui está no facto de que os dados que tem estão errados.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não é possível eu ter perdido a Geórgia, não é possível”, foi repetindo Trump ao longo de toda a chamada, de cerca de uma hora, enquanto insistia para que o secretário de estado continuasse “à procura” desses votos. Um dia depois, uma gravação da chamada era publicada pelo Washington Post. Os democratas pediram investigações; os republicanos mantiveram-se em silêncio.

Agora, dois anos e meio depois, este telefonema é uma das principais provas incluídas no novo processo judicial que foi aberto contra Donald Trump. E que é o mais grave dos vários processos que o antigo Presidente enfrenta.

O caso “mais duradouro e ameaçador” até agora

A bomba explodiu na noite desta segunda-feira. A procuradora Fani Willis comunicou que vai acusar o antigo Presidente de 13 crimes e 18 pessoas próximas dele — como o advogado Rudy Giuliani e o antigo chefe de gabinete da Casa Branca Mark Meadows — de uma série de outros delitos. E a acusação principal é séria: conspiração para tentar alterar os resultados eleitorais das eleições presidenciais no estado da Geórgia.

Rudy Giuliani Appears Before Michigan State Legislature's House Oversight Committee

O advogado Rudy Giuliani está acusado como co-conspirador

Getty Images

Para isso, os procuradores terão de provar que Trump e os co-conspiradores criaram uma organização entre si com o objetivo de alterar os resultados da eleição de 2020. Muitas das provas que serão apresentadas em julgamento já são conhecidas: o telefonema do Presidente a Raffensperger e a vários outros responsáveis, a conferência de imprensa de Giuliani onde denunciou uma fraude eleitoral, a cópia de dados de urnas eletrónicas por parte de membros da equipa de Trump e o envio de eleitores do Colégio Eleitoral para aquele estado (muito embora ali só pudessem estar eleitores pró-Biden, por este ter vencido naquele estado).

Não é certo que as provas convençam em tribunal, mas formaram indícios suficientemente fortes para que um grande júri do estado decidisse avançar com a acusação formal.

Este é a quarta investigação judicial a surgir sobre Donald Trump. Há ainda o caso do ataque ao Capitólio, no qual foi formalmente acusado a 1 de agosto; as acusações de desvio de material classificado, que serão julgadas a partir de maio de 2024; e o caso do pagamento à estrela porno Stormy Daniels, que vai a tribunal a partir de março do próximo ano.

A defesa de Trump no caso do ataque ao Capitólio tem assentado na ideia de que as declarações do Presidente se enquadram no princípio da liberdade de expressão, o que indica que essa pode ser também uma defesa que virá a ser usada neste caso. Mas, como aponta a revista Time, o caso da Geórgia pode vir a ser “o mais duradouro, mais ameaçador e a dor de cabeça mais importante que Trump enfrenta”. Por uma razão simples: é um caso onde a pena, caso seja condenado, não se limita a uma multa, podendo ir de cinco a 20 anos de prisão.

Julgamento rápido pode ser transmitido na televisão

Trump terá de se apresentar até 25 de agosto junto das autoridades, para declarar-se inocente ou culpado. O xerife local já declarou que, até indicações em contrário do FBI, tenciona que Trump seja tratado como todos os outros arguidos, e portanto sujeito a algemas e a tirar fotografia para o cadastro.

Os especialistas apontam como este caso pode ser particularmente danoso para o ex-Presidente. O antigo procurador Harry Litman lembrou, numa coluna de opinião publicada no LA Times, que o estado da Georgia tem uma série de características pouco favoráveis a Trump. Uma delas é o facto de tender a manter suspeitos que podem intimidar testemunhas em prisão preventiva. A outra está relacionada com os julgamentos rápidos que permite, o que pode significar um julgamento ainda antes das eleições presidenciais de 2024, a que Trump é candidato.

E o julgamento pode ser uma dor de cabeça para o candidato Trump se acontecer antes das eleições, porque, ao contrário dos restantes, este pode ser transmitido na televisão. “Há uma diferença entre a acusação e o momento em que o réu está ali sentado no tribunal e em como isso tem impacto nos eleitores”, lembrou à CNN o antigo chefe de gabinete de Mike Pence, Marc Short.

RICO, o instrumento que Giuliani usou para apanhar “Fat Tony” e é agora usado contra Trump

O caso da Geórgia, porém, assenta numa estratégia ousada por parte da acusação. Trump não está apenas acusado de tentar interferir nas eleições, está acusado de conspiração. Isto graças a um instrumento conhecido por RICO, sigla para Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act, que é usado por vários procuradores para acusar um grupo de um crime grave que engloba várias atividades ilegais, em vez de vários pequenos crimes — e garantindo assim uma pena mais pesada em caso de condenação.

GettyImages-1600215844

A procuradora Fani Willis usou o instrumento RICO para acusar Trump de conspiração

AFP via Getty Images

A procuradora encarregue deste caso, Fani Willis, já recorreu ao RICO para conseguir algumas condenações, incluindo contra um grupo de diretores escolares que conspiraram para alterar notas. E o mesmo fez o próprio Rudy Giuliani, como lembra o New York Times: quando era procurador em Nova Iorque, Giuliani conseguiu condenar assim vários grupos mafiosos e padrinhos do crime como “Fat Tony” Salerno e “Tony Ducks” Corallo.

Mas como apontou ao jornal o antigo procurador da Geórgia Michael J. Moore, a estratégia de recorrer ao RICO traz riscos: “Quando se pesca com uma rede tão grande, corre-se o risco de se ficar enredado nela”, disse. Por outras palavras: quanto mais complexa a acusação, mais difícil é os jurados compreenderem toda a teia.

Republicanos ao lado de Trump. Pelo menos por agora

Todo este processo vai decorrer em paralelo com a campanha presidencial na qual Donald Trump, candidato às primárias do Partido Republicano, participa.

Não é de todo certo que o caso judicial — e um possível julgamento — prejudiquem Trump, nem mesmo no caso de ele ficar a aguardar julgamento em prisão preventiva. Isto porque a Constituição norte-americana não impede um candidato de estar na prisão. Isso, aliás, aconteceu em 1920, quando o socialista Eugene Debs concorreu à presidência atrás das grades. Mas a concorrer pelo Partido Socialista, não era um favorito à vitória, como no caso de Trump. O que significa que esta será uma campanha inédita.

As sondagens também têm revelado que os casos judiciais não perturbam a popularidade de Donald Trump. Um estudo de opinião do mês passado do Times mostra que 71% dos eleitores republicanos consideram que o partido devia apoiar Trump — a mesma percentagem que acha que ele não cometeu nenhum crime.

A maioria desses eleitores concorda com a resposta do ex-Presidente, que diz que tudo não passa de uma “caça às bruxas” por parte de um “sistema” que o quer derrubar. E não é de esperar que seja diferente com este caso, como disse ao New York Times a consultora republicana Sarah Longwell: “Eles não conseguem distinguir o caso da Geórgia dos do Jack Smith [procurador que investiga o ataque ao Capitólio e o desvio de materiais classificados] porque tudo se mistura numa longa cobertura noticiosa sobre os problemas de Trump.”

Trump continua à frente nas sondagens para as primárias do Partido Republicano

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O julgamento televisivo, porém, pode alterar essa dinâmica, com este caso a ganhar destaque. E o veredito pode ser decisivo para todo o futuro de Trump, prevê ao mesmo jornal Whit Ayres, especialista em sondagens do Partido Republicano: “Uma condenação por um crime grave pode mudar a opinião no partido, pelo menos de alguns indecisos. Por outro lado, se for ilibado isso praticamente garante que ele será o candidato à presidência.”

Uma coisa é certa: Donald Trump não vai recuar. Na mesma noite em que a procuradora Fani Willis anunciou a acusação, a campanha do ex-Presidente enviou um email aos apoiantes a pedir donativos contra o “QUARTO ATO da Interferência Eleitoral em nome dos Democratas”, nota o The Guardian.

Pouco depois, Trump anunciava uma conferência de imprensa para a próxima segunda-feira. Ali irá revelar toda a “Fraude Eleitoral” que diz ter acontecido no estado da Geórgia a favor de Joe Biden, prometeu. Quatro dias depois, Donald Trump terá de se apresentar às autoridades judiciais.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.