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O que é a deflação?

A definição de deflação é uma queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida dos preços (inflação). A deflação acontece quando o dinheiro se torna relativamente mais valioso que os outros bens na economia.

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Como surge a deflação?

A deflação pode ocorrer com a combinação de quatro fatores: a oferta de dinheiro diminui, a oferta de bens aumenta, a procura por dinheiro aumenta, a procura por bens diminui.

A deflação acontece geralmente quando a oferta de bens aumenta mais rápido que a oferta de dinheiro. Por exemplo, a oferta de computadores aumentou muito nos últimos quinze anos devido ao desenvolvimento tecnológico, a um ritmo muito mais avançado do que a oferta de dinheiro, levando a uma queda nos preços desses computadores.

Quando este efeito é generalizado em vários setores, a deflação torna-se um risco real.

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Porque pode a deflação ser um problema?

Geralmente, as economias e os bancos centrais estão preocupados em conter o aumento dos preços. Se o aumento dos preços pode ser um problema, porque é que a queda dos preços também pode ser má?

Quando os preços começam a cair, se os salários se mantiverem estáveis, as pessoas podem ganhar poder de compra. As poupanças de uma pessoa dariam para comprar mais bens e serviços, já que o dinheiro se mantém o mesmo em termos nominais, e os preços dos bens baixam. A menos que os bancos passe a taxas negativas os depósitos (passam a cobrar para se poder guardar dinheiro no banco, ao contrário do que é a prática comum).

No entanto, para quem tem dívidas a história é diferente. Como o valor do seu dinheiro se mantém, ou mesmo diminui, os devedores têm de continuar a pagar os seus empréstimos, cujo valor não diminui. Ao mesmo tempo, os ativos que foram dados como garantias para receber esses empréstimos sofrem uma diminuição no seu preço, o que leva ao banco a exigir mais garantias para compensar um eventual incumprimento.

Quanto mais os preços caem, mais ativos têm de ser dados para compensar a diferença, o que pode levar a uma espiral de dívida que acaba, no extremo, com o colapso financeiro do devedor.

O que se usou para comprar aquele empréstimo está a perder valor, enquanto a dívida se mantém igual.

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Mas se as taxas de juro são baixas, isso não é bom para um investidor?

Não. Se a taxa de juro for de apenas 0,25% e os preços estiverem a cair 3,75%, a taxa de juro real acaba por ser de 4%.

Este efeito vê-se nos juros da dívida pública. A taxa de juro pode estar a cair em termos gerais, mas se houver deflação, o custo da dívida acaba por ser muito superior ao da simples taxa de juro de mercado e gera-se um novo efeito negativo para um país, porque mais uma vez, a dívida continua com um valor nominal que tem de ser pago e que se mantém constante, apesar do valor do dinheiro do devedor para a pagar continuar igual ou mesmo vir a cair.

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E para as empresas?

Para além do financiamento, as empresas exportadoras e/ou importadoras podem também ter outro problema: como os preços caem, os bens que são exportados são mais baratos e assim podem gerar receitas mais baixas. Por sua vez, as importações também podem ficar mais caras.

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A deflação é sempre má?

Se for apenas uma queda nos preços de alguns setores da economia, isso pode querer dizer que as empresas estão a conseguir produzir constantemente bens cada vez mais baratos, graças a cortes nos custos e ganhos de eficiência. Tal seria positivo porque pode permitir que o crescimento da economia se mantenha forte, que os lucros aumentem e que o desemprego caia, sem causar inflação.

Mas muitos economistas consideram que a deflação pode ser tanto a doença, como um sintoma de uma doença maior.

Se todos os fatores se verificarem, os preços dos ativos na economia podem cair (os terrenos, as ações), enquanto a dívida se mantém igual. No caso do Estado, o rácio da dívida pública face ao PIB pode aumentar, já que o próprio valor do PIB é afetado pela queda nos preços (cresce menos devido ao efeito preço todos os anos).

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Há deflação na Europa?

Nesta altura verificam-se aumentos baixos nos preços. A taxa de inflação na União Europeia desceu para o seu mínimo em cinco anos, 0,5%.

Grécia, Bulgária, Chipre e Irlanda viram os preços cair em 2013. Na Hungria a inflação está no seu nível mais baixo desde 1974. Em Portugal, Espanha e Letónia os preços ficaram praticamente inalterados. Na Suécia, Dinamarca, Lituânia e Malta aumentam apenas 0,5%.

O BCE e os bancos centrais estão de sobreaviso, já começaram a admitir que podem existir riscos, mas ainda há muitos que consideram que só existe deflação na periferia.

Se os problemas são só na periferia, isso significa que os restantes países não estão em risco? O nobel da economia Paul Krugman diz que o risco se estende a todos. Isto porque estes países já têm divida muito altas e, se o problema se agrava, pode impor um fardo muito maior nestes países e agravar consideravelmente os problemas que a crise da zona euro expôs e que durante tantos anos os líderes europeus e as troikas tentaram resolver.

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E em Portugal há deflação?

Só o tempo o dirá se Portugal corre esse risco. Os preços em Portugal foram afetados severamente por alterações administrativas – leia-se, aumentos de impostos. Os aumentos de impostos em si criam também um aumento nos preços dos produtos, o que acaba por criar inflação de uma forma mais “artificial”.

Estes aumentos de impostos levaram a que nos primeiros anos em que a troika esteve em Portugal existissem fortes taxas de inflação. Essas taxas são mais reduzidas não só por um efeito de base para a comparação (anual) mas também porque o INE reviu a metodologia (alterando alguns dos produtos usados para compor o cabaz usado para calcular a inflação) para o cálculo do índice de preços.

Isto quer dizer que os preços não desceram? Não. Em alguns setores houve um ajuste para baixo nos preços. Uns pela queda nos salários pagos, outros por cortes nos custos e ganhos de eficiência das empresas.

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Como se pode combatera deflação?

Normalmente, o combate da deflação está a cargo das autoridades monetárias. Neste caso, é o BCE que tem a varinha mágica para resolver o problema.

O principal mandato do BCE é a estabilidade de preços. A meta para a inflação está até 2%. Nem mais alto, nem muito mais baixo.

Caso os preços estivessem a cair, em tempos normais, as taxas de juro que estabelecem o preço do dinheiro seriam cortadas, mas elas já estão em níveis historicamente baixos. Estas taxas já estão em níveis historicamente baixos e o BCE pode mesmo vir a cortá-las ainda mais.

Acabando-se a hipótese de cortar taxas, que muitos admitem já não ter o impacto desejado, a hipótese mais falada é a do quantitative easing – compra de ativos em larga escala pelo banco central aos bancos, como forma de injetar mais liquidez na economia. A Reserva Federal já está a reduzir esse programa para evitar demasiada inflação e o surgimento de bolhas especulativas, o Banco de Inglaterra também fez uso da mesma arma, mas o BCE ainda se recusa a usá-la.

Outra das hipóteses é através de um programa de estímulo orçamental. Isto aumentaria a procura agregada e sem perda de investimento derivado do aumento da taxa de juro real. Mas numa altura em que tantos países da zona euro se encontram em contenção orçamental, não parece uma opção muito viável.