A 5 de maio, uma publicação com uma suposta citação atribuída à coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, tornou-se viral no Facebook. A imagem, com a fotografia da líder bloquista e as frases ao lado, chegou a ser vista por mais de 2 mil pessoas. Segundo apurou o Observador junto de fonte do partido, a citação é totalmente falsa, não se conhecendo sequer um contexto semelhante em que Catarina Martins pudesse ter dito algo relacionado com o tema.
“Não podemos concordar com esse à vontade da polícia nos bairros importunando a clientela do comércio local”, lê-se na primeira parte da citação. “Temos isso sim de criar um novo imposto municipal que incida sobre os proventos da classe burguesa para atribuir aos migrantes e às comunidades ciganas”, lê-se na segunda. O utilizador de Facebook que partilhou a imagem questiona que, a ser verdade, é “inenarrável”.
Em causa estaria a pretensão do Bloco de Esquerda de criar um novo imposto municipal sobre os lucros da classe mais alta para atribuir às comunidades ciganas e aos migrantes que, a avaliar pelo contexto da situação anterior, são constantemente “importunados” pela polícia nos bairros onde vivem e nos cafés que frequentam.
O Observador questionou a assessoria de imprensa de Catarina Martins, que rejeitou categoricamente a afirmação, sublinhando que nem sequer se pode dizer que a frase foi retirada de contexto, mas sim que é totalmente “inventada”. Certo é que a citação não é acompanhada de nenhuma data nem de nenhuma referência ao contexto em que teria sido dita.
Sobre a criação de impostos municipais sobre riqueza e património, ficou célebre o polémico imposto que foi criado no âmbito do Orçamento do Estado para 2017, fruto de negociações do Bloco de Esquerda com o Governo do PS, que se baseava num adicional ao IMI calculado anualmente em função dos valores patrimoniais das habitações de pessoas singulares e coletivas. Esse adicional ao IMI ficou conhecido, na altura, por ‘imposto Mortágua’, por ter sido apresentado pela deputada bloquista Mariana Mortágua e foi muito criticado pela oposição à direita.
No mês passado foram divulgados os dados relativos à receita arrecadada pelo Estado com este imposto no ano passado e, segundo o DN, foi de 151,56 milhões de euros, mais 8,5% do que a receita arrecadada no ano anterior. Em 2019, o adicional ao IMI foi agravado para os imóveis de luxo com valor tributável acima de dois milhões de euros, daí que tenha rendido ainda mais dinheiro ao Estado. Nada disto, contudo, é canalizado especificamente para apoiar migrantes ou a comunidade cigana.
Conclusão
A frase atribuída a Catarina Martins, que não vem acompanhada de referência à data ou contexto, é falsa. A assessoria de imprensa da coordenadora bloquista garante ao Observador que a citação é “inventada” e que em nenhum momento Catarina Martins disse que iria criar um novo imposto municipal que incidisse sobre os lucros da classe “burguesa” e cuja receita devesse ser alocada aos migrantes ou comunidade cigana.
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.