Uma publicação disseminada no Facebook afirma que o cientista Royal Raymond Rife inventou uma cura para o cancro em 1934, mas que a solução foi “censurada”. De acordo com o conteúdo, o investigador conseguiu isolar um microorganismo chamado “15 Vírus”, que se encontraria em células cancerígenas, através da “ressonância de frequência de luz”.

“Era possível destruir o organismo de uma forma natural e parcialmente indolor. Por isso, essa luz em questão era responsável por destruir apenas tecidos já corrompidos, preservando os que ainda se encontravam num estado saudável”, afirma-se no vídeo. No entanto, não há evidências de que esta tecnologia consegue realmente eliminar os tecidos cancerígenos em pessoas doentes.

Em resposta enviada ao Observador, Vítor Farricha, cirurgião do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, apontou que não existe qualquer referência ao aparelho inventado por Royal Raymond Rife no Pubmed, que é o maior motor de buscar de literatura científica publicada. “Em suma, não existe qualquer tipo de evidência sobre a segurança ou a eficácia deste tipo de tecnologia“, resume o médico.

A publicação em causa também está a circular na ferramenta Reels.

Essa tecnologia ficou conhecida como “Rife” ou “Gerador de Frequência Rife” e produz ondas de baixa energia, isto é, campos eletromagnéticos de radiofrequência. “Têm baixa energia em comparação com raios-x ou radioterapia, que produz alta energia.”, comparou Vítor Farricha na explicação prestada ao Observador.

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O médico confirmou que a utilização de ondas de baixa energia como tratamento para um cancro é “menos comum, mas existem algumas investigações sobre o tema”. Só que “qualquer nova terapêutica passa por um longo processo de desenvolvimento até chegar ao doente”, acrescenta. “Ainda que exista evidência de que as ondas de baixa energia podem matar células cancerígenas, é necessária mais investigação, apesar do tempo decorrido desde a criação da Rife“, nos anos 20.

Numa mensagem a quem procura este tipo de tratamentos, Vítor Farricha alertou que, “apesar de estar na disponibilidade de cada doente procurar alternativas, se considerar que estas podem ajudar a tratar ou curar o cancro, esta opção pode ter riscos, visto que se poderão prejudicar as hipóteses de controlo da doença ao recorrer-se a terapêuticas não validadas cientificamente“. É o caso da Rife.

As explicações do médico cirurgião do IPO Lisboa vão ao encontro das informações prestadas pelo Cancer Research UK, uma instituição de investigação sobre doenças cancerígenas no Reino Unido. A entidade britânica indica que “a máquina Rife não passou pelo processo usual de testes científicos” — e mesmo as investigações por que passou tinham demasiadas limitações para o aparelho ser consensualmente aceite pela comunidade científica.

Um estudo mencionado pela investigação teve como participantes um pequeno número de pessoas com cancro do fígado em estado avançado — carcinoma hepatocelular. Os investigadores afirmaram que as ondas de baixa frequência “afetaram as células cancerígenas”, mas “não afetaram as células normais”. “Esta investigação ainda está em estágio experimental e não está claro exatamente como isso poderia funcionar. E o mais importante, as frequências eletromagnéticas usadas nesta pesquisa não eram as mesmas das máquinas Rife”, aponta a Cancer Research UK.

Conclusão

É falso que a cura do cancro foi descoberta em 1934, mas foi censurada. Não há evidências de que o aparelho desenvolvido pelo cientista Royal Raymond Rife tenha resultados no tratamento do cancro, nem que a sua utilização seja segura. Algumas investigações com tecnologias semelhantes estão a ser desenvolvidas, mas ainda não chegaram a resultados concretos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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