Uma imagem do antigo líder do PS, António José Seguro, com uma citação que lhe é atribuída sobre António Costa circula no Facebook sem qualquer contexto ou data. Na história política recente, Seguro e Costa protagonizaram um duelo duro pela liderança do PS, em 2014, que resultou na vitória do atual primeiro-ministro e no afastamento da vida pública do seu antecessor na direção do PS.
“António Costa um traidor, mentiroso que anavalha as pessoas pelas costas. Um desonesto mentiroso”. A frase surge desta forma, atribuída a António José Seguro. O antigo líder socialista viu a sua liderança desafiada fora de tempo e proferiu palavras muito críticas sobre António Costa, mas esta frase não lhe pertence nestes exatos moldes. Além disso, a afirmação de Seguro que mais se aproxima é de 2014 — a publicação em análise não localiza a citação no tempo, fazendo parecer que se trata de uma frase atual.
Num debate televisivo entre os dois na RTP, na disputa da liderança do PS em setembro de 2014, António José Seguro avaliou assim a decisão de António Costa desafiar a sua liderança: “Considero que António Costa foi desleal e traiu uma cultura que existe há 40 anos no PS. Foi desleal para com o líder do PS, porque assinou um acordo comigo no ano passado, teve duas oportunidades para se candidatar à liderança e, desta vez, na sequência de uma vitória do partido, rasgou esse acordo e não aproveitou essas duas oportunidades para disputar a liderança do PS”.
A frase aproxima-se da que é citada, mas não é exatamente igual, ainda que seja igualmente forte. Não inclui a acusação de “mentiroso” que consta na publicação, nem António José Seguro disse que António Costa é um “traidor”, mas antes que “traiu uma cultura” que existia no partido.
A acusação feita tinha a ver com o acordo assinado, no início de 2013 — numa altura em que Costa ponderou desafiar Seguro pela primeira vez –, em Coimbra, numa reunião da Comissão Nacional do partido, onde a direção se comprometia a defender a herança socrática. Na altura, a frente do partido mais próxima de Sócrates considerava que esse tempo não estava a ser convenientemente honrado pela direção de Seguro. José Sócrates tinha saído da liderança em 2011, na sequência da derrota nas legislativas, e fora sucedido precisamente por Seguro (a sua detenção, no âmbito da Operação Marquês, só aconteceria depois, no final de 2014). Em troca da defesa da herança, os críticos da direção de Seguro aceitavam manter a paz interna.
Além disso, na altura em que falou em “traição” e “deslealdade”, no debate televisivo para as diretas e as primárias do PS em 2014, António José Seguro referia-se também ao facto de Costa não ter permitido que Seguro disputasse as legislativas, ao ter interrompido abruptamente a sua liderança: “Era uma regra”, reclamava Seguro, que Costa interrompia depois de duas vitórias eleitorais do PS (autárquicas de 2013 e legislativas de 2014). No entanto, Costa tinha considerado a vitória nas Europeias “poucochinha” e acabou por avançar contra Seguro. Foi desta jogada de António Costa que António José Seguro se queixou naquela altura e que terá levado ao aparecimento da citação imprecisa aqui em análise.
Conclusão
A guerra entre António José Seguro e António Costa foi intensa e muito dura no PS, tendo envolvido acusações sistemáticas de “deslealdade e traição à história do PS”, “oportunismo” e “falta de solidariedade”, dirigidas pelo líder desafiado em 2014. Seguro assumiu-o, em todas estas formas, no quente da disputa pela liderança do partido, depois de Costa ter interrompido abruptamente o seu mandato como secretário-geral na sequência de um resultado eleitoral que considerou insatisfatório para o PS.
Foram ditas várias vezes no quente dessa disputa pela liderança socialista, incluindo num debate no âmbito das diretas e das primárias do PS que aconteceram depois desse desafio de Costa. Mas, mesmo nessa altura mais conflituosa entre os dois, António José Seguro não diz exatamente o que consta nesta publicação do Facebook, chamando “mentiroso” e “traidor” a António Costa que acusaria ainda de o ter “anavalhado pelas costas”. Esta frase não existe. Desde essa altura, os dois mantiveram-se sempre de costas voltadas (nunca tinham sido próximos), com Seguro a sair completamente de cena desde que deixou de ser líder.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.