No passado dia 1 de setembro, Cristina Kirchner, vice-Presidente da Argentina, foi alvo de uma tentativa de assassinato perto da sua casa, no bairro de Recoleta, em Buenos Aires. O suspeito, o brasileiro Fernando Sabag Montiel, de 35 anos, apontou uma arma à cara da governante quando esta cumprimentava algumas pessoas na rua. Por razões que se desconhecem, a semiautomática Bersa Thunder 380, carregada com cinco munições, não disparou. Montiel, que tem antecedentes criminais e ligações a grupos de extrema-direita, foi detido pelas autoridades.

Na sequência do atentado, começaram a surgir nas redes sociais publicações que negam o sucedido, alegando que o atacante utilizou uma pistola de água e não uma arma verdadeira. A maioria das alegações são sustentadas por um vídeo de fraca qualidade que supostamente mostra Kirchner “a limpar” a água da cara e do cabelo.

Uma das publicações do Facebook que alega que o atacante de Cristina Kirchner utilizou uma pistola de água

Uma publicação com o vídeo que alegadamente mostra a vice-Presidente da Argentina a limpar a cara depois de ser “atacada” por uma pistola de água

Houve de facto um momento em que, depois de a arma lhe ter sido apontada e enquanto se baixava, a vice-Presidente parece levar a mão à cabeça, como se pode ver no vídeo abaixo, partilhado no Twitter.

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Contudo, a partir desta e de outras gravações, feitas a partir de outros ângulos, como o vídeo divulgado pelo Estadão, é possível concluir que não saiu qualquer líquido da alegada “pistola de água” no momento do disparo.

No depoimento prestado às autoridades no dia seguinte, Kirchner relatou, segundo o Estadão, que não se deu conta de lhe terem apontado uma arma, porque se baixou nesse mesmo instante para apanhar um livro que um apoiante tinha deixado cair. A reação não foi motivada pela arma, mas pelo apoiante, que lhe pediu que autografasse o volume.

A arma do atacante foi apreendida pela polícia “a escassos metros do local”. O La Nación publicou uma fotografia do revólver calibre 32, de fabrico nacional. De acordo com o jornal argentino, que citou fonte da Polícia Judiciária argentina, a arma, verdadeira, “estava apta a ser disparada”, tinha cinco munições, mas nenhuma na câmara de disparo. O disparo poderá ter sido bloqueado pelos vários mecanismos de defesa da semiautomática, refere o La Nación.

Fernando Sabag Montiel foi presente a tribunal a 3 de setembro, mas não quis prestar declarações.

Conclusão

Não existem evidências de que Cristina Kirchner tenha sido atacada por uma arma falsa, neste caso, uma pistola de água, como as publicações alegam. Os vídeos captados no momento do atentado à vice-Presidente argentina não mostram qualquer líquido a sair do revólver que, segundo fontes da Polícia Judiciária ouvidas pelo La Nación, se tratou de uma arma verdadeira, com munições e “apta a ser disparada”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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