“Um estudo efectuado pelo Journal of Health Psychology demonstrou que pessoas que odeiam ginásios e não gostam de realizar exercício físico são mais inteligentes”, lê-se na notícia publicada no site Inacreditável. A referência à revista científica onde o dito estudo foi publicado permite encontrá-lo rapidamente. Depois, é fácil perceber que as conclusões do artigo estão longe das relatas na notícia.

E o problema começa logo na ideia de que se está a comparar pessoas mais inteligentes com pessoas menos inteligentes, quando em nenhum momento do artigo científico é usada a palavra inteligência ou inteligente. O que os autores quiseram de facto comparar foi pessoas que têm uma maior ou menor tendência para fazerem e apreciarem esforços cognitivos, ou seja, pessoas que gostam mais ou menos de pensar e resolver enigmas.

Estudos anteriores tinham demonstrado que um maior interesse por esforços cognitivos (a que os autores chamam “necessidade de cognição”) estava moderadamente relacionado com uma maior inteligência. Mas enquanto que a necessidade de cognição se refere a uma motivação — o gostar de pensar —, a inteligência refere-se a uma habilidade — ser bom a pensar. E o que os autores avaliaram foi a motivação. E as conclusões de um traço de personalidade não podem ser extrapoladas para uma competência.

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Os resultados da investigação revelaram que os participantes que gostavam mais de pensar eram muito menos ativos fisicamente. E isto não quer dizer necessariamente que não gostavam de ir ao ginásio ou de fazer exercício físico (em momento nenhum isto é referido no artigo). O que os investigadores analisaram foi o nível de atividade total ao longo de um dia — que pode incluir atividades diárias como ficar sentado à secretária ou caminhar para as aulas —, e que reflete, de facto, a quantidade de energia gasta nesse período.

Os autores notaram ainda que, embora esta diferença fosse mais evidente durante os dias de semana, ficava mais esbatida ao fim de semana. A razão para isso parece estar no grupo que foi selecionado para o estudo: 60 alunos universitários que, ao fim de semana, não têm de estar preocupados com desafios mentais — aliás, até podem querer evitá-los. Por se tratar de um número de participantes pequeno e com representantes de um grupo muito específico, as conclusões deste estudo também não podem ser extrapoladas para a população em geral.

Conclusão

Embora a notícia se baseie num artigo científico real, a conclusão apresentada não corresponde às conclusões dos investigadores. Não só os resultados do artigo foram mal interpretados, como usam um conceito (inteligência) que nem sequer é usado no artigo científico.

Mais, os autores referem que, entre os alunos estudados, aqueles que têm menos necessidade de cognição (os que gostam menos desafios mentais) são aqueles que são mais ativos fisicamente — o que não quer necessariamente dizer que os outros odeiem atividade física ou ir ao ginásio.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas a reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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