Há uma série de publicações nas redes sociais que falam de uma “lista de pedófilos” que teriam o hábito de visitar a “ilha de Epstein” — a ilha de Little Saint James, comprada por Jeffrey Epstein em 1998. No caso da publicação em análise neste artigo, fala-se em “psicopatas pedófilos”, descrição associada a uma longa lista de nomes bem conhecidos, que inclui figuras como Bill Gates, George Clooney ou Barack Obama.
Em primeiro lugar, é importante perceber qual é a origem desta extensa lista de nomes supostamente associados a Jeffrey Epstein, o multimilionário norte-americano que foi encontrado morto numa cela de uma prisão nova-iorquina em 2019, enquanto esperava para ser julgado por acusações de tráfico sexual de menores. No contexto de um dos maiores escândalos sexuais dos últimos anos, Epstein era acusado de ter construído uma rede de grandes proporções de raparigas menores de idade, explorando-as, abusando sexualmente delas e pagando-lhes para que encontrassem outras adolescentes a quem pudesse fazer o mesmo, lembra a BBC.
Como o The Guardian explica neste artigo, os documentos que estão agora a ser tornados públicos fazem parte de um processo interposto por uma das vítimas do já falecido Jeffrey Epstein, Virginia Giuffre, contra a namorada e cúmplice do multimilionário, Ghislaine Maxwell, que está a cumprir pena de prisão por crimes de tráfico sexual.
Giuffre diz que foi convidada para ser “massagista” de Jeffrey Epstein quando tinha 17 anos e trabalhava num clube de férias de Donald Trump, com quem o milionário tinha boas relações. Mas o esquema descrito por muitas das mulheres que eram então menores de idade, Giuffre incluída, passava por ter Epstein a pagar-lhes pela massagem, mas forçando-as a realizar também atos sexuais.
Segundo conta o TheGuardian, Giuffre também chegou a acordo com Maxwell, em 2017, mas o jornal Miami Herald conseguiu desbloquear em tribunal o acesso aos documentos que fazem parte do processo, incluindo os depoimentos de potenciais testemunhas que os advogados recolheram. Na sequência disso, duas mil páginas foram tornadas públicas em 2019, às quais se somaram mais documentos em 2020, 2021 e 2022.
Neste caso, os novos documentos foram avaliados pela juíza Loretta A Preska, que disse estar a divulgá-los porque boa parte da informação contida neles já era pública.
Acontece que esses documentos listam os nomes de todas as pessoas mencionadas no decorrer deste processo, não necessariamente culpadas ou sequer suspeitas de algum crime. Ou seja, nesses documentos, que não incluem nenhuma lista propriamente dita, misturam-se referências diferentes e incluem-se pessoas que acusaram Epstein, pessoas que trabalharam com ele, testemunhas no processo, pessoas que foram simplesmente mencionadas por outras que estavam a testemunhar, protagonistas de notícias que foram mencionadas em tribunal (algumas para serem desmentidas) e pessoas que investigaram o caso, assim como famosos que eram amigos ou tinham algum tipo de relação com Epstein.
O que esta lista em concreto faz, como já assinalaram vários meios que tiveram acesso aos processos contra Epstein, é misturar nomes que são referidos nessas várias condições com celebridades que nem sequer parecem tem qualquer ligação a Epstein, como é o caso de Barack Obama. O antigo Presidente norte-americano até já chegou a ser vítima de manipulação de imagens, editadas para parecer que tinha estado na ilha de Epstein.
No caso do antigo Presidente norte-americano Bill Clinton, uma testemunha, Sarah Ransome, referiu que Epstein teria “gravações” de cenas de sexo de Clinton (assim como do Príncipe André ou do empresário Richard Branson). Mas, sem ter apresentado provas disso mesmo, acabou por retirar essas alegações. Outra testemunha diz ter ouvido Epstein “dizer uma vez que Clinton gosta delas novas, referindo-se a raparigas”, uma afirmação que o antigo Presidente desmentiu remetendo para declarações antigas em que afirmava não ter qualquer ligação ao caso.
Quanto a George Clooney, as únicas referências que é possível encontrar que têm alguma vaga ligação a Epstein, e que não constituem qualquer crime ou conduta questionável, são notícias de 2019 com base em documentos legais que referem que Ghislaine Maxwell se “gabaria” de já ter tido relações sexuais com Clooney, e uma notícia falsa que dizia ter uma fotografia do pivô Chris Wallace na ilha de Epstein quando este se encontrava, na verdade, no Lago de Como com George Clooney.
Conclusão
A suposta lista não é um documento legal e mistura nomes de pessoas em situações muito diferentes: algumas foram referidas por testemunhas em tribunal, outras eram referidas por Jeffrey Epstein em conversa e outras nem sequer têm qualquer associação conhecida ao caso.
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.