A chuva intensa que caiu no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, entre o final de abril e o mês de maio, causou uma verdadeira catástrofe humanitária. Segundo o último balanço de meados de junho, quase 2,4 milhões de pessoas foram afetadas pelo mau tempo — e mais de 420 mil pessoas ficaram desalojadas. Foram ainda confirmados 173 mortos, 806 feridos e 38 desaparecidos na sequência das intempéries. Mas as chuvas torrenciais também provocaram uma enchente de informações falsas.
Nas redes sociais, surgem agora várias publicações — que consistem num printscreen de um tweet publicado no dia 20 de maio de 2024, às 16h16 por uma conta de uma utilizadora chamada Cláudia Rocha — a apontar o dedo à gestão do governo brasileiro. Além disso, nesses posts, vê-se uma fotografia com centenas de corpos a boiar, uma suposta consequência das cheias na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul.
Nas publicações, lê-se que o governo federal e o governo estadual do Rio Grande do Sul estão a “mentir sobre as mortes”. “Recebi essa foto de uma amiga que mora no local. Ela disse que isso não foi nada, que ela nunca tinha visto tanta gente morte na vida dela“, lamenta-se.
Além da fotografia e dessa descrição, noutras publicações relaciona-se esta fotografia com a “agenda 2030”: “São mais de 90 mil mortes em massa que ocorreu no Rio Grande do Sul. Tudo programado e premeditado para criar o caso, a falência e a destruição total da economia de todos os estados agrícolas produtivos e industriais do Brasil”.
Noutra publicação, refere-se ainda que o governo brasileiro, através dos meios de comunicação sociais — e, em particular, a televisão —, espalha “fake news” sobre a catástrofe humanitária que ocorreu no Rio de Grande Sul. “Mentirosos e hipócritas.” Já noutro post, é lançada a suspeita de que as autoridades locais estão a “abafar o caso”.
Essa fotografia, não obstante, não foi publicada em nenhum jornal ou site do governo brasileiro. Aliás, no TikTok, essa fotografia já aparecia antes do dia 20 de maio (mais concretamente a 8 desse mês), como se pode ver nesta conta. Aparecia ainda noutra conta do TikTok a 11 de maio com uma ressalva: “Imagem [gerada por] Inteligência Artificial”.
@sai.phyo32
A imagem das cheias no Rio Grande do Sul terá, assim, sido gerada através de inteligência artificial (IA). A empresa Hive Moderation, que tem um detetor de conteúdo que permite perceber se certas imagens são reais, refere que existe 99,7% de probabilidade de ser “conteúdo gerado por IA ou conteúdo deepfake“.
Conclusão
As cheias no estado do Rio Grande do Sul tiveram consequências de dimensões catastróficas, mas a imagem veiculada nas redes sociais não corresponde a um momento das cheias. Como uma conta do Tik Tok sugere, assim como o detetor de conteúdo da empresa Hive Moderation, a imagem terá sido, com quase toda a certeza, gerada com recurso a inteligência artificial.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.