O método multiplica-se no Facebook, numa fraude que envolve supostas plataformas de criptomoedas sem habilitação para exercer em Portugal que usam entrevistas reais e manipulam imagens de sites de órgãos de comunicação social para se promoverem. Desta vez, o instrumento usado para divulgar a informação falsas e com isso chamar a atenção de utilizadores é uma entrevista do ator Filipe Matos ao programa Alta Definição, na SIC, conduzido pelo apresentador Daniel Oliveira.
A informação partilhada no Facebook em publicações que envolvem diversas figuras públicas tem sempre a mesma forma. Uma fotografia da entrevista à figura pública a que se refere — neste caso, Filipe Matos –, com um link falso que, em alguns casos, remete para um site que nada tem a ver com o que é referido e, noutros casos, para uma página igualmente falsa do jornal digital Eco. Nestes casos, surge uma suposta notícia sobre uma intervenção do Banco de Portugal, com citações e a transcrição de partes da conversa que não existiram. O texto da publicação detalha que a figura pública em causa terá divulgado “informações financeiras” de tal “magnitude” que podem “abalar as fundações da sociedade portuguesa” — a formulação é sempre a mesma.
A imagem é a única coisa verdadeira nesta publicação, tendo sido retirada da entrevista real. Ou seja, Filipe Matos esteve mesmo no programa da SIC, como pode ver aqui. Mas não foi chamado de “irresponsável” pelo entrevistador. Tudo o resto do que consta na publicação não existiu.
Por baixo da fotografia surge um título a dizer que “a entrevista foi interrompida pelas autoridades, mas já era tarde pois Filipe Matos já havia revelado tudo”.
No entanto, com um clique, os utilizadores do Facebook são reencaminhados não para o portal referido, mas para uma página que parece do jornal Eco (ver imagem), mas não é verdadeira. Na barra de endereços não aparece o URL do Eco, que é este, mas antes uma descrição complexa que nada tem a ver com o site de notícias especializado em economia. O título em destaque: “Banco de Portugal processa Filipe Matos pelo que disse ao vivo na TV.” O texto da suposta notícia faz referências que não existiram na conversa real e, pelo meio, remete o leitor para uma suposta plataforma de criptomoedas.
O esquema é semelhante a outros que já surgiram no Facebook, envolvendo outras figuras públicas, e que já foram analisados pelo Observador.
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Nessas outras situações idênticas à que está em análise, o Banco de Portugal já tinha dito ao Observador que, “embora a entrevista em causa possa ter acontecido, o conteúdo da página para que remete o link enviado aparenta ser falso”. A instituição também rejeitava ter havido “qualquer intervenção por parte do Banco de Portugal” em entrevistas deste género.
Alertava ainda para publicações como esta poderem “integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”, normalmente de plataformas não habilitadas a exercer, em Portugal, “qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”.
O BdP avisava também que tem “tido conhecimento de situações similares à relatada, envolvendo outras figuras públicas e outras supostas entidades/plataformas que afirmam dedicar-se a atividades com ativos virtuais, quando, na realidade, desenvolvem apenas esquemas fraudulentos” — o Observador já analisou algumas, caso desta e desta ainda.
Têm sido publicados “alertas genéricos sobre os riscos dos ativos virtuais”, por parte do Banco de Portugal, bem como “avisos públicos alertando para o facto de determinada(s) entidade(s), pessoas singulares e coletivas, marcas e websites, não se encontrarem registadas junto do Banco de Portugal para desenvolverem atividades com ativos virtuais”, refere a instituição. Além disso, o BdP adiantou que “tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”.
Conclusão
O Banco de Portugal não interrompeu a entrevista do ator Filipe Matos na SIC e o conteúdo da conversa também não tocou em nada do que é referido nesta publicação. Trata-se de uma tentativa de fraude, usando não só a imagem de uma entrevista onde não foi dito nada do que é referido, como também a página de um órgão de comunicação social para criar uma notícia que nunca foi avançada.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.