A entrevista ao cantor Sérgio Rossi, transmitida pela TVI, aconteceu mesmo, mas tudo o resto que consta nesta publicação é falso. A conversa com o apresentador Manuel Luís Goucha foi aproveitada para promover uma plataforma de criptomoedas que estaria na origem de um suposto “enriquecimento fácil” do cantor. Segundo a publicação que corre nas redes sociais, Rossi teria revelado “informações financeiras” com uma “magnitude” capaz de “abalar as fundações da sociedade portuguesa” e teria sido interrompido pelo Banco de Portugal por isso mesmo.

A informação está a ser partilhada no Facebook em publicações variadas, sendo que as verificadas pelo Observador envolvem sempre o jornal digital Eco, com um link falso para uma suposta notícia com o seguinte título: “Banco de Portugal processa Sérgio Rossi pelo que disse ao vivo na TV.” O texto adianta que o cantor teria feito “declarações acidentais” sobre uma suposta estratégia de enriquecimento “fácil” através do uso da inteligência artificial na negociação de criptomoedas. Trata-se de uma fraude.

Na entrevista referida, emitida pela TVI, não existe qualquer referência às informações que constam nesta publicação. E a suposta notícia para a qual a publicação remete também é falsa, o que é possível verificar, desde logo, pelo endereço eletrónico (que surge na barra superior do browser) que não é o do jornal Eco. O Observador contactou o jornal e foi confirmada a falsidade desta mesma ligação.

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No texto falso que é partilhado consta a suposta transcrição de uma parte da entrevista que nunca existiu e que é aproveitada para divulgar informação sobre uma determinada plataforma de inteligência artificial que negoceia criptomoedas.

O Observador contactou o Banco de Portugal a propósito desta publicação e a instituição diz que, “embora a entrevista em causa possa ter acontecido, o conteúdo da página para que remete o link enviado aparenta ser falso, não tendo existido, na realidade, qualquer conversa entre os interlocutores quanto à plataforma ‘Ethereum AI’, nem qualquer intervenção por parte do Banco de Portugal durante  a entrevista.”

A instituição adianta que “a página na Internet de onde consta a publicação referida poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”. E que a “plataforma ‘Ethereum AI’ não está, nem nunca esteve, habilitada a exercer, em Portugal, qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis.”

O banco central português diz ainda ter “tido conhecimento de situações similares à relatada, envolvendo outras figuras públicas e outras supostas entidades/plataformas que afirmam dedicar-se a atividades com ativos virtuais, quando, na realidade, desenvolvem apenas esquemas fraudulentos”. Não são adiantados dados concretos devido ao segredo bancário e ao segredo de justiça, no entanto, a entidade afirma que “o número de processos de averiguação abertos relacionados com este tema aumentaram significativamente nos últimos tempos”.

Têm sido publicados “alertas genéricos sobre os riscos dos ativos virtuais”, por parte do Banco de Portugal, bem como “avisos públicos alertando para o facto de determinada(s) entidade(s), pessoas singulares e coletivas, marcas e websites, não se encontrarem registadas junto do Banco de Portugal para desenvolverem atividades com ativos virtuais”, refere a instituição. Além disso, o BdP adianta que “tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”.

Conclusão

O Banco de Portugal não interrompeu a entrevista de Manuel Luís Goucha ao cantor Sério Rossi e o conteúdo da conversa também não tocou em “enriquecimento fácil”, “informações financeiras” exclusivas ou em qualquer plataforma de criptomoedas. Trata-se de uma tentativa de fraude, usando não só a imagem de uma entrevista onde não foi dito nada do que é referido, como também de um órgão de comunicação social para criar uma notícia que nunca foi avançada. O Banco de Portugal diz que a publicação “poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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