Está a ser partilhada no Facebook a imagem de uma publicação que alega que Carlos Bolsonaro, o segundo filho do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, terá tomado a vacina contra a Covid-19 no Hospital Central do Exército no Rio de Janeiro, apesar da campanha que ele e outros membros da família Bolsonaro têm feito contra o tratamento. De acordo com o post, que remete para um tweet de Mauro Cerullo, um indivíduo que se identifica como jornalista e que cita a Rádio Litoral FM, o vereador do Rio de Janeiro teria tomado a vacina CoronaVac, da Sinovac, uma farmacêutica chinesa com sede em Pequim, que deveria ter sido administrada a um profissional de saúde. “Cobarde e corrupto”, acusa a publicação.

A imagem que circula no Facebook

Apesar de a imagem partilhada não identificar o dia em que o tweet de Mauro Cerullo terá sido feito, vários jornais brasileiros indicam que este foi publicado a 22 de janeiro, quatro dias depois do arranque oficial da campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Nesse dia, a hashtag #CartuxoFuraFila, usada pelo alegado jornalista, tornou-se uma dos mais usadas no Twitter no Brasil, o que levou Carlos Bolsonaro a reagir. Com recurso a uma linguagem ofensiva, que não passou despercebida a alguns utilizadores, o filho do Presidente brasileiro negou ter tomado qualquer vacina contra a Covid-19, classificando a informação como “fake news”. No mesmo tweet, Carlos Bolsonaro apelou ainda à utilização da Ivermectina, tratamento sem eficácia comprovada no combate ao novo coronavírus, em caso de contágio.

O tweet original já não se encontra disponível, assim como a conta do alegado jornalista Mauro Cerullo, que parece ter sido criada apenas para lançar o boato da vacinação do vereador. Segundo o Estado de São Paulo, o tweet terá sido apagado depois de ter sido retweetado várias centenas de vezes. O jornal aponta ainda que a fotografia de perfil do utilizador se tratava de um retrato do Presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, que ocupa o cargo desde o ano passado. Uma pesquisa na internet não permitiu também identificar a Rádio Litoral FM que terá avançado com a notícia da vacinação de Carlos Bolsonaro. O nome é comum no Brasil (só na região do Rio de Janeiro existem várias rádios Litoral). Uma delas, a Litoral FM Gospel Bahia, negou, em resposta ao Estado de São Paulo, ter qualquer ligação com o caso.

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A vacinação contra a Covid-19 arrancou oficialmente a 18 de janeiro no Brasil. Ao contrário do que a publicação sobre a vacinação de Carlos Bolsonaro alega, o Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, não recebeu quaisquer doses, informou o Ministério da Defesa brasileiro em resposta às questões da Agência Lupa, especializada em fact checking. O início da campanha estava originalmente marcado para o dia 20, mas foi antecipado após pressão dos governadores, na sequência do início da vacinação em São Paulo, por ordem do governador, João Doria. Monica Calazans, de 54 anos, enfermeira de São Paulo que trabalha com doentes infetados com o novo coronavírus, foi a primeira pessoa a ser vacinada no Brasil. O momento foi acompanhado pelo governador do Estado de São Paulo e outros responsáveis. Bolsonaro esteve ausente.

O Presidente brasileiro tem-se mostrado abertamente contra a vacinação. Recentemente, começou a circular nas redes sociais um vídeo captado em dezembro passado num evento em Porto Seguro, na Bahia, que mostra o governante a defender que a vacina poderá ter efeitos secundários graves e que, por essa razão, não a vai tomar. Apontando que, no contrato com a Pfizer, é referido que a farmacêutica não se responsabiliza por eventuais efeitos adversos provocados pelo tratamento, Bolsonaro exclamou: “Se você virar um jacaré, é problema de você!”.

[O vídeo em que Jair Bolsonaro declara que não vai tomar a vacina contra a Covid-19:]

Conclusão

Carlos Bolsonaro não foi vacinado contra a Covid-19. O próprio desmentiu a informação num tweet publicado a 22 de janeiro, dia em que a notícia da sua alegada vacinação começou a circular, e o Ministério da Defesa brasileiro, responsável pelo Hospital Central do Exército, o centro hospitalar no Rio de Janeiro onde o vereador teria sido imunizado, garantiu a uma agência de fact checking que não recebeu quaisquer doses da vacina. O post que circula no Facebook teve origem numa conta de Twitter que foi apagada após a informação se espalhar pela rede social.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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