A guerra na Ucrânia já vai na sua terceira semana desde a invasão por tropas russas. E, desde o início do conflito, têm circulado várias informações falsas ou descontextualizadas sobre este tema. Por exemplo, segundo uma publicação de Facebook do passado dia 7 de março, a casa na Ucrânia de Joe Biden, presidente dos EUA, foi destruída. Trata-se, no entanto, de uma publicação completamente falsa.

Publicação viral alega que Putin bombardeou vila comprada por Biden na Ucrânia. É falso.

Na publicação em questão é partilhada uma imagem com uma suposta notícia. Lê-se, em inglês, o seguinte: “Putin bombardeia vila de Biden na Ucrânia, destruindo laboratórios e anéis de pedofilia.”  Ao lado estão duas imagens de supostos bombardeamentos: uma de Kiev, em 2022, outra em Belgrado, em 1999 – uma clara referência à intervenção militar da NATO na antiga Jugoslávia. Mais nenhuma informação adicional ou site credível é partilhado. Uma curiosidade: as duas imagens são iguais, mas foram invertidas na horizontal.

Sem qualquer prova daquilo que é supostamente noticiado pelo autor, a publicação só pode ser considerada como falsa. É isso que explica o PolitiFact, fact-checker norte-americano, que olhou para uma publicação semelhante. Joe Biden não tem qualquer vila em território ucraniano — e os EUA não são proprietários de laboratórios biológicos naquele país. Essa é, pelo menos para já, a garantia dos Estados Unidos. O mesmo fact-checker norte-americano conta que desde 2005 que os dois países têm trabalho para prevenir ataques biológicos, a partir de um programa, o Cooperative Threat Reduction Program, que começou em 1991, com a intenção de reduzir a utilização de armas de destruição massiva.

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Quanto à alegação dos “anéis de pedofilia”, não é possível perceber sequer a que é que o autor em causa se refere (ainda que Joe Biden tenha sido associado, noutras fake news já desmontadas também pelo Observador, a redes de exploração sexual de menores). Analisando a suposta notícia, percebe-se que estamos perante um blogue, que se apelida de “zionista e conservador”. Ao abrir o artigo, correndo o texto um pouco mais abaixo, chega-se a uma teoria da conspiração associada (o Qanon) a grupos conservadores norte-americanos, que diz que os grandes líderes políticos, especialmente nos EUA, tem uma gigantesca rede de pedofilia. E é aí que poderá estar a justificação para a parte dos “anéis de pedofilia”. Contudo, nenhuma destas informações é verdadeira.

Mas no mesmo site, como conta o PolitiFact, está a assinatura de Michael Baxter, do Real Raw News, que já foi apanhado a espalhar desinformação na internet. E ainda que o site se defina como “sátira e humor”, o mesmo autor garante que a secção de comentários ou de artigos é legítima. Ou seja, que se trata mesmo da opinião de quem escreve.

Outro fact-checker norte-americano, o Snopes, também desmentiu esta publicação. Noutro artigo, que olhou para as alegações de que o ataque de Putin tinha como objetivo destruir os tais laboratórios biológicos norte-americanos na Ucrânia,  lê-se que esta teoria (a da própria existência desses laboratórios) tem sido disseminada pela propaganda russa, pelo menos, desde 2018. Acrescenta ainda que, em maio de 2020, os serviços secretos ucranianos publicaram um comunicado a pedir que se parasse com a desinformação sobre este tema. Fica aqui um vídeo a explicar a real função destes laboratórios, segundo os norte-americanos.

Conclusão

Todas as alegações relacionadas com um suposto bombardeamento de uma vila comprada por Joe Biden na Ucrânia são falsas. Os fact-checkers internacionais que olharam para estas publicações desmentiram todas as alegações. Quanto à suposta existência de laboratórios biológicos financiados pelos EUA na Ucrânia, também não existem, para já, provas de que essa informação seja verdadeira.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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