Foi na quinta-feira que o Governo português anunciou medidas drásticas: as escolas de todo o país iriam fechar para evitar uma grande concentração de pessoas no mesmo espaço, os bares, discotecas, restaurantes e espaços comerciais iriam ter restrições e limitações no acesso, as visitas aos lares estariam proibidas e haveria compensações económicas para os trabalhadores e empresas prejudicados por esta epidemia e tudo o que ela trouxe. A ordem era clara: ficar em casa ou, no mínimo, manter distância social para tentar travar a propagação do novo coronavírus.
Com este cenário como pano de fundo, na sexta-feira à noite (a primeira depois do anúncio das medidas), aumentava a expectativa sobre qual seria o cenário nos principais locais de diversão noturna das principais cidades do país. Estariam desertos? Em Lisboa, a chamada rua cor de rosa, no Cais do Sodré, é o principal ponto de encontro dos notívagos, e, segundo uma reportagem realizada pelo Correio da Manhã nessa noite, estava de facto com bastante gente, na sua maioria “estrangeiros”. Segundo a mesma reportagem, alguns estabelecimentos comerciais dessa rua fecharam por precaução, mas outros mantinham-se abertos, serviam os turistas e outras pessoas que circulavam aparentemente despreocupadas. Não se via ninguém com máscaras de proteção individual nas imagens.
Na verdade, as novas medidas anunciadas pelo governo ainda não tinham entrado formalmente em vigor, pelo que os estabelecimentos comerciais não estavam proibidos, por lei, de funcionar. A recomendação, contudo, era clara: evitar aglomerações, ficar em casa por prevenção.
Neste sábado, contudo, a página de Facebook “Eu Vi” partilhou uma imagem da rua cor de rosa cheia de gente, dando a entender que se tratava de uma imagem do “Cais do Sodré ontem à noite”, e sugerindo que, desta forma, o controlo do surto não iria ser conseguido. A página “Eu vi” descreve-se como sendo uma página de entretenimento, mas segundo os dados do Facebook, a publicação teve mais de 33 mil visualizações em menos de 24 horas.
Apesar de o Cais do Sodré não ter estado vazio nessa noite, a fotografia foi abusivamente utilizada para retratar aquela realidade, uma vez que não corresponde à mesma data.
A imagem usada trata-se de uma fotografia tirada no dia 3 de julho de 2015 pelo fotojornalista Gonçalo Villaverde, da Global Imagens, a propósito da entrada em vigor de uma nova lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. Nessa noite, uma noite de verão, havia de facto uma multidão na rua em questão, que não se comparava com a quantidade de pessoas que, ainda assim, circularam naquele local na sexta-feira, em plena urgência de contenção do novo coronavírus.
No sábado, o cenário já era diferente. Como o Observador noticiou, a PSP dirigiu-se à zona do Cais do Sodré e Bairro Alto à noite e ordenou que fechassem todos os bares, deixando só restaurantes e lojas de conveniência abertas. Aos proprietários dos bares foi dito: “Têm de fechar agora. São ordens e têm de ser cumpridas”. Os proprietários dos bares acataram as ordens, mostrando compreensão pelas medidas de prevenção. “Eu percebo e concordo. Acho até que se deviam ter tomado estas medidas antes o pior vai ser para o negócio mas isso é um problema para depois”, disse um dos proprietários de um dos bares ao Observador.
Conclusão:
É falso que a fotografia mostre uma multidão na famosa rua do Cais do Sodré na noite seguinte aos avisos do Governo. É certo que, nessa noite, o Cais do Sodré não estava vazio, ou seja, houve “centenas” de pessoas, sobretudo turistas, que não seguiram as recomendações do Governo para manterem as distâncias sociais e optarem pelo isolamento preventivo, mas a fotografia usada é abusiva. Trata-se de uma imagem de julho de 2015, que não ilustra em nada o momento de pandemia que estamos a viver.
Segundo o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.