Uma publicação do Facebook alega que George Soros, empresário e filantropo norte-americano de origem húngara, terá sido preso e que estará “sob custódia federal na Filadélfia”. O post cita “o que parece ser uma acusação recentemente não selada apresentada no Distrito Oeste da Pensilvânia”, que refere que “Soros cometeu uma série de crimes graves antes da eleição [presidencial] nos Estados Unidos”. O texto é acompanhado pela imagem de uma alegada notícia de 23 de novembro, que diz que o multimilionário terá sido “preso na Filadélfia por interferência eleitoral” e que o juiz responsável pelo caso terá “ordenado” o “bloqueio” de notícias sobre a sua detenção.

A imagem parece tratar-se de uma tradução para português de uma peça originalmente publicada no Your News Wire, um conhecido site norte-americano de fakenews, a 23 de novembro. A peça, que já não se encontra disponível online, mas que pode ser consultada no Internet Archive, referia que Soros tinha sido acusado de crimes como fraude eletrónica e roubo de identidade. Estes crimes teriam sido cometidos antes das eleições presidenciais norte-americanas, mas, segundo este site, a acusação seria em breve atualizada para incluir outras fraudes relacionadas com a votação de 3 de novembro.

A alegada notícia foi replicada no mesmo dia, 23 de novembro, por um outro site, o Conservative Beaver, uma página de conteúdos noticiosos que “interessam os canadianos orgulhosos”. A peça, que também já não se encontra online, citava o Your News Wire, um site “conservador de confiança”.

A imagem que circula no Facebook

A fonte do Your News Wire seria um suposto documento judicial, que o site reproduziu apenas parcialmente, que indicava os crimes pelos quais Soro estaria a ser acusado. Uma análise feita pela agência Reuters com recurso à ferramenta Forensic Beta permitiu concluir que a imagem terá sido adulterada e que o nome de George Soros terá sido acrescentado digitalmente a um documento que originalmente visava seis cidadãos de nacionalidade russa, acusados dos crimes de conspiração, ataque informático, entre outros, contra as eleições francesas de 2017 e os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018.

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A detenção do empresário de origem húngara, alvo recorrente de notícias falsas, foi negada pelas autoridades de Filadélfia. Contactada pela Central Brasileira de Notícias (CBN) e também pelo AFP Checamos, a polícia desta cidade do estado da Pennsylvania negou ter detido Soros. “Essa é uma informação falsa que circula nas redes sociais”, afirmou à CBN. Um porta-voz da Open Society Foundations, fundação criada por Soros, garantiu igualmente que a informação partilhada não é verdadeira. “É um completo disparate”, disse à Reuters.

Não é também verdade que George Soros tem ligações à Dominion Voting, uma empresa que fornece tecnologia usada em eleições, como sugerido pelo Your News Wire. A Dominion Voting, e também a Smartmatic, empresa que trabalha na mesma área, têm sido alvo de várias fake news desde as presidenciais. Um vídeo divulgado em novembro após as eleições, procurava associar as duas empresas tecnológicas a movimentos de extrema-esquerda, à Venezuela e a Hugo Chávez. Esta informação foi analisada no final do mês de novembro pela Reuters, que concluiu não ter qualquer fundamento.

Reagindo a estas alegações, a 10 de novembro, a Open Society Foundations recusou qualquer ligação entre Soros e estas empresas, afirmando no Twitter: “O nosso fundador George Soros não tem nada a ver com máquinas de voto ou como elas funcionam”.

Conclusão

George Soros não foi detido em Filadélfia por “crimes graves” relacionados com fraude eleitoral ou por outras razões. O documento que alegadamente prova a sua detenção é falsa. Trata-se muito provavelmente de uma adulteração da acusação de seis cidadãos de nacionalidade russa. A detenção do empresário foi negada pelas autoridades locais, contactadas por vários órgãos de comunicação e de verificação de notícias falsas, e pela fundação por si criada.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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