Uma bazuca com o dobro da capacidade de fogo, quase metade dos fundos destinados ao setor privado e o quádruplo do emprego gerado. Numa publicação recente no Facebook, o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais contrapõe o Plano de Resolução e Resiliência (PRR) português ao grego. E conclui: “A diferença de ambição” entre os dois planos “é gigante”, com destaque (positivo) para as contas de Atenas. Mas os números estarão corretos?

Fiz esta pequena tabela para perceber a diferença de ambição do PRR Grego relativamente ao Português. É gigante….

Posted by Miguel Pinto Luz on Friday, June 18, 2021

Vejamos em detalhe. O documento “Recuperar Portugal, Construindo o futuro” foi apresentado pelo Executivo de António Costa em Bruxelas no final de abril — foi, aliás, o primeiro a ser entregue. O PRR pressupõe a entrega de cerca de 13,9 mil milhões de euros em subvenções e outros 2,7 mil milhões em empréstimos. Ou seja, Portugal apontava a um financiamento total de 16,6 mil milhões de euros vindos da Europa.

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Cerca de uma semana mais tarde, era a vez de a Grécia apresentar o seu plano. E, logo à partida, ficava óbvia a diferença de proporção. Atenas apontou a uma fatia de 17,8 mil milhões de euros em subvenções (dinheiro entregue a fundo perdido) e 12,7 mil milhões em empréstimos. Total: 30,5 mil milhões de euros transferidos de Bruxelas ao longo dos próximos anos.

Voltando ao post de Pinto Luz, é verdade que, com o dobro dos fundos, a Grécia prevê criar quatro vezes mais postos de trabalho que Portugal?

Importa ressalvar, antes de mais, que o que está aqui em causa são projeções. Mas, nesse ponto, os dois executivos estão em plano de igualdade: os cenários traçados em cada um dos planos de resposta à crise provocada pela pandemia foram avaliadas por Bruxelas e, em ambos os casos, a resposta por parte da Comissão Europeia foi positiva.

Os dois países também estão em pé de igualdade no que diz respeito à demografia — e este dado é relevante para perceber se é possível comparar as duas realidades ou se há demasiados contrastes internos; e não há. Se a Grécia tem 6,7 milhões de pessoas em idade ativa (entre os 15 e os 64 anos), considerando números de início de 2021, Portugal tinha nesse momento sensivelmente a mesma percentagem da sua população residente nessas condições (6,6 milhões de habitantes).

Com estes dados em cima da mesa, os planos de resposta à crise dividem-se nos efeitos que pretendem alcançar.

Na conferência de imprensa em que deu a conhecer publicamente o PRR grego, o primeiro-ministro do país, Kyriakos Mitsotákis, falava num plano que “diz respeito a todas as mulheres e a todos os homens gregos e que aspira a criar 200 mil novos postos de trabalho” e a ter um impacto de 7 pontos percentuais no crescimento do Produto Interno Bruto.

No caso português, as expectativas que constam da versão final do documento permitem à Comissão Europeia admitir a possibilidade de serem criados 50 mil novos postos de trabalho.

A conta seguinte, e cujo resultado consta do post partilhado por Miguel Pinto Luz, é simples de se fazer. Se o pacote de ajuda europeu a Portugal é de 16,6 mil milhões de euros e se a perspetiva é a de viram a ser criados cerca de 50 mil postos de trabalho, isso significa que cada novo posto criado no país tem um custo estimado de 332 mil euros. Conhecendo os números gregos, o cálculo do autarca do PSD também está correto: cada um dos 200 mil novos postos de trabalho terá um custo de 152,5 mil euros — sensivelmente metade do custo estimado para o caso português.

A publicação do autarca faz uma comparação direta entre alguns dados gerais de ambos os Planos de Recuperação e Resiliência. Correndo o risco de gerar conclusões redutoras — porque ainda estamos longe de conhecer os programas criados e promovidos ao abrigo dos PRR e, num segundo plano, o impacto que cada um deles pode vir a gerar nas economias dos dois países —, a publicação de Pinto Luz parte, ainda assim, de valores que estão corretos e que correspondem ao conteúdo dos documentos apresentados por Lisboa e Atenas junto da Comissão Europeia.

Conclusão

Os números apresentados por Miguel Pinto Luz relativamente a um e ao outro Planos de Recuperação e Resiliência correspondem aos documentos apresentados por Lisboa e Atenas em Bruxelas. O PRR português tem, sensivelmente, metade da dimensão financeira que o plano grego e, ao mesmo tempo, o governo de Kyriakos Mitsotákis prevê vir a criar quatro vezes mais postos de trabalho que o Executivo de António Costa.

Assim, segundo a escala de classificação do Observador, este conteúdo está:

CERTO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

VERDADEIRO: conteúdos que não contenham informações incorretas ou enganosas.

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