Os incêndios que atingiram a zona Norte e Centro do país em meados de setembro, nomeadamente nos distritos do Porto e Aveiro, geraram várias dúvidas sobre a capacidade de resposta das autoridades no combate aos fogos.

Na mesma altura em que os incêndios deflagravam, nas redes sociais, alguns utilizadores denunciavam igualmente a falta de meios. Em particular a ausência de seis helicópteros Kamov avariados, comprados à Rússia em 2006 pelo antigo ministro da Administração Interna, António Costa, que foram cedidos, em outubro de 2022, às autoridades ucranianas na sequência da invasão russa oito meses antes.

“Os helicópteros Kamov que foram enviados por Portugal para a Ucrânia podiam ter dado muito jeito a apagar os incêndios que estão a martirizar o país”, nota um utilizador. Outro pergunta se não “seria muito chato” pedir de volta os helicópteros de combate a incêndio que o país ofereceu à Ucrânia. Um ainda questiona: “Fiz ontem uma pergunta e parece que ninguém sabe responder. Porque é que os Kamov (helicópteros) que nós enviamos para a guerra na Ucrânia não serviam para combater os incêndios no nosso país?”

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Para além de a questão ter surgido nas redes sociais em meados de setembro, também foi colocada durante a audição parlamentar na Assembleia da República, a 24 de setembro, sobre a gestão política e técnica dos meios de proteção civil utilizados no combate aos incêndios na ilha da Madeira, que ocorreram em meados de agosto. Estruturas sindicais e representantes dos bombeiros sugeriram, durante a audição e entre outras medidas, reivindicar os helicópteros Kamov enviados para a Ucrânia.

Esta sugestão de os reivindicar fez com que o Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira emitisse um comunicado, acusando as estruturas sindicais de “profundo desconhecimento” sobre o assunto. “De acordo com as novas diretivas europeias, e com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, este tipo de equipamento está proibido de operar no espaço europeu”, lê-se no comunicado de 26 de setembro de 2024, em que se ilustra: “Em Alicante, Espanha, estão neste momento dez helicópteros Kamovs parados sem autorização de operar no espaço europeu”.

No mesmo sentido, antes de serem cedidos à Ucrânia, a ex-ministra da Defesa, Helena Carreiras, explicava que “a pedido da Ucrânia e em articulação com o Ministério da Administração Interna”, Portugal disponibilizaria “à Ucrânia a frota de helicópteros Kamov que, em virtude do cenário atual, das sanções impostas à Rússia, deixou de se poder operar, aliás não têm os seus certificados de aeronavegabilidade e nem sequer poderemos repará-los”.

Conclusão

Não é verdade que os helicópteros Kamov cedidos à Ucrânia em outubro de 2022 pudessem ser utilizados no combate aos incêndios. Os Kamov estavam não só avariados, como também não podiam ser reparados por causa das sanções aplicadas ao país fabricante — a Rússia — na sequência da invasão em território ucraniano. Além disso, como explica a a Secção Regional de Proteção Civil da Madeira, este tipo de equipamento está “proibido de operar no espaço europeu”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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