“A Itália derrota o chamado Covid-19, que nada mais é do que ‘coagulação intravascular disseminada’ (trombose). E a maneira de combatê-lo, ou seja, sua cura, é com os ‘antibióticos, anti-inflamatórios e anticoagulantes’. ASPIRINA, indicando que esta doença foi mal tratada.” Parecem notícias incríveis e, melhor ainda, pretendem transmitir a ideia de que tratar o novo coronavírus é muito simples. Porém, estas informações são falsas e não são propriamente novas — há uns meses já se falava de um remédio caseiro com aspirina que seria milagroso.
O post viral começa por garantir que “os médicos italianos desobedecem à lei mundial da saúde da OMS, para não realizar autópsias em pessoas que morreram de coronavírus, descobrindo que NÃO é um VÍRUS, mas sim uma BACTÉRIA, que causa a morte”.
Em primeiro lugar, não é possível encontrar em nenhum site fidedigno a tal indicação para não fazer autópsias. A Organização Mundial da Saúde divulgou, inclusive, um documento com indicações para que o procedimento aconteça em segurança. Em segundo lugar, não é verdade que se tenha chegado à conclusão de que a Covid-19 é uma bactéria e não um vírus. O Ministério da Saúde italiano, que aqui é citado como a fonte para estas informações, classifica o SARS-CoV-2 como um vírus.
O mesmo acontece na página oficial do Ministério da Saúde português dedicado ao tema. “SARS-CoV-2 é o nome do novo vírus e significa Severe Acute Respiratory Syndrome (Síndrome Respiratória Aguda Grave) — Coronavírus — 2”, pode ler-se na resposta a uma das perguntas frequentes. A OMS confirma: “O novo coronavírus é um vírus respiratório que se espalha principalmente através de gotículas quando uma pessoa tosse ou espirra”.
Mais à frente, a publicação que circula no Facebook garante que a Covid-19 pode ser tratada com “antibióticos, anti-inflamatórios e anticoagulantes” e refere a aspirina. As entidades de saúde competentes não se cansam de dizer que não há, para já, nenhum medicamento milagroso para curar o novo coronavírus. Além disso, a 19 de abril, a OMS emitiu um documento no qual explicava não existirem provas da eficácia de medicamentos anti-inflamatórios no tratamento desta doença.
A publicação contém dados que já tinham sido partilhados anteriormente e que são igualmente falsos. De acordo com este post, “há algo mais, de acordo com patologistas italianos. ‘Os ventiladores e a unidade de terapia intensiva nunca foram necessários.’” Esta informação não surge em lado nenhum, nem defendida por especialistas, nem em sites oficiais.
Conclusão
Não é verdade que a OMS tenha dado indicações para não se realizarem autópsias em pacientes mortos devido à Covid-19. Também é falso que os médicos italianos tenham percebido que a epidemia atual é causada por uma bactéria, facilmente tratada com anti-inflamatórios e anticoagulantes. A aspirina não é a solução. As supostas descobertas sensacionais feitas em autópsias não aparecem em nenhum relatório ou site fidedigno. O Ministério da Saúde italiano não é a fonte para este post viral, já que diz exatamente o oposto.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.