As festas “brancas” do rapper Sean ‘Diddy’ Combs foram durante anos um dos eventos mais invejados, juntando nos Hamptons e em Beverly Hills celebridades e a elite norte-americana. “Se já li o Grande Gatsby? Eu sou o Grande Gatsby”, chegou a comentar o músico e produtor em entrevista ao Independent, numa comparação com o famoso protagonista do livro de F. Scott Fitzgerald. Agora as mesmas festas são um ponto comum em algumas das denúncias de abusos sexuais que recaem sobre o músico, que também é acusado de tráfico sexual e exploração sexual de menores.

Em outubro deste ano, num processo avançado em tribunal contra o rapper, também conhecido como P. Diddy, alegava-se que as festas mais famosas do ano eram uma “fachada” que permitia episódios “sinistros”. Um dos relatos que figura no processo é o de um homem que participou numa festa de 1998, que denunciou que Combs lhe pediu para baixar as calças para que pudesse tocar-lhe. Em julho, Adria English, que fora contratada para trabalhar nas festas brancas, já tinha processado o músico, alegando ter sido drogada e ordenada a fazer sexo com determinados convidados.

Os advogados de Combs negaram todas as alegações, mas as festas ficaram irremediavelmente manchadas, lançando suspeitas sobre algumas das celebridades que participaram nelas. Mais recentemente sobre Jennifer Lopez, ex-namorada do artista, e Jay-Z. Tudo começou depois de nas redes sociais começar a circular uma fotografia que alegadamente mostrava os três num desses eventos.

Vários utilizadores do Facebook partilharam a imagem a preto e branco. Nela pode ver-se uma mulher em topless, que aparenta ser Jennifer Lopez, ao lado de P. Diddy. Atrás de ambos destaca-se outro rosto, que foi identificado em algumas publicações como Jay-Z.

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Fact check P. Diddy, Jennifer Lopez, Jay-Z

A imagem começou a circular em outubro deste ano, mas em novembro ganhou maior destaque depois de a cantora se ter juntado a um comício da campanha presidencial de Kamala Harris, no Nevada. “Jennifer Lopez (ex-P. Diddy acusada de tráfico de pessoas, incluindo tráfico de crianças) chorou no palco hoje, encorajando as pessoas a votarem em Kamala Harris. Ela falou sobre proteção e valores infantis”, escreveu um utilizador no Facebook, partilhando a fotografia.

Sabe-se que Jennifer Lopez manteve um relacionamento com Diddy durante vários anos. Apesar de a relação ter terminado em 2001, e face às acusações que recaem sobre o antigo parceiro, a artista tem sido questionada várias vezes sobre o assunto. No final de outubro, chegou a sair abruptamente de uma sessão de autógrafos depois de ser questionada sobre o tema.

Quanto a Jay-Z, também chegou a estar juntamente com P. Diddy em vários eventos públicos. Aliás, como escrevia a BBC em outubro, o artista e a mulher, Beyoncé, chegaram a lançar novas músicas em alguns encontros.

Não há, no entanto, nada que prove que a imagem que circula seja verdadeira. Na verdade, existem várias versões da fotografia, algumas invertidas outras a cores, como se pode encontrar através da aplicação Tineye.

A imagem, que é de baixa qualidade, tem vários elementos suspeitos, desde figuras sem rosto no fundo a áreas desfocadas, bem como membros sobrepostos e desproporcionais. A mulher que aparenta ser Jennifer Lopez, por exemplo, tem uma mão desproporcionalmente grande. Também a mulher à sua direita, de rosto desfocado, tem uma mão deformada e outra que parece fundir-se com o corpo. Além disso, uma das suas pernas parece desbotada e mistura-se com o fundo. Tudo isso são indicadores que geralmente apontam para a possibilidade de manipulação, nomeadamente através de inteligência artificial (IA).

Aplicações de verificação de deepfakes, como o TrueMedia, apontam para a manipulação desta imagem. A app destaca fatores como “a postura e o alinhamento não naturais dos corpos das pessoas, a iluminação inconsistente e características faciais borradas ou obscurecidas”. “Esses aspetos podem frequentemente ser indicadores de manipulação ou geração por ferramentas de IA. Sem o original, é difícil dizer conclusivamente que não foi encenada ou alterada após a captura”, refere numa avaliação da fotografia.

O Factchecker, que à semelhança do Observador é um dos parceiros da International Fact-Checking Network, chegou à mesma conclusão com base no uso da aplicação Hive AI, que indica que há quase 90% de probabilidade da imagem ser gerada com IA.

Conclusão

A fotografia, que circula pelo menos desde outubro, não tem uma origem clara. Possui várias características associadas a manipulação, como áreas desfocados, membros sobrepostos e desproporcionais, postura e alinhamento não naturais dos corpos das pessoas e iluminação inconsistente. Com base nestas características, aplicações de deepfakes apontam para criação ou manipulação através de IA. Sem o original não há nada que prove que a imagem é verdadeira.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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