“O passado comunista de Kamala Harris e a sua viagem à Rússia”, é o título de várias publicações que estão a ser partilhadas nas redes sociais. A crítica é dirigida à atual vice-presidente dos Estados Unidos, e candidata Democrata à Casa Branca.
Kamala substituiu Joe Biden, depois de o Presidente norte-americano desistir da recandidatura, em agosto deste ano. Foi uma corrida sem oposição interna, uma vez que o nome de Kamala Harris era o único a procurar a nomeação oficial como candidata à presidência dos Estados Unidos.
Tornou-se assim adversária direta de Donald Trump, nas eleições de cinco de novembro, e por extensão, o principal alvo das críticas do antigo Presidente norte-americano. Logo depois de ser conhecida a agenda económica da vice-presidente, que inclui uma proibição federal da manipulação dos preços dos alimentos, Trump insistiu que as medidas da candidata à Casa Branca são “comunistas e fascistas“.
Na campanha, pelos vários estados dos Estados Unidos, Trump tem insistido nas críticas e na colagem de Harris à extrema esquerda. Num discurso no Michigan, disse que as eleições de 5 de novembro são “uma escolha entre o comunismo e a liberdade“.
Não está sozinho. Elon Musk, dono da rede social X, conhecido apoiante do candidato Republicano chegou a publicar uma imagem criada com Inteligência Artificial a mostrar Kamala Harris com um uniforme vermelho, decorado com símbolo do Partido Comunista, uma foice e um martelo.
O contexto está dado. Não é a primeira vez que personalidades ou líderes do Partido Republicano tentam criticar Kamala Harris, com acusações de querer implementar uma sociedade comunista nos Estados Unidos. E as declarações de Trump e Musk têm tração nas redes sociais.
Publicações de Facebook mostram um documento escrito em russo, com uma fotografia a preto e branco de uma jovem Kamala Harris. Na descrição, a publicação explica que “no dia 19 de agosto, o canal oficial dos Arquivos da Federação Russa transmitiu o cartão pessoal de Kamala Harris quando, na juventude, era membro do Partido Comunista dos Estados Unidos“.
O cartão terá sido entregue à atual vice-presidente dos Estados Unidos, quando alegadamente viajou para Moscovo em 1984, na altura com 20 anos. Kamala, teria sido membro do Partido Comunista durante 11 anos, ou seja até 1991.
Mas haverá alguma ligação de Kamala Harris ao Partido Comunista dos Estados Unidos? Não. O suposto cartão de militante com a fotografia da “camarada Harris” é criado com a ajuda do site Stalinavas, que cria vários modelos de supostos cartões de militantes de partidos comunistas, que se podem descarregar e preencher com o respetivo nome ou data de nascimento. O número de identificação, a forma como o carimbo está colocado no cartão e a escrita que se pode ler na página direita é idêntico ao cartão que aparece com uma fotografia de Kamala Harris. Uma pesquisa com a ferramenta TinEye pela imagem manipulada do alegado cartão de militante remete para dezenas de outros resultados, vários com imagens diferentes.
Mas além do cartão manipulado, há outras incongruências. A fotografia de Kamala Harris, que aparece no cartão, não foi tirada em 1984, como se pode ler no texto que acompanha a publicação, mas sim em 1986. É o que se pode ler num perfil do New York Times, escrito em 2020, que utiliza essa mesma fotografia como manchete.
E além das críticas dos adversários, não é possível encontrar nenhuma informação de que, no passado, Kamala Harris alguma vez se tenha cruzado com o Partido Comunista dos Estados Unidos.
Conclusão
Não é verdade que Kamala Harris tenha um cartão de militante do Partido Comunista dos Estados Unidos. A imagem é manipulada e foi criada através de um site que permite preencher supostos cartões de militantes do partidos comunistas, com o nome e a fotografia que bem entender. Não há nenhuma informação sobre a atual vice-presidente dos Estados Unidos ter um passado ligado ao comunismo norte-americano, independentemente da sua idade.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.