A internet não é só lugar para o ódio ou para a partilha de vídeos divertidos. Pode ser também o lugar predileto de quem quer partilhas palavras inspiracionais de determinados autores. Fernando Pessoa, António Lobo Antunes, Albert Einstein, são só alguns dos nomes, da ciência à literatura, que costumam pintar os morais de Facebook de milhares de internautas com alegados discursos sobre assuntos tão complexos como o racismo ou a natureza da condição humana.
No dia 29 de julho este ano, surgiu um texto nas redes sociais, em jeito de diário, atribuído ao escritor Mia Couto. Nele fala-se da “Geração à Rasca”, nome que se deu a um conjunto de manifestações massivas das gerações mais jovens de Portugal que ocorreram no período da troika. É um longo texto sobre os seus privilégios (da internet aos concertos), as “agruras da vida” que lhes foram escondidas, estabelecendo um paralelo com outras gerações que passaram por maiores dificuldades especialmente antes do 25 de abril de 1974. Ainda que se sinta um tom crítico, no fim desta prosa, lê-se que, no fundo a culpa não é desses jovens, mas sim de quem “não os soube educar”. No entanto, trata-se de uma publicação falsa.
Para isso, bastou ao Observador questionar o autor de livros como “Mulheres de cinzas” (2015) ou “A confissão da leoa” (2012). “Esse texto não é meu”, referiu Mia Couto, esclarecendo que, de facto, nada tem a ver com este texto sobre a “Geração à Rasca”. A verdade é que olhando para a publicação original, além da referência ao escritor moçambicano, não há qualquer elemento que comprove a sua autoria.
Além disso, Mia Couto esclareceu também que o texto vem com o seu nome associado “há anos” o que “ilustra o poder da internet”. “Há anos que tento negar essa autoria. Em Moçambique essa abordagem seria bastante deslocada. A maioria dos jovens moçambicanos cresceram na maior das carências”, esclarece.
Conclusão
Não é verdade que o escritor moçambicano Mia Couto tenha escrito um texto nas redes sociais sobre a “Geração à Rasca”, nome dado a uma série de manifestações das faixas etárias mais jovens durante o período da troika em Portugal e da governação de Pedro Passos Coelho. O escritor negou a autoria daquele texto ao Observador e admitiu que há anos que tenta fazê-lo, mesmo que o texto continue a surgir nas redes sociais.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.