Uma publicação que está a ser partilhada no Facebook mostra duas fotografias da Estátua da Liberdade com, alegadamente, 100 anos de diferença entre ambas mas, ao mesmo tempo, com um nível da água do mar inalterado. O monumento situa-se em Nova Iorque, uma cidade banhada pelo Oceano Atlântico, nos Estados Unidos. Mas será que o nível das águas permaneceu inalterado entre 1921 e 2021?

De acordo com dados recolhidos pelo NOOA, a Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera dos Estados Unidos, numa estação situada em Nova Iorque, em 100 anos, o nível de água do mar aumentou quase 30 centímetros. Se olharmos para os dados a 170 anos, a subida é de cerca de meio metro.

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Contactado pelo Observador, o presidente da Associação Ambientalista Zero, professor no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade, Francisco Ferreira, sublinha que “não há dúvidas” na comunidade científica sobre a veracidade da subida do nível das águas do mar. “Os cientistas concordam em absoluto com a subida do nível do mar. É derivada de duas coisas: por um lado, o degelo e, por outro lado, pela expansão térmica dos oceanos, que aumentam de volume por existir maior calor”, diz.

Francisco Ferreira explica ainda que 60% do aumento do nível das águas do mar se deve ao degelo e que os outros 40% se devem ao aumento de volume do oceano em função da temperatura — a expansão térmica.

O presidente da Zero aponta a subida das águas como um dos problemas mais significativos das alterações climáticas em cidades como Nova Iorque, dado a quantidade de património imobiliário que fica ameaçado. Francisco Ferreira menciona ainda o Furacão Sandy, que em 2012 deixou parte da ilha de Manhattan inundada, como a “prova de que as alterações climáticas têm um impacto significativo em cidades como Nova Iorque”.

Já sobre o facto de a imagem partilhada na publicação mostrar alegadamente duas imagens com 100 anos de diferença em que, aparentemente, o nível da água é o mesmo, o presidente da Zero adianta que isso pode ser explicado pelas marés, e lembra que “as evidências das alterações climáticas não se encontram ao olhar para um dia em particular”. Ter “um dia de maré muito baixa ou muito alta não significa nada”, sublinha Francisco Ferreira.

O investigador lembra ainda que “o clima não é meteorologia, mas sim tendências a longo prazo”. O que está em causa não é “a variabilidade do dia-a-dia”, adianta Francisco Ferreira. “Até pode existir um ano em que a maré foi muito mais alta do que o normal, mas é preciso olhar para a tendência ao longo das décadas porque, sem essa leitura, pode existir uma interpretação falsa da informação”, conclui o professor universitário.

Também a UNESCO alerta para a subida do nível das águas do mar em Manhattan. De acordo com um relatório da UNESCO, citado aqui pela cadeia de televisão norte-americana CNBC, as alterações climáticas são um dos “riscos mais significativos” para vários locais classificados como património mundial, um pouco por todo o mundo.

O relatório “Património Mundial e Turismo num Clima em Mudança”, citado pela CNBC, aponta para o facto de que, apesar de a Estátua da Liberdade parecer “invulnerável”, enfrenta ameaças como a subida das águas do mar, marés ciclónicas e um aumento da intensidade das tempestades.

No texto, a UNESCO lembra também o Furacão Sandy, que assolou os Estados Unidos em 2012, para recordar que 75% da Ilha da Liberdade, onde se situa a estátua, foi inundada e que o monumento esteve fechado durante nove meses.

Conclusão

É falso que o nível das águas do mar não tenha subido entre 1921 e 2021. De acordo com os dados divulgados pela Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera dos Estados Unidos, em 100 anos foi registado uma subida de quase 30 centímetros. Para além disto, a subida do nível das águas do mar é um facto que não é disputado pela comunidade científica, como explica Francisco Ferreira. O presidente da Zero alerta que não é possível tirar conclusões sobre o fenómeno com base em apenas dois dias, ou duas fotografias.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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