Numa ação de campanha, no último fim de semana, André Ventura sugeriu que Portugal deverá ser “o país da Europa onde, em plena pandemia, mais centros de saúde estarão fechados”. Verdade? “Nenhum centro de saúde está fechado” e “nunca houve uma ordem de encerramento” por parte do Ministério da Saúde, remata o médico Rui Nogueira, que no último ano dirigiu a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). O ministério de Marta Temido confirma: “Não existiu nenhuma indicação para encerramento de unidades de saúde, nem está em vigor nenhuma medida desse tipo”, refere a resposta enviada ao Observador.

Nos esclarecimentos solicitados a propósito da declaração de André Ventura, o Ministério da Saúde recorda que “a gestão das unidades de saúde e a utilização de recursos pertence às Autoridades Regionais de Saúde, através dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES)”. A tutela tem emitido orientações no âmbito da atividade assistencial, com enfoque na necessidade de compatibilizar acesso aos cuidados de saúde e segurança”.

É isso que resulta também das declarações prestadas por Rui Nogueira ao Observador. O ex-presidente da APMGF contesta, desde logo, a ideia de que a atividade dos centros de saúde de norte a sul do país tenham reagido à pandemia com o encerramento de portas: “Claro que muitas vezes temos de reagendar consultas de doentes para garantir a segurança de todos — doentes e profissionais — porque temos de manter o absoluto rigor na marcação de consultas, com horas específicas, por exemplo, e temos de garantir que não uma acumulação de pessoas nas salas de espera”, explica.

E o médico de família também reconhece que, em alguns momentos, estas unidades de saúde “fecharem porque os profissionais ficam infetados”. Mas isso acontece durante “um dia ou umas horas, não é a situação normal”, sublinha o clínico.

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Na verdade, e segundo dados do Ministério da Saúde disponibilizados ao Observador, das 907 unidades de Cuidados de Saúde Primários existentes em todos o país, ” 7,4%, ou seja, 67 unidades têm polos encerrados”, havendo “vários motivos de encerramento (obras, entre outros)”. “Por profissionais em isolamento ou profissionais doentes COVID estão presentemente encerrados 13 polos”, concretiza o Ministério da Saúde.

Consequência da pandemia, além da nova forma de gerir as idas dos doentes aos centros de saúde, foi também preciso que os médicos de família encontrassem novas formas de acompanhar os seus pacientes. “Falamos muitas vezes ao telefone, tivemos de nos reorganizar, mas continuamos em contacto com as pessoas, até mais do que fazíamos antes”, assegura.

Prova disso será o número que Rui Nogueira antecipa: mais de 30 milhões de atendimentos em 2020, um valor superior ao do ano anterior. “Isso acontece porque os contactos que temos de fazer para um doente, por serem em muitos casos ao telefone, obrigam a várias chamadas de acompanhamento porque ele nem sempre fica completo com um contacto apenas”, explica o clínico.

Em suma, sublinha, “nunca um centro de saúde ficou fechado” por um longo período nos últimos 10 meses e, mais que isso, “nunca aconteceu recebermos uma ordem de encerramento” por parte do Ministério da Saúde.

Conclusão

Os centros de saúde não fecharam portas e até é expectável que, em 2020, o número de atendimentos possa superar o registo do ano anterior. As garantias são dadas ao Observador por Rui Nogueira, que até janeiro presidiu à Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

[Texto atualizado às 00h24 de 20 de janeiro com novos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde ao Observador]

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