Uma mensagem publicada no Facebook a 25 de abril do ano passado, Dia da Liberdade, afirmando que Portugal é o quinto país mais corrupto do mundo voltou a tornar-se viral nos últimos dias. Mas a publicação é falsa: Portugal está longe de ser o quinto país mais corrupto do mundo e já o estava em 2019 também.

A informação faz uso de uma fotografia do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recortada sobre um fundo amarelo com a frase: “Sinto-me orgulhoso de ser o presidente do 5º país mais corrupto do mundo”. No entanto, uma pesquisa pelos rankings mundiais prova que a sugestão de que Portugal está entre os países mais corruptos do mundo é falsa.

Exemplo da publicação que tem estado a circular no Facebook

Aliás, o Índice de Perceção da Corrupção da Transparency International — uma organização não governamental internacional sem fins lucrativos que vigia a corrupção a nível global e cria ferramentas para a combater —, que lista dezenas de países em função dos “níveis percecionados de corrupção do setor público” prova isso mesmo.

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No índice mais recente desta organização, publicado em janeiro de 2020 e referente aos dados do ano anterior, Portugal surge como o trigésimo país menos corrupto do mundo — ou seja, entre os 180 países analisados, há 150 mais corruptos do que Portugal. Em quinto lugar estava a Venezuela.

No índice da Transparency International com os dados referentes a 2018, que era o mais atual à data desta publicação falsa, Portugal estava na mesma posição e já era o trigésimo país menos corrupto do mundo entre as 180 nações avaliadas, ou seja, estava na 150ª posição no ranking de corrupção. O quinto país mais corrupto do mundo era a Coreia do Norte.

Uma análise da plataforma Trading Economics, que comparou a evolução destes rankings por vários países desde 1995 até agora, concluiu que o ano em que Portugal foi avaliado com um índice de corrupção mais alto pela Transparency International foi em 2009, quando estava na 145ª posição, isto é cinco posição mais perto dos países com pior desempenho do que atualmente.

A mesma plataforma indica que, tendo em conta essa mesma comparação, o ano em que Portugal foi avaliado com um menor nível de corrupção foi em 1997, quando o país foi considerado o 19º menos corrupto entre os países analisados.

Origem da informação falsa remonta a 2015

A ideia de que Portugal é o quinto país mais corrupto do mundo surgiu há cinco anos quando a consultora Ernst & Young publicou um estudo sobre a corrupção em 38 países da Europa Ocidental, Europa do Leste, Médio Oriente, África e anda a Índia.

Nesse estudo, nas entrevistas feitas em 3.800 pessoas no conjunto desse países, a consultora questionou os participantes sobre se a corrupção é uma prática generalizada no país que representam. Entre os entrevistados portugueses, 83% respondeu que sim — a quinta percentagem mais alta obtida no estudo. Só entre os croatas, quenianos, eslovenos e sérvios é que as percentagens foram superiores.

No entanto, estes resultados não bastam para concluir que Portugal é o quinto país mais corrupto entre os 38 analisados; e certamente não permitem afirmar que é um dos mais corruptos do mundo. Há dois motivos para isso: o facto de os investigadores não fazerem qualquer análise empírica à realidade de cada português; e o facto de esta percentagem depender da opinião dos intervenientes, que será sempre subjetiva.

Aliás, isso mesmo foi explicado por Pedro Cunha, da Ernst & Young, na apresentação dos resultados do inquérito em Lisboa em 2015: “No último ano e meio, Portugal tem sido fustigado por casos de corrupção. Por isso, os entrevistados terão mais propensão para responder positivamente“, sublinhou. 

A metodologia desta consultora, baseada na mera perceção de uma porção dos cidadãos dos países escolhidos, é diferente da adotada pela Transparency International quando cria o Índice de Perceção da Corrupção. Este último ranking é criado com base “em 13 fontes de dados de 12 instituições independentes especializadas em governamentação e análise do clima de negócios”, explica a organização.

Essas fontes “fornecem uma pontuação para um conjunto de países/territórios e que medem as perceções de especialistas sobre corrupção no setor público”. Entre as instituições que participam nesta análise, cuja lista completa de contribuições pode ver aqui, estão o Banco Mundial, o Fórum Económico Mundial ou a Global Insight. A robustez deste estudo contrasta com a metodologia adotada pela Ernst & Young, que se limitou a recolher as opiniões de uma amostra da população.

Conclusão

Não é verdade que Portugal seja o quinto país mais corrupto do mundo, como indica a publicação viral no Facebook. Na verdade, o país sempre esteve no quadrante menos corrupto da maior instituição de avaliação de corrupção do planeta; e pelo menos desde 1995, quando essa análise começou a ser publicada, a pior classificação que teve foi em 2009, na 35º posição menos corrupta entre os 180 países estudados.

A ideia de que Portugal é o quinto país mais corrupto do mundo tem origem nas extrapolações feitas de um estudo publicado em 2015 que afirma que, entre as amostras de 38 países, houve mais portugueses a considerar que o seu país era corrupto do que em qualquer outro grupo. Mas isso não basta para tirar conclusões sobre a transparência de Portugal e, de resto, contrasta com os resultados de outros estudos mais sustentados.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:

ERRADO

De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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