São muitas as partilhas que podemos encontrar no Facebook com um vídeo do presidente da Argentina, Alberto Fernández, e uma afirmação em que este é acusado de propor a “eutanásia generalizada para os idosos acima de 70 anos. Porque é muito caro manter essas pessoas”.

Nas imagens partilhadas é possível ouvir algumas declarações de Fernández sobre aquele que considera ser “o maior problema da economia: como administrar a saúde”. E explica: “Se há 30 anos tínhamos que apoiar uma pessoa até aos 70 anos, agora temos que mantê-lo até aos 85 anos e com menos pessoas a trabalhar”. “Manter uma pessoa viva custa muito dinheiro”, afirma o presidente da Argentina enquanto, numa janela ao lado, surge uma mulher a reagir, com expressões de indignação, ao que vai ouvindo.

A entrevista, de onde este excerto foi retirado, foi dada ao Perfil Net-TV e pode ser vista aqui. Aconteceu no início de 2020, em abril, quando os países iniciavam processos de confinamento — e a Argentina foi um deles, com medidas de isolamento a iniciarem-se a 20 de março de 2020, tendo apenas sido levantadas em novembro, naquele que foi classificado como o isolamento mais prolongado do mundo.

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Aos 53 minutos do vídeo original é possível ouvir este excerto que surge na publicação que se tornou viral. A conversa, nessa fase da entrevista, era sobre a pandemia e a reação mundial ao então novo coronavírus, com o jornalista a questionar o presidente sobre o valor da vida e as medidas que foram impostas (quando o mesmo não foi feito quando surgiram outros vírus, como a SIDA, exemplifica na pergunta). “Há um direito de longevidade diferente hoje em dia?”

O Presidente argentino começa por dizer o que consta no excerto que circula nas redes sociais, afirmando que se mudaram muitos hábitos e que o maior problema que a economia enfrenta é mesmo “administrar a saúde”, com as pessoas a viverem mais anos. “Isto provoca consequências económicas tremendas”, diz. Mas continua para lá do que surge cortado nesta publicação.

O jornalista confronta-o de novo sobre o valor da vida que hoje existe e se o “direito à longevidade” precipitou a quarentena logo decretada em março. E, nessa altura, Alberto Fernández afirma: “O que acredito é que para qualquer ser humano o valor da vida é o mais importante. Isso é claro. E também para mim. E a vida de todos, não da minha vida. Todos sofremos quando alguém morre e não é fácil ultrapassá-lo.”

O Presidente argentino diz que “o desafio é ir cobrindo os gastos com a saúde, que são infinitos, porque o homem procura a eternidade e essa busca custa muito dinheiro”. Em nenhum momento é defendida a eutanásia como medida a aplicar aos mais idosos — a Argentina aprovou em 2012 o “direito por uma morte digna” e nos últimos anos tem estado a debater a legalização da euntanásia.

Conclusão

O presidente da Argentina não defendeu a eutanásia para os mais idosos para controlar os gastos com cuidados de saúde, como consta na publicação que se tornou viral no Facebook. Alberto Fernández deu esta entrevista no início da pandemia e quando a Argentina vivia uma subida do número de casos, apertando as regras de confinamento. Nesta parte concreta da entrevista, Fernández era questionado sobre se o “valor da longevidade” é hoje diferente e se isso justificava a quarentena decretada. Na resposta, assumiu que os gastos com a saúde são “infinitos”, bem como a “busca do ser humano pela eternidade”. Não defende a eutanásia para os idosos e termina a conversa a afirmar que “o valor da vida é o mais importante”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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