Quem conta um conto, normalmente acrescenta um ponto e quem partilha histórias — já desmentidas — nas redes sociais vai tentando alterar as pessoas envolvidas ou um ou outro pormenor. Esta é mais uma dessas publicações. A estória circula desde meados dos anos 2000, quando John Howard ainda era primeiro-ministro australiano, e já foi verificada pelo Observador quando atribuíram as declarações ao antigo governante australiano. Agora, o utilizador do Facebook publica a fotografia da ex-primeira-ministra australiana Julia Gillard e atribui-lhe as declarações que, depois de tantos anos, continuam a ser falsamente atribuídas.

Publicação que atribui a Julia Gillard declarações falsas.

Julia Gillard foi a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe do Governo australiano. Tomou posse em 2010 e foi substituída no cargo em 2013 por Kevin Rudd. Não há qualquer ligação entre Gillard e as afirmações que lhe são atribuídas na publicação. Em relação ao “apoio às agências de espionagem para vigiar as mesquitas” instaladas na Austrália, a afirmação foi mesmo de um primeiro-ministro australiano. Em 2005, num clima pós atentados do 11 de setembro, John Howard apoiava publicamente as autoridades governamentais a espiar mesquitas, naquilo que considerava ser “uma tentativa de reduzir o crescimento do terrorismo no mundo”.

A citação foi utilizada numa notícia da agência Reuters, publicada no The New York Times, onde o ministro da educação australiano Brendan Nelson dizia ainda que “os muçulmanos que não apoiam os valores australianos devem deixar o país”, contrariando a publicação que atribui esta frase a Julia Gillard. Não há qualquer registo que suporte que Julia Gillard estivesse sequer de acordo com Brendan Nelson.

Todo o discurso que se segue, erradamente atribuído à ex-primeira-ministra Gillard, é de um veterano da Força Aérea norte-americana, Barry Loudemilk, e foi escrito num jornal local, no estado da Georgia, logo após os ataques do 11 de setembro, sob o título “Isto é a América, gosta dela ou sai”.

Conclusão

É falso que os muçulmanos que queiram viver sob a lei islâmica tenham recebido ordens para deixar a Austrália. Em 2005, o primeiro-ministro australiano John Howard autorizou que as mesquitas do país fossem espiadas por autoridades governamentais, para tentar conter o crescimento do terrorismo no mundo. Mas não há registos sobre a opinião de Julia Gillard em relação ao posicionamento do seu antecessor no cargo, que representava outro partido (Howard é Liberal, Gillard Trabalhista). Em relação às frases que o utilizador apontava, na semana passada, terem sido proferidas pela primeira-ministra (que já não ocupa o cargo desde 2013), uma é do ministro da educação australiano (em 2005) e todo o texto que acompanha a imagem é de um texto de um veterano norte-americano, escrito num jornal local na Geórgia, logo após os atentados do 11 de setembro, que nada tem que ver com a Austrália.

No sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas a reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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