Queda ou encenação? O vídeo dura menos de 1 minuto e mostra um homem a discutir com um grupo de militares. A certa altura, cai no chão e é socorrido por várias pessoas, sob o olhar atento do que parecem ser jornalistas. Quem partilha as imagens nas redes sociais tem uma explicação lógica para o que se passou: chama-lhe “Pallywood“.

E o que é o “Pallywood“? O autor da publicação diz que se trata de “uma técnica muito usada pelos palestinianos para distorcer a realidade” ou, acrescenta, para “moldar a opinião pública a seu favor”. No post, conta a “sua” versão dos factos: diz que tudo foi encenado, defendendo que o homem só “cai sozinho no chão” porque vê “câmaras e repórteres por todos os lados”. Para resumir o que se passou, o autor repete mesmo, em tom de ironia, uma frase bem conhecida de todos os amantes da sétima arte: “And the Oscar goes to…“.

No fundo, o termo Pallywood resulta da junção dos termos “Palestine” (ou Palestina) e Holywood, o distrito de Los Angeles que se tornou referência mundial pela sua ligação ao universo cinematográfico. Ou seja, Pallywood é um termo depreciativo que sugere estarmos na presença de uma encenação. Mas será que este é apenas um bom momento de representação?

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A pesquisa que fazemos diz-nos que não é bem assim. Fazendo uma busca por fragmentos do vídeo na ferramenta Google Images chegamos a outras gravações do mesmo momento, a partir de diferentes ângulos, mas que nos permitem concluir que o episódio teve lugar em 2015 — e não na sequência do mais recente conflito entre o exército de Israel e o grupo islâmico Hamas, tal como a publicação parece sugerir.

Na legenda de um desses vídeos, partilhado no Youtube pelo canal Euronews, lê-se que o homem de 65 anos foi filmado “no meio de confrontos entre o exército israelita e jovens palestinianos em Hebron”, cidade na Cisjordânia. Na gravação, o idoso é ouvido a dizer aos soldados que “deviam ter vergonha”, antes de desmaiar e cair no chão. Uma equipa local da agência Reuters, citada pela Euronews, confirma que o homem — Ziyad Abu Haleel — recebeu tratamento e teve alta do hospital, “após sofrer pequenos hematomas” causados pela queda.

O vídeo é igualmente partilhado no Youtube pela plataforma AJ+, propriedade da Al Jazeera, que escreve que o “idoso palestiniano enfrentou soldados israelitas, para os impedir de atirar sobre manifestantes”.

Pesquisando pelo nome referido, Ziyad Abu Haleel, encontramos também algumas notícias sobre o incidente. De acordo com o jornalTheIndependent, o episódio teve lugar na sequência de confrontos nas regiões de Hebron e Ramallah a 10 de outubro de 2015 e que, segundo a organização palestiniana Crescente Vermelho, terminaram com “17 palestinianos atingidos” em tiroteios. Dias depois do vídeo, o homem acabou por dar uma entrevista à Al Jazeera a contar a sua versão dos factos.

Fact Check. Palestiniano faz-se passar por vítima, combatente do Hamas e jornalista em “vídeos de propaganda” do grupo terrorista?

De resto, o termo “Pallywood” é utilizado com frequência para espalhar desinformação ou teorias da conspiração, em particular desde o reacender do conflito no Médio Oriente. Israel é suspeito de manipular vídeos e o Hamas acusado de recorrer a “atores de crise” e encenar mortes e ferimentos. Algumas dessas publicações já foram desmentidas pelo Observador (aqui, aqui e aqui).

Conclusão

A publicação é falsa. O incidente em questão foi amplamente noticiado quando teve lugar, no ano de 2015. Meios de comunicação como Reuters e Al Jazeera confirmam que o idoso palestiniano chegou a receber tratamento hospitalar na sequência da queda. Ao contrário do que sugere o post, não se trata de uma encenação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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