António Costa, primeiro-ministro, mas falando na qualidade de secretário-geral do PS candidato às eleições legislativas de 2022, atirou dois números a Rui Tavares, na tentativa de mostrar a preocupação do Governo em contribuir para o aumento de salários em Portugal. Costa disse que o salário mínimo nacional subiu 40%, sobre o rendimento das famílias, disse que este indicador melhorou 25% “nos últimos quatro anos”.

Vamos por partes. O salário mínimo nacional subiu 40% nos governos de António Costa. Em 2015, estava nos 505 euros e, em 2022, chegou aos 705 euros.

salário minimo nacional

Salário mínimo ao longo dos anos de executivo de António Costa

Neste caso, a verificação dos factos já tinha sido feita.

Vamos à segunda parte. Subiu o rendimento global das famílias 25% em quatro anos? É sempre difícil fazer a verificação do que é dito quando não é referido o indicador exato a que se pretende aludir. De qualquer forma, o Observador foi verificar o que mostram os números do INE, do Banco de Portugal e os da Pordata, que se baseia nos dados dos primeiros.

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Mas, antes, uma outra ressalva. Quando se referia ao salário mínimo, António Costa fez a comparação entre o valor que entrou em vigor em 2022 e o que era praticado em 2015, ou seja, deu um exemplo de evolução de sete anos.

Mas quando fala sobre o aumento do rendimento global das famílias, o líder do PS refere que os 25% se referem aos “últimos quatro anos”. E, nesse período temporal, o Observador não encontrou qualquer indicador de rendimento disponível que tenha subido 25%.

Vejamos vários indicadores e comparações. Se formos aos últimos dados das contas nacionais do INE, referentes ao terceiro trimestre de 2021, verifica-se que o rendimento disponível bruto das famílias nesse período de três meses atingiu um total de 36.020 milhões de euros. O que significa que, face ao mesmo trimestre de 2017, este valor subiu 12,4%. Mas as contas não se fazem ao trimestre.

Para o conjunto de 2021, ainda não há valores disponíveis. Mas mesmo que anualizássemos os dados do INE — considerando que o quarto trimestre pesa cerca de 28% –, chegaríamos a uma variação (de 2021 face a 2017) de 12%.

Mas a que anos estaria António Costa a referir-se? Se tivermos em conta o ano 2020 (cujo rendimento dos agregados até caiu face ao ano anterior) face ao final de 2016, a subida é igualmente de 12%, subindo para 18% se compararmos 2020 com 2015, quando na Zona Euro o crescimento foi de 12,3%.

Se considerarmos os nossos cálculos anualizados de 2021, e face a 2015, quando António Costa foi eleito para primeiro mandato, então a subida chegaria perto dos 20%. Isto considerando os dados do INE para o rendimento disponível bruto do agregado. Mas ainda fazemos outra conta. Já que 2020 foi um ano pandémico, e como tal atípico, se olharmos para 2019, verificamos que a subida face a 2015 foi de quase 17%.

Rendimento bruto disponível, segundo INE e Eurostat

Estes indicadores são anuais, e como tal deve dividir-se pelos agregados existentes que o INE contabiliza em cerca de 4 milhões — dando cerca de 36.096 euros por família, em termos anuais, no final de 2020.

O Observador foi analisar outros indicadores. Se olharmos para as remunerações do trabalho a preços correntes, divulgadas pelo Banco de Portugal, o crescimento em 2020, face a 2016, foi de 20%. E, face a 2015, foi de 23,9%. Mas as remunerações do trabalho representam, em média, cerca de dois terços do rendimento disponível dos particulares em Portugal, acrescenta o Banco de Portugal. Este indicador (remunerações do trabalho) é, no entanto, o valor mais aproximado do referido por António Costa. Ainda assim, não significa que o rendimento cresça à mesma proporção.

Conclusão

Dado que António Costa não especificou o indicador a que se estava a referir quando falou de uma subida, em quatro anos, do rendimento global das famílias de 25%, em nenhum dos valores que o Observador verificou existe uma subida dessa magnitude.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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