Várias publicações feitas no Facebook desde o início do mês afirmam que os funcionários responsáveis pela recolha de lixo pediram às famílias dos infetados por Covid-19 que identifiquem os sacos dos doentes com uma fita vermelha e os pulverizem com desinfetante antes de os despejar.
A medida foi adotada em pelo menos um município brasileiro: Jales, no interior do estado de São Paulo, onde a prefeitura instruiu os cidadãos que “o lixo produzido pelo paciente contaminado pela Covid-19” fosse “separado e descartado corretamente: A orientação é colocar em um saco a identificação de uma fita vermelha e pulverizá-lo com desinfetante”.
Mas, ao contrário do que é sugerido nessas publicações, essas indicações nunca foram dadas em Portugal. Por cá, as orientações — resumidas neste documento — dizem que “todos os resíduos produzidos pelo(s) doente(s) e por quem lhe(s) prestar assistência devem ser colocados em sacos de lixo resistentes e descartáveis, com enchimento até dois terços da sua capacidade“.
Os sacos “devem ser colocados dentro de um segundo saco, devidamente fechado, e ser depositados no contentor de resíduos indiferenciados“. Esse contentor “deve dispor de tampa e esta ser acionada por pedal”. Além disso, insistem as autoridades (ou seja, a Agência Portuguesa do Ambiente e a Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos), “neste caso, não há lugar a recolha seletiva, devendo os resíduos recicláveis ser depositados com os resíduos indiferenciados e nunca no ecoponto”.
Ou seja, uma leitura dos documentos oficiais prova que em momento algum é recomendado aos cidadãos em Portugal que identifiquem com uma fita vermelha e pulverizem com desinfetante os sacos com resíduos de doentes infetados. Essas medidas foram impostas localmente no Brasil, mas nunca foram adotadas pelas autoridades portuguesas — nem a nível nacional, nem local.
Conclusão
É falso que “os funcionários responsáveis pela recolha do lixo” tenham pedido que “as famílias que tenham um familiar doente do COVID-19 separem o lixo do seu doente e o coloquem em um saco com fita vermelha e pulverizem com um desinfetante”, como afirmado nas publicações em causa.
Essas indicações foram, de facto, adotadas localmente no Brasil, mas os documentos das autoridades portuguesas não incluem recomendações sobre a identificação dos resíduos de cidadãos infetados com fita vermelha. E nunca é aconselhada a pulverização com desinfetante dos sacos de lixo dos infetados pelo SARS-CoV-2.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.