O autor de uma publicação no Facebook alega que os testes das vacinas contra a Covid-19 foram interrompidos em animais, “porque estavam morrendo”, e seguiu-se para a administração às pessoas sem estar concluída essa fase. Os dados publicados pelas diferentes farmacêuticas e os estudos realizados em contexto académico provam que não é verdade.
A base desta publicação é uma sessão do Senado do estado do Texas, nos Estados Unidos, de 6 de maio deste ano. Nessa sessão, há uma troca de palavras entre o senador Bob Hall e a pediatra Angelina Farella, chamada a uma audição sobre a pandemia. A interação pode ser escutada a partir dos 44 minutos.
Bob Hall é um conhecido crítico da gestão da pandemia, mas não só. Foi ele quem propôs ao senado texano uma norma que proíbe que qualquer vacina — não apenas a da Covid-19 — seja de toma obrigatória nos Estados Unidos. É precisamente no âmbito dessa proposta que a pediatra é chamada ao Senado do Texas.
Hall é também um defensor do uso da hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19, embora não esteja cientificamente comprovado que este fármaco resulte, e exista o perigo de os riscos relacionados com o medicamento pesarem mais na balança do que os benefícios. Por outro lado, a pediatra norte-americana Angelina Farella também já foi notícia pelas posições polémicas tomadas relativamente à vacinação contra a Covid-19.
A especialista tem sido abertamente contra o uso das vacinas e acredita que é mais importante prevenir a doença através, por exemplo, da toma de vitaminas — algo que não corresponde às orientações das autoridades de saúde norte-americanas ou europeias. Angelina Farella faz parte do grupo America’s Frontline Doctors, considerado negacionista da vacinação e promotor de “curas” que não estão comprovadas cientificamente. Os membros têm divulgado informação falsa ou enganadora sobre a pandemia, o que já levou a queixas de “clientes” ou “doadores” que dizem que os conselhos veiculados não melhoraram (e em algumas casos pioraram) a doença de quem foi infetado pelo novo coronavírus e procurava um tratamento alternativo ao recomendado pelas autoridades de saúde. Nesta plataforma, é comum pedirem-se receitas de ivermectina junto dos médicos que fazem parte do grupo, mas muitos queixam-se de que os resultados não são os esperados.
Mas não é preciso analisar esse histórico do Senador e da pediatra para saber que a informação em análise neste fact check é falsa. Quando se fala das vacinas aprovadas para uso nos Estados Unidos (as mesmas que em Portugal, à exceção da Astrazeneca), a autoridade do medicamento do país, a FDA, detalha os resultados dos estudos pré-clínicos. No site do regulador, lê-se que depois destes estudos “os investigadores reveem os resultados e decidem se o fármaco deve ser testado em pessoas”.
Nos diversos fact checks já feitos sobre este assunto, incluindo pela agência de notícias France Presse ou a plataforma Full Fact, é indicado que caso houvesse mortes inexplicáveis de animais durante os ensaios, esses seriam imediatamente interrompidos. A autorização de emergência dada quer pela FDA quer pela Agência Europeia do Medicamento está sempre dependente dos resultados obtidos durante os testes clínicos — que só prosseguem depois de os medicamentos serem usados em animais.
Sobre as vacinas em uso em Portugal, foram publicados os resultados das quatro empresas depois de concluídos os estudos em animais. Pfizer, Moderna, Astrazeneca e Johnson & Johnson não reportaram os problemas levantados pela publicação.
Aqui, pode aceder a um compêndio sobre os estudos em animais em várias fases do desenvolvimento de fármacos de combate à Covid-19, com as conclusões dos diversos testes em primatas e roedores. São ensaios feitos durante o desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 já disponíveis no mercado, mas não só, incluindo-se também detalhes sobre o atual desenvolvimento de outros fármacos.
Conclusão
As vacinas contra a Covid-19 foram testadas em animais com sucesso e as alegações do senador texano Bob Hall e da pediatra Angelina Farella não têm sustentação científica. Ambos têm estado debaixo de fogo por divulgarem informação enganadora sobre a pandemia.
Os resultados sobre os testes da vacina contra a Covid-19 em animais são públicos e existem em abundância. As autoridades de saúde e reguladores dos medicamentos têm diretrizes que obrigam a um cumprimento rigoroso das várias fases dos ensaios clínicos e pré-clínicos, incluindo os testes em animais.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.