A três meses e meio das eleições presidenciais norte-americanas, o assunto da política externa tem dominado grande parte da campanha. O candidato republicano e ex-presidente, Donald Trump, acusa os democratas (que deverão eleger Kamala Harris para a corrida à Casa Branca) de colocarem o mundo perto de uma Terceira Guerra Mundial, por causa das tensões que o atual Chefe de Estado, Joe Biden, mantém com a Rússia.

Várias publicações nas redes sociais partilham essa teoria. “[O] que querem para o futuro? Paz? Ou uma guerra mundial?”, questiona-se num dos posts, fazendo-se um apelo: “Deixem de continuar a acreditar em tretas e a apoiar as pessoas erradas e depois chorem quando virem o mundo o mundo à vossa volta em cinzas. A cada dia, novas provocações e aumento de tensão.”

Neste sentido, esta publicação recorda que o atual governo norte-americano quer instalar na Alemanha “mísseis de longo alcance capazes de atingir a Rússia com bombas nucleares”. “Não é assim que se negocia a paz”, lê-se ainda, numa alusão à guerra que Moscovo começou na Ucrânia.

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Acusando a “comunicação social” de criar heróis e vilões, o post alega que o ex-presidente norte-americano Barack Obama — de que os meios de comunicação sociais “gostam” — “bombardeou sete países em seis anos”: “Só em 2017 lançou 26 mil bombas”. Por sua vez, Donald Trump foi o primeiro “Presidente em cem anos a não iniciar qualquer guerra”.

Durante a campanha, o próprio Donald Trump tem referido esse argumento. “Nunca tive guerras. Fui o único Presidente em 72 anos. Eu não tive guerras.” O objetivo desta estratégia do Partido Republicano passa por diferenciar-se da administração Biden, que teve de lidar com a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, conflitos que o candidato republicano promete terminar caso chegue à Casa Branca.

Fazendo as contas dos últimos 100 anos, a publicação está a incluir Calvin Coolidge, Herbert Hoover, Franklin D. Roosevelt, Harry Truman, Dwight Eisenhower, John F. Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan, George H. W. Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama.

Para um Presidente norte-americano poder declarar uma guerra ou enviar tropas para o estrangeiro, precisa de receber luz verde do Congresso norte-americano. Dwight Eisenhower obteve-a para enviar 150 mil homens para o Líbano em 1958, tal como Lyndon B. Johnson para começar a guerra no Vietname. George H.W. Bush também obteve autorização, em 1991, para a guerra do Golfo e o filho, George W. Bush, para a guerra do Iraque em 2003.

Mas nem todos começaram ou intervieram numa guerra diretamente, como lembra o USA Today. Por exemplo, Bill Clinton recebeu autorização das Nações Unidas para enviar contingentes militares para a Jugoslávia nos anos 90, enquanto Barack Obama envolveu os Estados Unidos na Guerra Civil da Líbia, da mesma forma.

Tendo em consideração todos estes detalhes, além de Donald Trump, Richard Nixon nunca começou uma guerra (ainda que tenha governado durante a guerra do Vietname e a tenha terminado). Gerald Ford também nunca iniciou ou se envolveu num conflito armado, tal como Jimmy Carter.

Tal como tem argumentado Donald Trump nos últimos tempos, Jimmy Carter gosta de lembrar que, durante a sua administração, os Estados Unidos mantiveram-se em “paz”. “Nunca fomos para a guerra. Nunca lançámos uma bomba. Nunca disparámos uma bala”, recordou o antigo Presidente, numa entrevista ao Guardian.

Conclusão

Se é certo que Donald Trump nunca começou ou envolveu tropas norte-americanas diretamente num conflito militar, não é verdade que tenha sido o único antigo Presidente a fazê-los nos últimos 100 anos. Richard Nixon, Gerald Ford e Jimmy Carter nunca iniciaram uma guerra. Este último Chefe de Estado considera que um dos pontos mais positivos do seu mandato foi o facto de os EUA se terem mantido em “paz”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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