Primeiro começou a circular como uma notícia, depois transformou-se numa frase isolada colada num fundo colorido e partilhada de mural em mural e, por último, num print screen (fotografia tirada ao ecrã do telemóvel) de um artigo que até promete um vídeo. “Uso de máscaras em espaços públicos será obrigatório já na próxima semana” é a frase que aparece em todos eles e que tem espalhado, assim, um aviso falso através do Facebook.
A informação foi retirada do contexto a partir do momento em que deixou de ser partilhada com a reportagem original agregada. Surgiu de uma peça feita pela RTP Madeira a 8 de abril que dizia, efetivamente, que as máscaras passariam a ser obrigatórias em espaços públicos. Contudo, essas indicações diziam apenas respeito à Madeira e não ao resto do país. No vídeo, Pedro Ramos, secretário regional da saúde, explicava que seriam distribuídas “duas máscaras por domicílio” através dos correios.
As medidas estavam prontas para ser implementadas na semana de 13 de abril. Essa é a tal “próxima semana” à qual a frase que circula atualmente faz referência. “Esperamos no dia 14 ou 15 [de abril] termos já 250 mil máscaras destas, para serem distribuídas pela população”, dizia Pedro Ramos em videoconferência. Estamos a 22 de abril, esses dias já passaram, mas a ausência de detalhes na publicação que circula no Facebook leva a que ela continue a multiplicar-se.
Porém, no dia 16, Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, admitia que o uso de máscaras pela generalidade da população não seria obrigatório, uma vez que isso teria de levar a “nova legislação”.
Uso generalizado de máscaras na Madeira não é obrigatório, diz executivo
Nessa altura, Miguel Albuquerque falava dessa obrigatoriedade apenas “no exercício de determinadas funções”, decisão que seria confirmada dias depois. Assim, desde a meia-noite desta quarta-feira, 22 de abril, a máscara passou a ser obrigatória “para os profissionais e pessoal de todas as atividades com contacto com o público”. Para a restante população, a proteção continua a ser recomendada, mas apenas isso.
Uso de máscara obrigatório na Madeira em atividades de contacto com público
Neste momento, a Direção Geral da Saúde já incentiva os portugueses a protegerem a cara com uma máscara social ou cirúrgica, dependendo do grupo a que cada um pertence, sobretudo em espaços fechados, embora durante muito tempo tenha defendido que usar uma máscara dava “uma falsa sensação de segurança”.
Apesar de não haver uma obrigatoriedade generalizada ou uma punição decretada pelo governo para quem não use máscara, algumas entidades, como os bancos, já estão a criar as próprias regras. No Millennium BCP, por exemplo, a partir do início da próxima semana “todos os clientes devem usar máscara de proteção respiratória sempre que tencionem aceder ao interior de uma sucursal do banco”. O mesmo decidiu o Santander, exigindo que todos estejam devidamente protegidos a partir de 27 de abril, estando a Caixa Geral de Depósitos a ponderar um cenário idêntico.
Santander e BCP querem clientes com máscara na próxima semana
Apesar das orientações que podem ser utilizadas pelas empresas privadas, a verdade é que o Estado ainda não ordenou o uso de máscaras para a população que não está infetada com Covid-19 ou lide diariamente com infetados, como os profissionais de saúde. Portanto, esta informação é falsa.
Conclusão
Não há nenhuma diretiva que obrigue as pessoas a usar máscara em espaços públicos, embora seja essa a recomendação da Direção Geral da Saúde. Informação foi retirada do contexto e surgiu de uma reportagem emitida a 8 de abril que dava conta da obrigatoriedade para toda a população da Madeira, e não do resto do País. Entretanto, também essa decisão foi retificada e aplicou-se apenas a profissionais que trabalhem em áreas nas quais existe contacto com o público. Ainda assim, já há entidades privadas a definirem as suas medidas.
No Santander e no Millennium BCP ninguém vai entrar sem máscara a partir de 27 de abril, mas a medida diz respeito a uma decisão tomada por duas empresas privadas e não corresponde a nenhuma obrigatoriedade por parte das autoridade de saúde.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.