A publicação sugere que as gotículas de uma pessoa infetada com o novo coronavírus, ainda que assintomática, seriam suficientes para fazer um teste, sendo, na visão do utilizador do Facebook, desnecessário usar um “cotonete a 10 centímetros” no nariz ou na garganta. Contudo, os testes PCR são considerados os mais eficazes na deteção do vírus e o médico patologista Germano de Sousa assegura que não podem ser comparados com os testes de antigénio, conhecidos como testes rápidos.

“Tem caroço nesse angu”, refere o autor da publicação verificada. Uma expressão popular que serve para sugerir que, ao recorrer à zaragatoa quando — supostamente — o teste PCR poderia ser feito com recurso a um “perdigoto”, as autoridades e os profissonais de saúde estão a esconder alguma intenção obscura.

Ao Observador, o antigo bastonário da Ordem dos Médicos, e atualmente ligado à área das análises clínicas, explica que o local onde as secreções “se cultivam melhor e onde se desenvolvem é na nasofaringe e não à frente”, na extremidade do nariz. “Podem entrar [por essa via], mas depois o vírus vai invadindo todas as vias aéreas superiores e onde há maior concentração, onde existe a certeza de que será possível apanhar um vírus quando se faz a colheita é na nasofaringe ou orofaringe, nas narinas tem sempre uma concentração muitíssimo mais baixa”, acrescenta, ao frisar que “a contaminação com o vírus é sempre relativamente pequena, o inócuo é pequeno e esse inócuo vai habitualmente, com a respiração, para as vias aéreas superiores e para o pulmão”.

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Por outro lado, “um teste rápido vai pesquisar proteínas do vírus e o PCR pesquisa o o RNA do vírus”. E, enquanto o PCR, com “5 a 10 cópias por mililitro serve para saber se existem ou não existem vírus”, no caso dos testes rápidos é preciso “quase 100 mil cópias”.

Germano de Sousa continua a alertar para a necessidade de se “dar todo o tempo necessário” para que os testes surtam efeito. No caso dos PCR, são precisos “dois ou três dias após o contágio” para dar tempo para que “o vírus se desenvolva e multiplique de modo a apanhar nas secreções do individuo pelo menos 5 a 10 cópias por mililitro”. E os testes de antigénio, realça, “só devem ser utilizados após o início dos sintomas, nos 5 a 7 dias após o início dos sintomas”. “Nessa altura, um resultado positivo é muito provavelmente positivo e negativo é muito provavelmente negativo. Fora isso, nos assintomáticos ou pré-assintomáticos, um resultado negativo nada me diz, pois tem cerca de 40% de hipótese de ser um falso negativo”, explicou o especialista.

Conclusão

Ao contrário do que a publicação questiona — se “não seria mais do que suficiente” usar as gotículas das narinas ou da garganta —, não é possível dizer que os testes PCR podiam ser substituídos por colheitas apenas no nariz ou na garganta, já que estes são os exames mais fidedigno para se comprovar se a pessoa foi ou não contagiada pelo SARS-CoV-2. O médico patologista Germano de Sousa explica ao Observador que não há comparação possível entre estes testes e os de antigénio, já que devem ser usados em períodos diferentes e os resultados não são tão autênticos como nos chamados testes rápidos. Além disso, o especialista realçou também que a concentração de vírus nas narinas é “muitíssimo mais baixa” do que na nasofaringe ou orofaringe, o que torna o teste PCR indispensável.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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