Uma publicação feita num grupo de Facebook de apoio ao juiz Rui Fonseca e Castro afirma que as vacinas contra a Covid-19 estão a deixar um “rasto de morte”. O texto alerta para a “situação caótica que os efeitos secundários, consequências das inoculações, estão a provocar” e aponta que “os dados estão aí para quem quiser ver: a curva ascendente do número de inoculados vem sendo acompanhada pela do número de falecidos“. Mas é precisamente o contrário: à medida que a vacinação foi avançando em Portugal, as mortes por Covid-19 foram estagnando e as restantes mortes mantiveram os valores habituais.

A publicação foi feita no num grupo de Facebook de apoio ao juiz Rui Fonseca e Castro

A vacinação contra a Covid-19 começou a 27 de dezembro do ano passado, em Portugal. Desde então, já foram vacinadas com a primeira dose 4.688.551 de pessoas e têm a vacinação completa 2.947.718 de pessoas, segundo o último Relatório da vacinação contra a Covid-19 divulgado no passado dia 22 de junho pela Direção-Geral da Saúde (DGS). De facto, como afirma a publicação, a curva de inoculações tem sido ascendente, como mostra este gráfico do portal estatístico Our World in Data, elaborado pela Universidade de Oxford:

Percentagem de pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19 em Portugal

Ao contrário do que a publicação afirma, não foi registado um aumento da mortalidade geral em Portugal depois da vacinação. Os dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito mostram que houve um aumento no início do ano — e que reflete precisamente as mortes registadas por Covid-19. Esse aumento atingiu o seu pico a 22 de janeiro e, depois disso, o número de mortes diárias gerais baixou: no início de março já refletia os valores normais.

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Mortalidade geral em Portugal, desde 1 de janeiro até 23 de junho

Além disso, podemos ver que a curva das vítimas mortais por Covid-19 também não está a acompanhar o aumento de doses da vacina administradas. O gráfico mostra de facto um aumento de mortes entre final de outubro e meio de fevereiro — de cerca de 200 mortes para mais de 1500. No entanto esse aumento já se verificava muito antes do início da vacinação em Portugal, a 27 de dezembro. Desde final de fevereiro até agora, aliás, o número de vítimas mortais têm-se mantido na casa dos 1.600.

No entanto, nem sequer é possível afirmar com toda a certeza que a estagnação do aumento de vítimas mortais por Covid-19 se deve à vacinação, já que pode estar relacionado com as medidas de restrição implementadas durante o período que antecedeu a descida do número de mortes diárias. Ainda assim, o que não tem qualquer fundamento — porque nem sequer há dados que o mostrem — é que houve um aumento das vítimas mortais à medida que a vacinação foi aumentando também.

Depois, não há registo de mortes relacionadas com a vacina contra a Covid-19 em Portugal, segundo revelou o Relatório Vacinas para a Covid-19 do Infarmed com dados até 13 de junho. Até essa data, houve 51 pessoas a morrer depois de terem sido inoculadas, mas não se comprovou até ao momento que algum destes casos esteja relacionado com a vacina. “Os casos de morte ocorreram num grupo com uma mediana de idades de 78,5 anos e não pressupõem necessariamente a existência de uma relação causal com a vacina administrada, uma vez que podem também decorrer dos padrões normais de morbilidade e mortalidade da população portuguesa”, lê-se no relatório

É verdade que a vacina da AstraZeneca chegou a ser suspensa em vários países, incluindo Portugal, devido a mortes na sequência de tromboses. Mas em Portugal não houve nenhum caso de alguém que tenha morrido devido a reações adversas à vacina.

Conclusão

Publicação afirma que as vacinas contra a Covid-19 estão a deixar um “rasto de morte” já que a “curva ascendente do número de inoculados vem sendo acompanhada pela do número de falecidos”. Mas o que se tem verificado é precisamente o contrário: a curva das vítimas mortais por Covid-19 não está a acompanhar o aumento de doses da vacina administradas.

Houve um aumento no início do ano da mortalidade geral, que atingiu o seu pico a 22 de janeiro — e que reflete precisamente as mortes registadas por Covid-19. O número de mortes diárias gerais baixou e no início de março já refletia os valores normais. Quanto às mortes por Covid-19, houve um aumento de mortes entre final de outubro e meio de fevereiro — de cerca de 200 mortes para mais de 1500. No entanto esse aumento já se verificava muito antes do início da vacinação em Portugal, a 27 de dezembro. Desde final de fevereiro até agora, aliás, o número de vítimas mortais têm-se mantido na casa dos 1.600.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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