“A injeção não previne infeção, transmissão ou mortes. Então o certificado não se trata de saúde, mas sim de controle.” É esta frase, acompanhada de uma imagem, que está a ser amplamente partilhada no Facebook, criando a ideia de que as vacinas contra o vírus da Covid-19 não funcionam. Assim, também o certificado digital de vacinação utilizado para poder entrar em alguns espaços fechados não serve para outra coisa que não seja controlar os cidadãos. Será verdade? Ou há dados que mostram a eficácia das vacinas?

Uma coisa é certa. Até a data, nenhuma das vacinas comercializadas para prevenir a infeção pelo vírus da Covid-19 tem 100% de eficácia. No entanto, diversos estudos mostram que os valores são bastantes altos. Comecemos pelo mais recente, divulgado sexta-feira, 8 de outubro, pela Direção Geral de Saúde e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Em Portugal, foram detetados um total de 43.751 casos de infeção em pessoas com esquema vacinal completo contra a Covid-19, ou seja, com duas doses tomadas há mais de 14 dias. Este valor representa 0,5% do total de pessoas vacinadas com as duas doses (8.603.453) em todo o país, lê-se no relatório que monitoriza as linhas vermelhas da pandemia. Por outro lado, entre os vacinados que contraíram o vírus da Covid-19, registaram-se também 467 óbitos, dos quais 345 em pessoas com mais de 80 anos.

A publicação que está a ser partilhada no Facebook

Com base na análise destes números, e de outros indicadores, o relatório revela que, em Portugal, tanto o risco de morte como o de hospitalização é inferior entre pessoas vacinadas contra a Covid-19, quando comparadas com quem não recebeu a vacina. Entre 1 e 30 de julho de 2021, os casos com esquema vacinal completo tiveram um risco de hospitalização cerca de três a seis vezes inferior aos casos registados entre não vacinados. Já o risco de morte é duas a quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa do que nas pessoas não vacinadas, de acordo com os dados de agosto.

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O relatório português pode ser consultado na página da DGS.

Linhas vermelhas. 467 mortes e 43.751 casos de infeção entre pessoas vacinadas com as duas doses

Também o ECDC, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, publicou um relatório sobre a eficácia da vacinação no mesmo dia. O título leva-nos logo à conclusão: “Análise provisória da eficácia da vacina COVID-19 contra infeção respiratória aguda grave devido à SARS-CoV-2 confirmada em laboratório entre indivíduos com 65 anos ou mais.”

O estudo (levado a cabo em vários países, Portugal incluído, em doentes com mais de 65 anos) conclui, ainda que de forma preliminar, que “os resultados provisórios sugerem uma boa eficácia da vacina contra SARS-CoV-2 confirmado em laboratório para as vacinas Covid-19 implantadas durante os primeiros seis meses do campanha de vacinação”. Diz ainda que a “eficácia da vacinação completa (um curso completo com duas doses da vacina Covid-19) foi melhor do que para uma dose única, para as vacinas com esquema de duas doses”.

O relatório do ECDC pode ser consultado aqui.

Fact Check. Vacinas “não criam imunidade contra a Covid-19”?

Por último, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças norte-americano (CDC) tem uma página do seu site completamente dedicada à eficácia das vacinas.

“Os estudos de eficácia da vacina fornecem um crescente corpo de evidências de que as vacinas de mRNA Covid-19 oferecem proteção semelhante em condições do mundo real como em ambientes de ensaios clínicos, reduzindo o risco de Covid-19, incluindo doença grave, entre pessoas que foram totalmente vacinadas, por 90% ou mais”, lê-se no site que ressalva que a maioria dos dados são de vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna), estando os dados relacionados com a vacina da Janssen ainda em análise.

“Além de fornecer proteção contra a Covid-19, há evidências crescentes de que as vacinas Covid-19 também fornecem proteção contra infeções por Covid-19 sem sintomas (infecções assintomáticas). A vacinação Covid-19 pode reduzir a propagação da doença em geral, ajudando a proteger as pessoas ao seu redor.”

Pode ler o relatório do CDC aqui.

Conclusão:

Falso. Nenhuma das vacinas disponíveis contra a Covid-19 é 100% eficaz e, em Portugal, os números mostram isso mesmo: há pessoas que foram infetadas apesar de vacinadas e algumas delas morreram. No entanto, os mesmos números revelam que o risco de hospitalização é de 3 a 6 vezes inferior entre as pessoas vacinadas e o risco de morte é duas a quatro vezes menor. Também o ECDC e o CDC têm relatórios que apontam para a eficácia da vacina na prevenção de infeções e de doença grave.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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