Uma publicação no Facebook aconselha quem pratica desporto a não se vacinar. Em causa está a morte de um atleta durante uma prova de triatlo em Lisboa, no início de maio. Partilhando uma captura de ecrã de uma notícia sobre a morte do homem, o autor da publicação aconselhou: “Se fizer desporto, não se vacine.

A questão é que, apesar das várias alegações sobre os supostos riscos das vacinas contra a Covid-19, até ao momento não foi encontrada qualquer associação entre a vacinação e reações adversas graves em atletas e pessoas que praticam desporto regularmente. Pedro Madureira, imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e co-fundador da Immunethep, confirmou ao Observador que “não há qualquer contra-indicação de vacinas para quem faça desporto”.

É assim também para a vacina contra a Covid-19, a quem algumas pessoas têm apontado o dedo como culpada pela morte recente de atletas. “Já está mais que provado que a vacina reduz as infeções por SARS-CoV-2, assim como a severidade da doença”, explica Pedro Madureira: “E os efeitos da Covid-19 em atletas, isso sim, podem ser prejudiciais.

Às 13h de 14 de maio, a publicação em análise tinha sido partilhada 12 vezes.

Exemplo disso são os últimos Jogos Olímpicos, recorda o imunologista: “Acontecerem num cenário em que provavelmente todos os atletas estavam vacinados e não se soube de nenhuma reação adversa em larga escala associada à vacina“. A esmagadora maioria dos desportistas recebeu a vacina contra a Covid-19, mas também outras no passado. Mas não houve registo de problemas de saúde associadas a esses fármacos.

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E também não há desconfianças de que a morte do triatleta numa prova em Lisboa tenha sido motivada pela vacinação. Não houve sequer nenhuma informação oficial, da equipa médica que acompanhou o caso ou de fontes próximas da vítima, que apontem nesse sentido.

Paulo Passos Leite, diretor-geral do Challenge Lisboa, que organizou o evento, explicou ao Observador que, tanto quanto é do seu conhecimento, a morte do desportista foi “uma fatalidade, uma paragem cardíaca como pode acontecer com qualquer um de nós”. E que nada teve a ver com vacinas: “Não tenho conhecimento de tal.”

O estado vacinal do atleta não tem de ser discriminado para que a sua inscrição seja validada pela organização — a lei nem sequer o exige —, mas Paulo Passos Leite, ele próprio um desportista, garante que a vítima “era um atleta que estava a ser acompanhado e a treinar com um grupo, com planos de treinos feitos por profissionais e acompanhamento total a nível nutricional e de preparação”.

Desde que a vacina da Covid-19 começou a ser distribuída que a morte de atletas está a ser associada a supostos problemas de saúde fatais provocados por esse mesmo fármaco. Mas não há qualquer evidência científica de que as mortes entre desportistas vacinados seja mais frequente do que as mortes entre desportistas não vacinados; nem que esteja a haver mais mortes de atletas agora do que antes da vacinação.

Por exemplo, um estudo Journal of the American Heart Association cujos resultados já foram confirmados pela comunidade científica estimou em julho de 2021 que o risco de desenvolver miocardite por causa das vacinas de mRNA (como a vacina contra a Covid-19 da Moderna e da Pfizer) era de um em 20 mil. Mas o risco de um jovem atleta desenvolver problemas cardíacos ao ter Covid-19 é de um em 200.

Em entrevista ao The New York Times, Jonathan A. Drezner, editor-chefe do British Journal of Sports Medicine, parceiro das autoridades de um centro nacional norte-americano que investiga ferimentos catastróficos ocorridos em contexto desportivo, disse que as listas que relacionam a morte de determinados atletas com a vacinação são “desinformação”. “A maioria dos casos é de outras causas estabelecidas de paragem cardíaca súbita em atletas, e alguns casos ocorreram antes mesmo do início da pandemia”, esclareceu.

Um relatório do Colégio Americano para a Medicina Desportiva diz que, “com milhares de milhões de vacinas contra a Covid-19 administradas em todo o mundo, as vacinas provaram ser seguras e eficazes”. “Embora alguns efeitos colaterais possam ocorrer, a maioria é de curta duração, especialmente em comparação com a doença real ou os requisitos subsequentes de isolamento se um atleta e/ou companheiro(s) de equipa forem infetados”, continua o documento.

Conclusão

É falso sugerir que quem pratica desportivo corre mais riscos por vacinar-se do que não sendo vacinado — contra a Covid-19, que está sob maior escrutínio nos últimos anos, e contra qualquer doença. Não há qualquer contraindicação para a vacinação em atletas, sendo que ela é mais segura do que a doença que se pode vir a desenvolver. E não há evidência de que os desportistas estejam a sofrer reações adversas fatais a qualquer vacina.

Também não há suspeitas de que a morte do triatleta numa prova em Lisboa tenha sido precipitada pela toma de uma vacina. Fontes próximas do caso dizem que a vítima terá perdido a vida à conta de uma paragem cardiorrespiratória que nada teria a ver com a vacinação. Nenhuma informação oficial, seja da família ou da equipa médica que o acompanhou, aponta nesse sentido.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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