Dezenas de utilizadores das redes sociais irritaram-se, na semana passada, com uma frase que a vereadora do Bloco de Esquerda Beatriz Gomes Dias supostamente teria dito. A frase, que valeu à bloquista muitos insultos, inclusivamente racistas, é esta: “Os portugueses virem a ser minoria no futuro é bom, vão finalmente entender o que nós pessoas racializadas sentimos.”

Na imagem que circula nas redes, que coloca a frase como um suposto título de uma entrevista da vereadora ao Público, inclui-se um resumo da entrevista igualmente incendiário: “A vereadora do Bloco de Esquerda voltou a fazer declarações polémicas quanto ao seu apoio às políticas de substituição populacional, das quais tem sido uma apoiante fervorosa.”

Mas nada disto é verdade: Beatriz Gomes Dias não disse aquela frase nem defendeu “políticas de substituição populacional”, além de nesse dia não ter concedido uma entrevista à jornalista do Público Liliana Borges, que aparece na imagem manipulada.

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O Público veio, aliás, esclarecer na sua conta de Twitter que a imagem é “manipulada” e que atribui declarações a Beatriz Gomes Dias que esta “nunca proferiu numa suposta entrevista ao Público”. “Não caia em fake news”, pediu o jornal.

Numa pesquisa pelo arquivo recente do Público, é possível perceber que Beatriz Gomes Dias deu, sim, uma entrevista ao jornal nesse dia (3 de março), mas à jornalista Ana Sá Lopes, a propósito do voto de repúdio (chumbado) que apresentou na Câmara Municipal de Lisboa contra os brasões das ex-colónias portuguesas desenhados na calçada portuguesa da Praça do Império, em Belém.

A frase escolhida para título não era, no entanto, a que aparece na imagem manipulada, mas esta: “Era fundamental que a Praça do Império mudasse de nome.” E na “entrada” (o texto-resumo da entrevista que aparece logo a seguir ao título) lia-se também um texto diferente: “Beatriz Gomes Dias, vereadora do BE, defende que sejam ‘desmontados os mitos’ em torno do Padrão dos Descobrimentos e que se devia avaliar os nomes das ruas de Lisboa.”

Na entrevista, Gomes Dias defende que a discriminação social se coloca “a todas as pessoas negras, independentemente da sua condição social e do espaço político que ocupam”; critica as “ideias bafientas” e o prolongamento da “fantasia” do império português, assim como a sua “celebração acrítica”; define o império como “um projeto de genocídio, de barbárie, de exploração e dominação de outros povos, que teve consequências dramáticas para as populações que foram ocupadas”; e critica a “segregação territorial” na cidade de Lisboa. Mas não diz nada que se pareça com a frase que consta da imagem manipulada.

Como o Público veio recordar, há ainda uma outra entrevista de Beatriz Gomes Dias ao jornal, mas foi feita no contexto das eleições autárquicas de 2021 e tem um título completamente diferente: “Aliança de esquerda contra Moedas? ‘Precisamos de ver a evolução das sondagens’.” Mais uma vez, não se lê nada de semelhante à frase em causa.

Conclusão

A imagem que contém a suposta declaração de Beatriz Gomes Dias foi manipulada. Como o jornal já esclareceu e é possível verificar lendo a entrevista, a vereadora bloquista nunca proferiu aquela afirmação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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