No final do ano passado, começaram a surgir notícias de surtos do vírus H3N2 (do tipo Influenza) em várias cidades do Brasil. Esse foi motivo suficiente para surgirem publicações nas redes sociais a questionar o tipo de vírus em questão, já que a variante Ómicron estava a ganhar força um pouco por todo o mundo. “A gripe H3N2 é uma farsa! Trata-se da variante Omicron. Inventaram essa ‘gripe de verão’ para o povo não perceber que se trata de um surto de Covid-19. Um surto que atinge totalmente vacinados iria desmoralizar as vacinas, trazer revolta e descrença dos vacinados para tomar a próxima dose, além de derrubar a narrativa do passaporte sanitário.” Esta é a descrição feita por uma autora no passado dia 7 de janeiro. No entanto, trata-se de uma publicação falsa.
Além da acusação que é feita pela publicação original, mais nenhum dado é fornecido. Para se perceber o que está em causa, o Observador contactou o virologista João Manuel Braz Gonçalves para perceber, afinal, de que tipo de vírus estamos a falar. “É um vírus da gripe, vírus da Influenza A subtipo H3N2. Apareceu em 2010/2011 e depois em 2012. A partir daí, apareceram mais uns surtos e em 2021 surgiu frequentemente porque tem mutações extra. Mas recorrendo aos testes PCR conseguimos distinguir o que é o H3N2 e o Sars-Cov-2.” Portanto, não está relacionado com a variante Ómicron.
Estamos perante mais uma notícia falsa que também não procura justificar, com dados credíveis, aquilo que divulga. Segundo a CNN Brasil, num artigo relacionado com o tema, a causa desses surtos pode estar ligada à menor adesão da população brasileira à vacinação contra a gripe, contrariando as taxas de vacinação contra a Covid-19. Ainda assim, segundo o virologista Fernando Motta, o vírus Influenza em causa “não apresenta variações genéticas que sejam desconhecidas pela comunidade científica”. Sendo que, por hipótese, esta estirpe pode não estar incluída na composição das vacinas contra a gripe em determinadas regiões do Brasil.
É também importante fazer a distinção entre os vírus. São vírus respiratórios, muito contagiosos, com sintomas semelhantes e transmitem-se pelo ar, podendo causar a morte. No caso do vírus da gripe sazonal, existem quatro tipos (A, B, C e D). Atualmente com circulação humana existem dois tipos: o subtipo A (H1N1) e o A (H3N2), como explicado pela Organização Mundial de Saúde na sua página oficial. Só os do tipo A é que acabaram por causar pandemias no mundo inteiro.
A diferença principal é que o vírus da gripe causa a Influenza e está devidamente identificado há vários anos e a Covid-19 é causada por um tipo de coronavírus que foi, pela primeira vez na história, identificado no ano de 2019. “O H3N2 é um dos vírus da gripe que tem genes diferentes do coronavírus, e que podem ser distinguidos nos testes e diagnóstico”, referiu o virologista João Manuel Braz Gonçalves.
Por curiosidade, convém esclarecer que a publicação em questão tem — talvez por lapso do próprio autor — uma informação na parte inferior da imagem. “Informação parcialmente falsa. A mesma informação foi analisada por verificadores de factos independentes noutra publicação”. Uma dessas publicações é o Boatos, fact-checker brasileiro, que “já fez quase 900 verificações a notícias falsas que alegam que ‘o vírus é uma farsa’ “. Conclui-se, novamente, que estes dois vírus são, de facto, diferentes; que a variante Ómicron não é causada pelas vacinas; no Brasil, a par do que já fazem os outros países, pessoas com sintomas gripais são devidamente testados para saber se contraíram Covid-19.
Conclusão
Não é verdade que o vírus H3N2 seja o mesmo da variante Omicron. O primeiro é do tipo Influenza, já identificado e estudado há vários anos — e que provoca a mais conhecida gripe — e o segundo é uma variante do novo coronavírus, sendo agora a dominante no mundo inteiro. Portanto, nenhum deles “é uma farsa”, como foi dito pela publicação original. Quanto ao primeiro, em países como o Brasil, foram identificados alguns surtos no final do ano passado, e uma das explicações é a baixa taxa de vacinação da gripe em algumas regiões daquele país.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.