O número, revelado por Jerónimo de Sousa na quinta-feira de manhã, em visita ao centro de saúde da Amora, no Seixal, surpreendeu duplamente. Primeiro por ser tão elevado — de acordo com o secretário-geral do PCP, 46 crianças teriam morrido em Portugal com hepatite B —, depois por ser, pelo menos até então, completamente desconhecido.

“Morreram 46 crianças com hepatite B, mas creio que todos concordam comigo quando digo que, mesmo que fosse só uma, seria uma batalha importante”, disse Jerónimo de Sousa, garantindo que, apesar de inscrita no Orçamento do Estado, a vacina para o vírus ainda não chegava a todas as famílias. “Quem tem dinheiro pode vacinar os filhos, quem não tem não pode”, acrescentou, acusando a falta de investimento do Governo no Sistema Nacional de Saúde (SNS).

Algumas horas, menos de 200 quilómetros e muitos pedidos de esclarecimento dos jornalistas depois, já no Alentejo, na Vidigueira, a declaração foi corrigida pelo próprio assessor: doença (e vacina) erradas, em vez de hepatite B o secretário-geral do PCP queria dizer meningite B. O esclarecimento repõe alguma, mas não toda a verdade.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2017 morreram em Portugal 37 pessoas com meningite (mais 2,8% do que no ano anterior) — sendo que nem as idades de quem morreu nem o tipo da doença, que pode ser viral, bacteriana, fúngica ou causada por parasitas, são determinados no boletim.

Já segundo o estudo Saúde Infantil e Juvenil Portugal, publicado pela Direção-Geral de Saúde (DGS) em dezembro de 2018, a doença é quase dada como erradicada: “Graças à vacinação as ‘meningites’ quase que desapareceram. Eram doenças frequentes, graves e mesmo letais durante a infância”. Entre 2008 e 2017 a meningite foi, ainda assim, uma das quatro mais frequentes causas de infeção que levaram a internamento — representou 1,7% dos diagnósticos; sepsis (79,7%), pneumonia (10,9%) e enterocolite necrosante (9,4%) foram as outras três.

São 12 as vacinas que constam do Plano Nacional de Vacinação — e que são por isso administradas de forma gratuita no SNS. A que previne a Hepatite B, de que Jerónimo de Sousa falou, está incluída no plano. A que imuniza contra a Meningite B, de que, segundo o seu assessor, queria falar, não (apenas as meningites provocadas por haemophilus influenzae b e por Neisseria meningitidis C estão contempladas).

No mercado desde 2014, a vacina para a meningite B, custa 98,36 euros por dose e pode exigir entre duas a quatro tomas (no mínimo, a inoculação custa 196,72 euros, no máximo 393,44 euros). Em 2018, o PCP apresentou e fez aprovar uma proposta para a inclusão da vacina, a mais cara em Portugal, no PNV (com os votos contra do PS e a abstenção do CDS). Um ano depois, a medida continua por concretizar.

Luís Varandas, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, explicou em junho, na comissão parlamentar de Saúde, que apesar de “rara” (surgirão cerca de 40 casos por ano em Portugal, disse), a meningite B é uma doença “potencialmente fatal em menos de 24 horas”. Ainda assim, o médico fixou entre dois ou três o número de crianças que anualmente morrem em Portugal com meningite B.

Conclusão

O secretário-geral do PCP não acertou nem no número de mortes, nem nas doenças: de acordo com os últimos dados estatísticos disponíveis, a meningite foi a causa de morte de 37 portugueses — crianças e adultos — em 2017. Sendo que nem a idade em que ocorreram os óbitos nem o tipo específico de meningite é revelado pelo INE. Há menos de quatro meses, em junho, o pediatra Luís Varandas foi à comissão parlamentar de Saúde, a convite do PCP, para falar sobre a vacina para a meningite B. Explicou que em Portugal todos os anos morrem entre 2 a 3 crianças com a doença.

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