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Como é que se pára uma invasão em Washington? |
“O quê?!” |
Foi esta a resposta que tive na passada quinta-feira de uma pessoa que, apercebi-me a meio da nossa conversa, nada sabia do que se tinha passado no Capitólio dos Estados Unidos na véspera. Primeiro veio o espanto do meu interlocutor. Depois o meu — e, a seguir, aquela sensação estranha, meio gratificante, de dar uma notícia daquelas em primeira mão, no mundo em que aquela pessoa vive. |
Então lá dei a notícia completa, mais ou menos assim: enquanto o Congresso certificava os resultados que ditaram a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, um grupo de apoiantes pró-Trump — que, momentos antes, o ouviram prometer “nunca concederemos” — invadiu o edifício, obrigou à suspensão das sessões que ali decorriam e tomou conta do coração da democracia norte-americana, onde congressistas e senadores se refugiaram com medo de não saírem dali com vida. |
“Eh, pá, tenho de ir ver isso!”, respondeu-me aquela pessoa e eu concordei. |
Agora que já passaram uns dias e já todos sabemos o que se passou a 6 de janeiro de 2021 em Washington D.C., aproveito para recordar outras duas ocasiões em que os edifícios do poder nos EUA estiveram tomados por outros que não os legítimos representantes do povo norte-americano. |
A primeira foi em guerra. Em 1814, Washington D.C. foi tomada pelo exército do Reino Unido, que, na altura, ainda não aceitava a independência proclamada 38 anos antes pelos EUA. Aquele foi certamente um dos maiores êxitos britânicos na guerra que começara em 1812 e só viria a terminar em 1815 — afinal de contas, as tropas colonialistas conseguiram invadir a Casa Branca (a primeira e única vez que isso aconteceu) e o Capitólio (a primeira e única até esta quarta-feira), pegando fogo àqueles dois edifícios e ao resto da cidade. |
Por isso, está bom de ver que aquele êxito foi grande — o que, ainda assim, não quer dizer que tenha sido duradouro. Na verdade, foi relativamente curto: a ocupação britânica de Washington D.C. em 1814 durou apenas 26 horas. E tudo por causa de uma tempestade que não só apagou os fogos como assustou os britânicos ao ponto de baterem em retirada. Desse momento, ficou no imaginário norte-americano uma suposta e muito provavelmente apócrifa conversa (não há registo fidedigno de que ela tenha acontecido) entre um almirante britânico e uma mulher norte-americana que permaneceu em Washington D.C., apesar de tudo o que se passara naqueles dias. “Meu Deus, senhora! O tempo é sempre assim neste país infernal?”, terá perguntado o tal almirante. A resposta, reza a lenda, foi algo assim: “Não, senhor, isto é uma intervenção especial da providência divina para afastar o inimigo da nossa cidade”. |
A segunda ocasião em que o centro do poder norte-americano foi tomado por uma turba não foi muitos anos depois — e tem como protagonista um presidente que, à sua época, assumiu muitas das ideias e a forma de estar na política que, até aqui, Donald Trump tem aplicado no século XXI. E até foi numa ocasião insuspeita: a tomada de posse do Presidente Andrew Jackson, a 4 de março de 1829. |
Andrew Jackson fora eleito meses antes, envolto na aura de herói da Guerra de 1812 (essa mesmo, sim), na qual, enquanto general, desempenhou um papel decisivo na defesa de Nova Orleães. Quando se candidatou, Jackson apresentou-se como um “homem comum” — e aí não enganava, porque, embora fosse milionário na altura da sua candidatura, também é certo que nasceu pobre, tendo sido o primeiro Presidente dos EUA a nascer numa cabana de madeira. Esse relato foi utilizado pelo próprio para fazer avançar uma retórica não raras vezes populista, defendendo frequentemente uma conceção sui generis da democracia, ao dizer coisas como “um homem corajoso faz uma maioria”. |
Mais sui generis do que isso foi a tomada de posse. Pela primeira vez, um Presidente assumiu o cargo discursando em frente a uma multidão às portas do Capitólio e não lá dentro ou noutro espaço fechado. Em antecipação daquele momento, juntaram-se aquilo que se estima terem sido 20 mil pessoas. “Milhares e milhares de pessoas, sem distinção de categoria, juntaram-se numa tremenda massa em torno do Capitólio, em silêncio, ordeira e tranquilamente, com os seus olhos fixos na fachada do edifício, à espera que aparecesse o Presidente”, escreveu à altura Margaret Bayard Smith, uma socialite de Washington D.C. daquela época. |
O que aconteceu depois é que foi o oposto desse tal “silêncio”. Quando Andrew Jackson terminou o seu discurso, saiu em direção da Casa Branca, onde estava prevista uma festa privada. Mas, nesse momento, ansiosos por se aproximarem do Presidente, muitos naquela multidão seguiram a carruagem de Jackson e só pararam já dentro da Casa Branca. |
“Homens do campo, agricultores, gentlemen, a cavalo ou a pé, rapazes, mulheres e crianças, negros e brancos. Carruagens, vagões, carroças, todos atrás do Presidente até à sua casa”, escreveu Margaret Bayard Smith. Quando este chegou à Casa Branca, a multidão seguiu com ele e, no afã de chegarem perto do “homem comum”, deixaram a o edifício num caos. Houve cenas de pancadaria, móveis destruídos e outros saqueados, tudo enquanto mais e mais pessoas entravam, sem que a polícia pudesse pará-los. |
Encurralado a um canto, Andrew Jackson acabou por escapar por uma janela, de maneira a não ser esmagado por aquela multidão. Acabou por passar a noite num hotel, para sua segurança. Ainda assim, a tarefa de retirar aquela turba da Casa Branca foi inesperadamente fácil: o mordomo da Casa Branca, Antoine Michel Giusta, um belga que desertara do exército de Napoleão, anunciou à multidão que ia ser servido uísque traçado na rua. |
Portanto, respondendo à pergunta inicial desta newsletter, em Washington D.C. já foi possível parar turbas com mau tempo ou com uísque. Em 2021, valeu a força das instituições, apesar das provas a que têm sido sujeitas. |
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Nota: A passada sexta-feira, 8 de janeiro, foi o meu último dia na redação do Observador. Apesar da minha saída, esta e as próximas duas newsletters contam com contributos meus que foram escritos previamente à minha saída do jornal. Aos leitores que têm seguido este trabalho agradeço a companhia, a leitura atenta e o feedback que me têm feito chegar. Agradeço também à direção do Observador por me ter confiado este formato. Creio que, para quem me foi lendo, ficou claro que me diverti muito. |
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Histórias do passado de Joe Biden e Kamala Harris |
O tema do consumo de marijuana por presidentes e presidenciáveis já não é novo — e há até uma página de Wikipedia dedicada à questão. Ali lê-se que quatro ex-presidentes e Pais Fundadores dos EUA (George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e James Madison) cultivaram cânhamo, a planta que dá origem à droga. E sabe-se que Barack Obama foi também o primeiro a admitir publicamente que, na sua juventude, fumava cannabis com regularidade. |
Por isso, não houve grande novidade quando Kamala Harris, em 2019, altura em que concorria às primárias do Partido Democrata, disse numa entrevista que fumou erva durante o seu tempo na universidade. Ainda assim, mesmo não havendo novidades, houve problemas — e não foram poucos. |
Primeiro problema: ao dizer que não só tinha fumado como era a favor da legalização daquela substância, procurou validar o seu ponto, fazendo referência à família do lado do pai. “Eu até digo, meio a brincar, que metade da família é da Jamaica. Estão a brincar comigo ou quê?”, disse, a rir. Era uma tirada aparentemente inofensiva, mas o pai não gostou. Afastado da vida da sua filha desde que esta era criança, Donald J. Harris reagiu dizendo que os seus pais estariam “a dar voltas na campa ao verem o seu nome, a sua reputação e sua identidade jamaicana relacionada, a brincar ou a sério, com o estereótipo fraudulento de quem fuma erva alegremente numa busca por uma política identitária”. |
Segundo problema: quando lhe perguntaram que música ouvia enquanto fumava erva na universidade, respondeu com opções como Tupac ou Snoop Dogg. A questão é que Kamala Harris deixou de estudar em 1989 e aqueles dois rappers lançaram os seus primeiros álbuns só em 1991 e 1993, respetivamente. |
Terceiro e último problema: enquanto procuradora na Califórnia, Kamala Harris foi particularmente dura perante casos de posse de drogas leves, impondo, por exemplo, o valor máximo de fiança a quem cometesse esse tipo de crime. Essa incongruência foi-lhe apontada num dos debates entre democratas pela congressista havaiana Tulsi Gabbard: “Ela prendeu mais de 1.500 pessoas por crimes relacionados com marijuana e depois riu-se quando lhe perguntaram se já tinha fumado marijuana”. |
Derrick DeMelo, comediante: “A comédia acaba por tornar a política menos intragável” |
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Derrick DeMelo faz parte do duo de comédia “Portuguese Kids”, um projeto sediado em Fall River e que, como ninguém, utiliza o humor para retratar a comunidade luso-americana que vive naquela zona. “Isto é a Meca de Portugal”, diz, numa conversa por Skype a partir de Fall River, onde nasceu e ainda hoje vive. Cresceu a falar português em casa e só aprendeu inglês na escola — a mãe bem lhe dizia, em casa, que “aqui é português, lá fora é inglês”. Quem já viu os sketches dos “Portuguese Kids” sabe que situações como esta são a fonte de grande parte do humor deste duo, que sempre quis celebrar a cultura luso-americana. Porém, às vezes há quem se ofenda. Falámos sobre isto e sobre as interseções da política e da comédia — mesmo quando estas acontecem de forma inadvertida — no penúltimo dia de 2020. |
Sente que nos últimos quatro anos a comédia se tornou mais politizada?
Sim, diria que sim. E a nós isso levou-nos a hesitar quanto a navegarmos nessas águas, porque hoje em dia tudo é politizado. Por causa de Trump ser tão polarizante, há gente que faz comédia porque o odeia e outros que fazem comédia porque o amam. É uma rua com dois sentidos. Não vou dizer que a política e a comédia se tenham fundido, mas, se olharmos para os programas de comédia mais conhecidos, hoje em dia são muito políticos. O Stephen Colbert, por exemplo, é 90% política. A comédia acaba por tornar a política menos intragável. |
Falou de Stephen Colbert, mas isso passa-se com muitos outros: Jimmy Fallon, Jimmy Kimmel ou até o Conan O’Brien. O vosso trabalho não é político, mas o que diz em relação a esta tendência que identifica?
É uma questão do espetáculo que se quer fazer — quem quiser ir por aí, para mim não há problema. Quanto a nós, não estamos na posição do Stephen Colbert ou do Conan O’Brien. Eles podem tomar a decisão em termos financeiros de alienar uma porção enorme dos seus fãs, mas nós nunca poderíamos fazer isso. Portanto, às pessoas que gostam de Trump e nos querem dar 20 dólares para ver o nosso espetáculo, tenho a dizer: bem-vindos. Não gosto de Trump, não votei nele e não acho que seja o Presidente ideal. Eu não estou registado como democrata, sou independente — odeio todos os políticos da mesma forma. E não gosto de Trump. Mas não faço comédia sobre isso porque sei que muitos dos meus fãs gostam dele. Nós tentamos ao máximo mantermo-nos relevantes em torno da cultural pop, ao mesmo tempo que nos mantemos de fora da política. |
Houve alguma ocasião em que, sem querer, e sem que vocês sequer pensassem nisso, o vosso trabalho fosse interpretado como tendencioso a nível político?
Em três ocasiões. A primeira foi quando encabeçámos uma iniciativa na Califórnia para os portugueses votarem, porque a comunidade luso-americana era das que menos votava — e houve logo gente que nos acusou de estarmos a escolher um lado, quando nós dizíamos “votem em quem quer que seja!”. A segunda foi numa iniciativa da PALCUS [associação cívica luso-americana], que nos pediu para partilhar uma campanha que era a “Make Portuguese Count2, para garantir que a população portuguesa se identificava como tal nos censos, que foram este ano. Para isso, bastava que escrevessem que eram portugueses. Oh, o que é que nós fomos fazer! Houve logo gente a dizer: “Antes de tudo o resto eu sou americano!”. Nós respondíamos: “Sim, nós sabemos, mas há portugueses a viver na América e nós queremos saber quantas pessoas de cultura portuguesa vivem na América”. Isto foi a malta de Trump. E a terceira vez foi depois da morte de George Floyd, em que pusemos um post a favor do Black Lives Matter — o que acabou por ser o maior erro das nossas vidas. Eu pensei: “Claramente ele morreu, foi morto. Isso não vos irrita, como americanos?” Fiquei… uau! Depois desse post disse ao meu colega Brian: “Tenho pena de dizer isto, mas nós temos fãs racistas”. E talvez até não sejam racistas, mas não têm noção daquilo que os afro-americanos sofrem neste país. O que é uma pena, porque, enquanto imigrantes, nós temos experiências um pouco semelhantes. O meu pai, quando chegou cá, foi discriminado porque não falava inglês, porque trabalhava mais do que os outros, chamaram-lhe todo o tipo de nomes. Não diria que me identifico com a vida de um negro, isso seria absurdo, mas, de uma certa forma, vejo que o meu pai viveu uma pequena parte disso. E ele é branco, nem consigo imaginar como seria se ele fosse negro. |
Queria perguntar-lhe precisamente sobre os sketches que faz sobre as gerações mais velhas de imigrantes. Muitas das vossas piadas são sobre hábitos de outros gerações, dos pais à “avó Maria”. Alguma vez arranjaram problemas com isto? Calculo que a geração dos vossos pais se possa ter ofendido um pouco com isto.
No início recebemos muito mais críticas do que hoje em dia, porque as pessoas não entendiam bem o que estávamos a fazer e ficavam ofendidas por nós falarmos com sotaque. Mas agora já fazemos isto há mais de 10 anos e as pessoas entendem: nós não estamos a gozar com as pessoas de Portugal. Nos espetáculos que nós damos é muito comum, mesmo muito comum, ver três gerações sentadas à mesma mesa: os avós, os pais e os netos. E muitos dos miúdos deixam-se levar por aquilo. Já houve gente que nos veio dizer: “O meu filho adora ser português por causa de vocês”. E agora estas pessoas já pensam “é verdade que eles puxam do sotaque, mas ao menos a minha filha agora quer aprender português”. Estamos a dar a conhecer a cultura à terceira e quarta geração de imigrantes, estamos a criar uma nova ligação. Não só na nossa comédia, mas também no nosso site, www.shopportuguese.com, onde podem comprar chouriço ou pastéis de nata. |
Até parece mentira, mas ainda não falámos da pandemia. Tratemos disso agora: de que forma é que ela afetou o vosso trabalho? Calculo que estejam a fazer menos espetáculos…
Afetou muito, muito mesmo. Tem sido muito negativo. Nós damos espetáculos o ano inteiro, a maior parte até costuma ser no outono. Felizmente temos conseguido sobreviver por causa do nosso site, que nos tem permitido pagar as contas. Porque a comédia é o nosso único emprego há já sete anos. Mas o site tem-nos permitido ter algum conforto — não é que esteja perto de aumentar o meu salário, mas sempre dá para pagar as contas e as nossas mulheres também trabalham lá. Mas assim que esta pandemia acabar vamos de certeza fazer uma grande tour. A parte boa é que tem dado para relaxar durante o ano inteiro e para passar mais tempo com os meus filhos. Mas obviamente que tenho saudades da nossa família e dos nossos amigos na estrada. |
O que aconteceu esta semana |
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- Sessão do Congresso para a confirmação da vitória de Biden interrompida por apoiantes pró-Trump após comício do Presidente
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Centenas de apoiantes de Donald Trump invadiram o Capitólio dos EUA enquanto as duas câmaras do Congresso se reuniam naquele edifício histórico para validarem os resultados do Colégio Eleitoral, que deu a vitória a Joe Biden a 14 de dezembro. |
A invasão aconteceu depois de Trump ter discursado perante milhares dos seus apoiantes, num comício feito entre a Casa Branca e o Capitólio. O Presidente rejeitou a derrota, insistiu na tese sem fundamento de ter havido fraude eleitoral e prometeu: “Nunca desistiremos. Nunca concederemos”. |
Durante o discurso, também pressionou o vice-Presidente, Mike Pence, a anular os resultados eleitorais, já que, na qualidade de presidente do Senado, coube-lhe a direção dos trabalhos no Capitólio. Porém, já com a sessão a decorrer, Mike Pence publicou uma carta em que rejeitava ter a “autoridade unilateral” de interferir naquele processo balizado e consagrado pela Constituição. |
Pouco depois, a invasão do Capitólio obrigou à suspensão dos trabalhos. Donald Trump demorou a condenar aqueles atos — o primeiro post que fez no Twitter desde que a invasão começou foi para acusar Mike Pence de não ter tido “coragem”. Nos dois tweets seguintes pediu aos seus apoiantes para agirem pacificamente. Só duas horas depois do início da invasão, ao quarto tweet e após uma exigência de Joe Biden, que discursou pelo meio, é que disse aos seus apoiantes para irem “para casa”. Ainda assim, acrescentou: “Nós amamos-vos, vocês são especiais”. Mais tarde, as contas de Twitter, Facebook e Instagram de Trump viriam a ser suspensas por veicularem informações falsas e poderem incitar à violência. |
Pouco mais de seis horas depois do início da invasão, o Capitólio estava já sem invasores e as sessões foram retomadas. No final, entre os 14 senadores republicanos que, ao início do dia, se diziam prontos para colocar objeções aos resultados, só o republicano do Missouri Josh Hawley manteve essa posição, ao questionar os resultados da Pensilvânia. Às 3h45 locais (8h45 de Lisboa), após todas as deliberações necessárias das duas câmaras, Mike Pence certificou a vitória de Joe Biden e de Kamala Harris. |
A invasão do Capitólio levou à morte de pelo menos cinco pessoas, incluindo um polícia daquele edifício. |
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- Trump recuou e aceitou transferência pacífica do poder, mas democratas já avançaram com impeachment
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Na quinta-feira à noite, com a vitória de Joe Biden oficializada pelo Congresso, Donald Trump recuperou (temporariamente) o controlo da sua conta de Twitter e publicou um vídeo onde, contrariando a sua posição anterior, condenou a invasão ao Capitólio e abriu espaço para a transição para a administração de Joe Biden. Ainda assim, está tudo preparado para que Trump seja alvo de um segundo impeachment. |
“Uma nova administração vai tomar posse a 20 de janeiro”, disse. “O meu foco agora é garantir uma transição de poder suave e ordeira. Este momento exige reconciliação.” |
Esta semana, a primeira-dama, Melania Trump, juntou-se ao marido. “A nossa nação deve curar-se de uma maneira civilizada. Não se enganem, condeno completamente a violência que aconteceu no Capitólio. A violência nunca é aceitável”, escreveu Melania numa mensagem de despedida da Casa Branca. |
Sobre os seus apoiantes que invadiram o Capitólio e destruíram em grande escala o interior do edifício, Trump mudou o discurso em relação ao que dissera na véspera. “Os manifestantes que infiltraram a capital conspurcaram a sede da democracia”, referiu, num discurso com recurso a teleponto. |
Este discurso surgiu depois de a equipa de Donald Trump ter assistido a uma catadupa de demissões: a secretária de Educação, Betsy DeVos; a secretária dos Transportes, Elaine Chao; a vice-porta-voz da Casa Branca; entre outros. Na imprensa foram surgindo vários relatos de que a possibilidade de ser invocada a 25.ª Emenda dos EUA (que permite, através de uma votação dos membros do governo em conjunto com o vice-Presidente, destituir o Presidente por “incapacidade”) chegou a ser discutida e continua a ser ponderada por algumas pessoas que fazem parte da administração de Donald Trump. |
Em paralelo, os dois líderes democratas no Congresso (Nancy Pelosi, na Câmara dos Representantes; e Chuck Schumer, no Senado) defenderam um novo impeachment contra Trump. No fim-de-semana, Pelosi fez mesmo um ultimato: se o vice-presidente Mike Pence não avançasse com a invocação da 25.ª Emenda em 24 horas, o Congresso estava pronto para o impeachment. E foi mesmo isso que aconteceu esta segunda-feira. Os democratas apresentaram a proposta de resolução com a qual pretendem que o Congresso acuse Donald Trump de “incitamento à insurreição” — pelo discurso que fez antes da invasão do Capitólio. A resolução poderá ir a votos no Congresso ainda esta terça-feira e Trump poderá tornar-se no primeiro Presidente da história americana a ser alvo de impeachment duas vezes. |
Apesar de ter condenado a violência na invasão do Capitólio e, finalmente, reconhecido que Joe Biden será o próximo Presidente dos EUA, Trump anunciou na sexta-feira que não vai estar presente na tomada de posse do democrata. O tweet em que deu a notícia seria um dos seus últimos: no mesmo dia, a rede social anunciou a suspensão definitiva da conta de Trump, considerando que o Presidente a estava a usar como forma de incitar à violência e de legitimar os protestos. |
Por seu turno, o vice-presidente, Mike Pence, confirmou que vai estar presente na tomada de posse de Biden. |
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- Democratas vencem eleições na Geórgia e ganham maioria no Senado
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Na terça-feira, 5 de janeiro, a Geórgia votou na segunda volta das eleições para o Senado, depois de nenhum candidato ter conquistado mais de 50% dos votos nas eleições de 3 de novembro, conforme se exige na Constituição estadual. Os resultados ditaram a eleição de dois democratas: Jon Ossoff, que bateu o senador republicano David Perdue por 0,8 pontos percentuais; e Raphael Warnock, que superou a senadora Kelly Loeffler por 1,6. |
Com estes resultados, o Senado passará a ter 50 republicanos de um lado e 48 democratas do outro, aos quais se aliam dois independentes. As contas são, de qualquer modo, favoráveis para os democratas, uma vez que, em caso de desempate, será chamada a votar a vice-Presidente eleita, Kamala Harris. |
Desta forma, o Partido Democrata passará a controlar os três ramos de governação federal dos EUA: a Casa Branca (conquistada nas eleições presidenciais), a Câmara dos Representantes (onde estão em maioria desde as intercalares de 2018) e agora o Senado. |
* Com João Francisco Gomes |
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os nossos especiais
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Eleições EUA
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Após ouvirem Trump a dizer "nunca desistiremos", uma turba invadiu o Capitólio e sequestrou até o vice-Presidente. Trump defendeu-os: "Amamos-vos". Já poucos falam com ele, mas nem todos o abandonam.
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Eleições EUA
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O Partido Democrata norte-americano já apresentou, no Congresso, a acusação pela qual Donald Trump deverá ser julgado: incitamento à insurreição. Faltam 9 dias para o fim do mandato de Trump.
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Estados Unidos da América
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Foram precisas cerca de três horas e um quarto para que as autoridades retomassem o controlo do Capitólio, edifício central da democracia americana. Este é o filme do que aconteceu, passo a passo.
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Rádio Observador
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O golpe republicano pode não passar, mas traz prejuízos para o partido — e até para Pence. Esta semana apostamos nos disparates, temos divórcios presidenciais e memórias de infância criativas
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o que se escreve lá fora
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