A última sondagem realizada pela Academia Nacional Ucraniana das Ciências Pedagógicas dá uma vitória clara a Petro Poroshenko na primeira volta das presidenciais de hoje, domingo, com mais de 45% das intenções votos. Um cenário que deixa a ex-primeira-ministra Iulia Timoshenko num segundo lugar distante, com apenas 13,3% da contagem. A confirmar-se o panorama, as eleições presidenciais ucranianas podem nem precisar da segunda volta no dia 15 de junho e o empresário do ramo do chocolate torna-se o próximo presidente da Ucrânia.
Com uma postura calma, discurso articulado e fluente em inglês, Poroshenko tem muito pouco a ver com o presidente deposto Viktor Ianukovich. Já foi ministro dos Negócios Estrangeiros e da Economia, pelo que não é novato na muito agitada política ucraniana. Mas por alguma razão conseguiu escapar à vaga de impopularidade que invadiu a classe de governantes, acusada de corrupção generalizada, e no espaço de dois meses escalou rumo à liderança.
Nas últimas semanas, a imprensa internacional dedicou-lhe vários textos. Aqui ficam alguns dos pontos que ajudam a perceber o estranho caso de popularidade de Petro Poroshenko.
- Hábil posicionamento político – a popularidade de Poroshenko passa em grande medida pelo seu hábil posicionamento político: esteve na Euromaidan mas não foi nenhum dos três nomes mais proeminentes da oposição a Ianukovich. Ou seja, deixou os holofotes ao longe. “Poroshenko esteve ao lado dos manifestantes em Kiev, mas conseguiu escapar às decisões impopulares”, diz ao The Guardian Olexi Haran, professor de políticas comparativas na capital ucraniana. “Criou em torno de si uma imagem de equilíbrio, razoabilidade e sucesso”, tendo o cuidado de não extremar posições. “Percebam que a Euromaidan não é um movimento contra a Rússia, mas sim contra a União Soviética”, chegou a dizer o agora candidato à presidência.
- Percurso político em duas frentes – Foi co-fundador do Partido das Regiões – o partido pró-Rússia de Viktor Ianukovich, mas em 2002 integrou o partido ‘A Nossa Ucrânia’ do rival Viktor Iushchenko. Em 2004 esteve na frente da Revolução Laranja que impediu Ianukovich de ganhar as eleições de forma fraudulenta, e tornou-se ministro de Iushchenko, de quem ainda é muito próximo. Mas quando a coligação Laranja caiu acabou por aceitar a proposta de Viktor Ianukovich, em 2009-2010, para ficar com a pasta da Economia. Nesta candidatura segue como independente, mas conta com o apoio da Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma (Udar), partido que apoia fortemente a aproximação à Europa.
- Religião é garante de popularidade – Poroshenko é membro da Igreja católica ortodoxa, tendo mesmo financiado o restauro de alguns mosteiros, e em atos públicos é frequentemente visto com um crucifixo. Um factor que pode dar-lhe vantagem face aos outros candidatos, especialmente entre o eleitorado mais modesto.
- ‘Rei do chocolate’ – Criou a empresa Roshen em 1996 e desde então dirige a produção de chocolates em fábricas ao longo da Ucrânia, Rússia, Lituânia e Hungria. O chocolate é um ramo que o deixa fora dos grandes escândalos, o que provavelmente não aconteceria se gerisse grandes empresas do setor energético (petróleo e gás natural), como acontece com a maioria dos grandes empresários ucranianos.
- Salvador da economia – Licenciado em economia, muito vêem Poroshenko como um nome possível para reformar o sistema económico ucraniano, apesar dos desafios que quem for eleito terá pela frente. “Se um país tem de lidar com a Rússia como um igual, tem de ser um país forte”, disse Poroshenko no último fim de semana.
Além de conseguir reunir alguma popularidade entre os mais de 30 milhões de ucranianos que este domingo vão às urnas, há mesmo quem diga que a vitória de Poroshenko também é do agrado do presidente russo Vladimir Putin. Ou, pelo menos, que Putin está a ver no magnata do chocolate uma hipótese melhor do que a ex-primeira-ministra Iulia Timoshenko. Apesar de ter defendido os protestos pró-Europa em Kiev, Poroshenko também é conhecido por ter boas relações com Rússia.
Ainda assim, Petro Poroshenko já teve de pagar um preço alto pelas suas visões pró-ocidentais. Moscovo chegou a proibir a circulação dos chocolates Roshen, alegadamente por serem prejudiciais à saúde; este ano a polícia de choque russa fechou uma das suas fábricas no sul da Rússia, e, quando a Crimeia foi anexada à Rússia, a empresa perdeu o seu estaleiro no porto de Sevastopol.